13/10/2012

MARIA DO CARMO MARQUES PINTO



Portugal e a UE: ‘be smart’! 

Diz-se que Portugal é um país médio, no computo geral da União Europeia. É. Que é um país pobre relativamente à média europeia. 

Também é verdade. Que não é fácil fazer ouvir a nossa voz. Não é. Que a nossa localização geográfica face ao epicentro europeu é uma desvantagem. Certamente. Que a atual situação acentua ainda mais essa sensação de impotência perante a inevitabilidade de determinadas decisões tomadas em Bruxelas. Acentua. Que todos estes fatores somados não contribuem para reforçar o apego a um processo de integração que, no futuro, limitará a nossa margem de manobra como país soberano que nos conhecemos. É assim.

Ao que parece, então, espera-nos, nessa Europa que caminha a marchas forçadas para uma União Política, um futuro negro, desolado, definitivamente marginal. Aponta-se, então, demagogicamente, a alternativa histórica: As relações com os países que formaram parte de Portugal e que hoje emergem como grandes protagonistas no quadro global. Mas se Portugal é um país médio, pobre, cuja voz é difícil de se fazer entender no quadro da União Europeia, face ao quadro global, a nossa desvantagem, como ator global é infinitamente maior.

Ser membro da União Europeia é muito exigente. É. Porquê? Por tudo o que afirmei no princípio do artigo. Somos um país médio, pobre, periférico, em crise. Uma enorme desvantagem. Invertê-la requer desenhar uma estratégia que contraponha ou faça emergir as vantagens face às desvantagens.

Por exemplo. Àqueles que advogam a vocação atlântica e a nova centralidade geográfica de Portugal face à globalização - que é certa - como a nossa primeira prioridade da política externa, eu digo: A União Europeia, se soubermos ser determinada e estrategicamente inteligentes, oferece-nos a plataforma idónea para cultivar, aprofundar e até rentabilizar essa nossa centralidade e relacionamento especial com os novos países emergentes de língua portuguesa. Alguém tem dúvidas de que o êxito da nossa estratégia com Timor se deveu ao nosso empenho como país da União Europeia? Ou posto de outra forma: Alguém acredita que o êxito teria sido o mesmo caso não fossemos um Estado-membro da União? Eu não. E a lista de exemplos não tem fim.

Qual é a conclusão? Que ser membro da União Europeia não se confina ao uso limitado dos poderes que advêm do nosso estatuto formal. Que o uso do chamado ‘soft power' e mais do que ele, do ‘smart power' nos confere, face aos enormes ativos de que dispomos como país e que alguns vêm como sub-aproveitados e desperdiçados, um estatuto que extravasa largamente a quota de poder que se nos atribui pelos Tratados da União.

Dúvidas acerca disto, parece-me, não há. Somos um Smart com enormes ativos incorporados que não só nos diferenciam mas que podem fazer de nós um vencedor. Exercer como esse ‘smart' que somos, no quadro da União, porém, requer uma visão e um aproveitamento estratégico desses ativos que incorporámos no nosso estatuto: A de que a União Europeia, que também somos nós, Portugal, é a melhor plataforma que poderíamos ter para realizar todos esses desígnios que bailam nas nossas entrelinhas como país. Portanto, ‘let's be smart'! Ou, como diria Fernando Pessoa, mais poética e filosoficamente: "És melhor que tu. Não digas nada, sê!"

 Especialista em temas europeus

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
12/10/12

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