O amor dela e ela
“Ninguém tem nada a ver com isso, ninguém tem nada a ver com isso, a não ser o meu amor e eu”
Ando hipnotizada com o refrão de “Nobody’s Business”, de Rihanna com
Chris Brown, que diz que “ninguém tem nada a ver com isso, ninguém tem
nada a ver com isso, a não ser o meu amor e eu”. O tema é um comentário
ao caso de violência doméstica do qual Rihanna foi vítima há quatro
anos. Em Agosto de 2009, Chris Brown admitiu a culpa e foi condenado a
uma pena de cinco anos de prisão com pena suspensa e a 1400 horas de
trabalho comunitário. Rihanna foi, na altura, testemunha de acusação no
processo e o relacionamento entre os dois chegou ao fim.
À semelhança do que se acontece em muitos casos, mas também,
felizmente, ao contrário do que se passa em tantos outros, a mulher
espancada voltou para os braços do agressor. Depois de uma série de
peripécias, como entrevistas em directo com Oprah Winfrey, cancelamentos
de espectáculos de Chris Brown na sequência de manifestações de
movimentos defensores dos direitos das mulheres, e até um ataque no
Twitter por parte da comediante Jenny Johnson, que levou a que o
cobardolas Brown apagasse a sua conta, Rihanna apareceu há dias de novo
em tribunal, desta vez para apoiar o agressor, com quem entretanto
reatou. Ao que parece, o serviço comunitário devido não terá sido
cumprido e, o pior, há suspeitas de fraude por parte do condenado. Nas
datas em que diz ter cumprido a sentença, Brown terá estado noutros
locais. Há ainda registos de outros incidentes. Há pouco tempo terá
agredido e ameaçado Frank Ocean num estúdio de gravação em Hollywood,
contou mal uma história com marijuana e não hesitou em mostrar a sua
sordidez verbal no episódio no Twitter que mencionei. O tribunal também
ordenara em 2009 que Brown se mantivesse afastado de Rihanna, o que não
aconteceu.
A violência doméstica é um problema social grave, mas apesar de tudo
pouco falado. As campanhas de alerta para o problema parecem ter
resolvido uma parte da questão. As mulheres denunciam hoje mais do que
dantes, mas infelizmente continuam a sofrer e a morrer às mãos dos que
deviam ser seus cúmplices numa vida de paz. Quando Rihanna canta que
ninguém tem nada a ver com a vida dela até pode ter razão em geral, mas
não no ponto determinado pela lei. Ninguém tem uma liberdade total sobre
si, e esta realidade não é tão má quanto se possa pensar. Mesmo os mais
respeitadores da liberdade individual não questionam leis que protegem
as pessoas de causar mal a si próprias. Não querendo de modo nenhum
“culpar” a vítima, é possível que estejamos perante um caso em que a
mulher é, por assim dizer, inimputável face à sua vida.
A questão é delicada e complexa, não apenas legal, por isso as
campanhas contra a violência doméstica têm um efeito tímido. Cada caso
terá as suas especificidades, mas neste, que envolve figuras públicas
conhecidas em todo o mundo, jovens e com a vida pela frente, é
compreensível que toda a gente, no mundo inteiro, se meta. Os fãs e o
público em geral não aceitam que uma mulher se esqueça do estado
esmurrado em que ficou. Nem quando ele canta “deixa-me amar-te e
mostrar-te como és especial” Rihanna se lembra do seu passado recente
num Lamborghini alugado. Se calhar não há solução.
IN " i"
09/02/13
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