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Timberlake, o que é
que fizeste ao MySpace?
Apareceu-me um anúncio ao novo single de Justin Timberlake, Suit & Tie, e lembrei-me que ele fez parte do consórcio que comprou o MySpace. Timberlake, o artista, actor e investidor, costuma ter sucesso em tudo o que faz. Por curiosidade, fui à rede social ver o que se passava. Não reconheci absolutamente nada.
A minha conta foi migrada
para a nova plataforma, que custou cerca de 15 milhões de euros, e tudo o
que eu tinha antes desapareceu. Mensagens, foi um ar que lhes deu;
publicações, era uma vez; nem as fotos sobreviveram à viagem. Sobraram
19 amigos, ou ligações como lhe chamam agora. Tudo bem, não era rede que
usasse com frequência, portanto não me chateou muito. O mesmo não dirão
os utilizadores frequentes.
Francamente, o novo MySpace
parece um derivado de pedaços do Google+, Windows 8 e Spotify, tudo
misturado. O design está bom, mas muito diferente do que era antes, e
todo o histórico desapareceu. Timberlake, que se passou? O que fizeste
ao MySpace?
Percebe-se a
necessidade de actualizar a plataforma e aproveitar aquilo que sempre
foi a sua força, a música. A ideia é atrair novos utilizadores, aqueles
que nunca tiveram perfil na rede e que se calhar estão fartos do
Facebook, por exemplo. Só que há 25 milhões de pessoas que continuam a
utilizar o MySpace, os fãs que resistiram a tudo. Tirar-lhes anos de
publicações, fotos, comentários, vídeos e blogues em prol de um visual
janota é um erro tremendo. Ainda mais sem qualquer aviso prévio.
Os
utilizadores que se revoltaram obtiveram uma resposta oficial do
MySpace, que diz o seguinte: “A mudança não é fácil e há muitas coisas a
acontecer. Compreendemos que esta informação é muito importante para
vocês. Por favor entendam que os vossos blogues não foram apagados. Os
vossos conteúdos estão salvaguardados e temos estado a discutir as
melhores formas de vos devolver os vossos blogues.”
Certo.
O problema é que pode ser tarde demais quando chegarem a uma solução.
No “Ask MySpace” há uma publicação intitulada “ I want my blogs and
classic MySpace back” e dezenas de outras com queixas de utilizadores.
“Partilhei
abertamente momentos íntimos que não podem ser revividos ou recontados,
porque foram vividos. Eu revisitava o meu MySpace religiosamente por
causa dos meus blogues... o MySpace deu a última facada nas costas”,
escreveu um. “Mantivemo-nos fieis quando o MySpace quase se afundou”,
escreveu outro, “porque é que nos tiraram os jogos?”. E uma utilizadora
limitou-se a isto: “DEVOLVAM AS MINHAS FOTOS.” Sem pontuação nem
bonecada, para saberem que está mesmo zangada.
Por
mais dificuldades que a equipa que está a tentar reavivar o MySpace
enfrente, e compreendo que deve ser difícil, não percebo como é que
acharam que limpar as contas de toda a gente ia ser pacífico. No mínimo,
tinham avisado com antecedência, garantindo que tudo estava guardado e
ia ser devolvido. A não ser que não soubessem que o historial seria
formatado. O que é bastante mais grave.
Quem
nunca teve conta no MySpace talvez ache o site bastante interessante,
apesar de ser um pouco estranho ao início – não se percebe onde é a
pesquisa, onde é o stream, onde se escrevem actualizações. Mas se nunca
experimentou a versão antiga, não vai ter choque nenhum. Até pode
inscrever-se sem grandes demoras usando a conta do Twitter ou a do
Facebook, e usar o site para ouvir música.
Para
quem estava habituado à versão antiga, a novidade cai mal. Não é por
ser diferente, é porque apagou a história – e essa, sem dúvida, era a
grande força do MySpace.
IN "DINHEIRO VIVO"
08/08/13
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