HOJE NO
"PÚBLICO"
Vítor Gaspar e Carlos Costa
citaram estudo com erro no Excel
para defender corte na dívida
À semelhança de vários outros políticos na Europa e nos Estados
Unidos, Vítor Gaspar e Carlos Costa usaram as conclusões do agora
polémico estudo de Keneth Rogoff e Carmen Reinhart como argumento para a
aplicação de políticas de austeridade que reduzam rapidamente a dívida
pública.
O estudo – publicado em 2010 e intitulado Growth in a time of debt
(Crescimento num tempo de dívida) – conclui que os países com dívidas
públicas acima de 90% do PIB registam taxas de crescimento bastante mais
baixas. Tem sido, nos últimos três anos citado com muita frequência
para justificar a necessidade de os países avançarem para políticas
ambiciosas de consolidação orçamental. No entanto, três economistas detectaram recentemente erros nos cálculos efectuados por Rogoff e Reinhart, incluindo uma falha na folha de cálculo de Excel que retirou das conclusões do estudo três países.
EXCEL ERRADO |
Em
Portugal, um país que nos últimos anos tem sido palco de uma política
de forte austeridade, o estudo de Rogoff e Reinhart também fez parte das
leituras dos governantes. O ministro das Finanças, por exemplo, referiu
o trabalho de investigação em causa numa intervenção pública realizada
em Berlim no dia 21 de Novembro de 2012 para defender precisamente a
ideia de que “uma dívida pública alta pode baixar o crescimento
económico”, como mostra a apresentação em powerpoint do discurso disponível na página de internet do Governo.
Vítor
Gaspar, que cita também outros estudos, referiu ainda quais os canais
através dos quais a ligação entre dívida e crescimento se processa: um
prémio de risco endógeno e a possibilidade de um default de
dívida pública, os efeitos da incerteza na inovação e na acumulação de
factores, a instabilidade financeira e uma disrupção geral do sistema
financeiro e os limites políticos à tributação e a distorção associada à
tributação.
O governador do Banco de Portugal, por sua vez,
também tem citado o estudo em causa em diversas ocasiões. Numa
intervenção realizada em Abril de 2011, afirmou, ao falar dos elevados
níveis de dívida pública atingidos em Portugal, que “a situação é
agravada pelo facto do nível de endividamento atingido constituir ele
próprio um entrave ao crescimento”.
“Um estudo de Carmen Reinhart e
Keneth Rogoff, cobrindo 200 anos de história e 44 países com regimes
económicos e níveis de desenvolvimento muito diferentes, conclui que,
para rácios de dívida acima de 90%, o crescimento do PIB tende a ser
significativamente menor”, citou na altura.
Na sequência do estudo
agora publicado e que defende a existência de erros graves nos cálculos
de Rogoff e Reinhart que põe em causa as suas conclusões, os
economistas mais críticos das políticas de austeridade têm vindo a
assinalar a fragilidade dos argumentos usados para suportar a estratégia
seguida em muitas zonas do Globo e, em especial, na periferia da zona
euro.
Ontem, Keneth Rogoff e Carmen Reinhart publicaram uma
resposta. Nela, assumem o erro de Excel que está presente nos seus
estudos mas defendem que as outras duas falhas identificadas pelo estudo
que os critica não são justas. Acabam por reafirmar que a sua conclusão
– de que existe uma correlação entre dívidas públicas acima de 90% do
PIB e taxas de crescimento mais baixas – se confirma.
* Ontem levantámos a hipótese de serem Carmen Reinhart e
Keneth Rogoff os "gurus" de Vítor Gaspar não imaginávamos é que o sr. Governador do Banco de Portugal lesse a mesma cartilha.
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