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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
30/07/13
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Irritações
Nos últimos tempos, houve coisas que me mexeram com os nervos. Partilho algumas.
Irrita-me, desde logo, a forma, entre o insolente e o
incompetente, como a ministra das Finanças tem gerido o dossiê dos
swaps. Já todos percebemos que a sua defesa assenta nas vírgulas e
preposições do que disse, algo tanto mais ridículo quanto, num primeiro
momento, tentou fazer do tema uma arma de arremesso contra o governo de
Sócrates. Aprendiz de feiticeira terá, ao que parece, agradado ao chefe,
que a promoveu, e tem pactuado com a forma amadora como o assunto tem
sido gerido. Com as contas e finanças públicas a exigirem todo o esforço
e atenção, irrita assistir ao prolongar deste folhetim que terminaria
se houvesse a humildade para reconhecer o erro.
Como é hábito, a
comunicação social vai mantendo a matéria em agenda, libertando
informação à medida das conveniências. Faz o seu papel. Com frequência,
os títulos, a puxar para o soundbite, pouco têm a ver com o conteúdo.
Uma prática que cria hábitos. Maus hábitos. A certa altura o título é
tudo. O fim-de-semana trouxe-nos mais um exemplo: o relatório do
Tribunal de Contas sobre as PPP na saúde. Faltaria contabilizar uns 6
mil milhões de euros. Está lá dito. Como está, mesmo no sumário
executivo, que esses cálculos ignoram uma coisa muito simples: se os
tais serviços de saúde fossem prestados por outros meios, no caso, por
hospitais de gestão estatal, haveria também custos a suportar, não sendo
claro se seriam maiores ou menores. Não é isso que a notícia insinua e,
estou em crer, não por incompetência. Numa altura em que se exige
serenidade na discussão, esta busca constante do sensacionalismo
primário, desinforma (serve a quem?) e radicaliza o debate, fazendo-o
assentar numa base falsa. A persistência da prática, para além de
irritante, é perigosa.
Como exaspera a cobertura desmesurada dada a
qualquer ajuntamento, por menor que seja, desde que de contestação e,
sobretudo, de promoção das causas ditas fracturantes. Vinte pessoas a
insultar um ministro é notícia, como são dez carros a apitar contra as
portagens. Enquanto presidente, Sampaio irritou-se com a cobertura dada
aos boicotes eleitorais. Quando os media não apareceram, os protestos
tiveram de encontrar formas legítimas de se exprimir. Não quero com isto
dizer que não haja causas minoritárias que merecem divulgação e
justificam notícia. Há muitas e boas, quase todas nos antípodas do
exibicionismo encenado para uma comunicação social cúmplice ou
bacocamente deslumbrada. Ainda se fosse só um fenómeno da silly season.
Sinal
dos tempos, vai ser essa a estação durante a qual o Tribunal
Constitucional (TC) irá emitir o seu parecer sobre as candidaturas de
autarcas que completaram três mandatos noutra autarquia. Não percebo os
argumentos do TC para terem adiado o seu pronunciamento. Formalmente, os
doutos juízes terão, por certo, razão. Pouco me importa que essa demora
ponha os nervos em franja aos putativos candidatos e, nem sequer, que
venha a ter consequências partidárias. Afinal os partidos puseram-se a
jeito. O que está em causa vai muito para além desse jogo. Aquela
postura formalista desrespeita os eleitores e será mais uma acha na
fogueira onde arde a democracia. Já não bastavam as tricas partidárias
que impediram a Assembleia da República de se pronunciar. Faltava-nos o
Tribunal Constitucional ajudar à festa. Arre!
Para acabar uma
irritação menor. Um destes dias recorri ao transporte aéreo na ligação
Porto-Lisboa. Depois de um voo de 35 minutos, depositaram-me no extremo
do novo e ampliado aeroporto. Seguiu-se uma caminhada de uns 10 minutos,
em que pude admirar a obra, e que desembocou em território conhecido: a
parte onde o autocarro nos deixava e por onde se saía e continua a
sair. Agradeço o cuidado da ANA com a minha saúde, facultando-me as
condições para uma boa caminhada. Gostei das novas instalações. Mas,
será que podem voltar à rotina anterior e deixar-nos mais perto da
saída? A maioria dos que fazem esta ligação, num sentido ou no outro,
prefere um serviço expedito ao passeio higiénico, mesmo que em ambiente
requintado.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
30/07/13
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