Portugal e a UE: ‘be smart’!
Diz-se que Portugal é um país médio, no computo geral da União Europeia. É. Que é um país pobre relativamente à média europeia.
Também é verdade. Que não é fácil fazer ouvir a
nossa voz. Não é. Que a nossa localização geográfica face ao epicentro
europeu é uma desvantagem. Certamente. Que a atual situação acentua
ainda mais essa sensação de impotência perante a inevitabilidade de
determinadas decisões tomadas em Bruxelas. Acentua. Que todos estes
fatores somados não contribuem para reforçar o apego a um processo de
integração que, no futuro, limitará a nossa margem de manobra como país
soberano que nos conhecemos. É assim.
Ao que parece, então, espera-nos, nessa Europa que caminha a marchas
forçadas para uma União Política, um futuro negro, desolado,
definitivamente marginal. Aponta-se, então, demagogicamente, a
alternativa histórica: As relações com os países que formaram parte de
Portugal e que hoje emergem como grandes protagonistas no quadro global.
Mas se Portugal é um país médio, pobre, cuja voz é difícil de se fazer
entender no quadro da União Europeia, face ao quadro global, a nossa
desvantagem, como ator global é infinitamente maior.
Ser membro da União Europeia é muito exigente. É. Porquê? Por tudo o
que afirmei no princípio do artigo. Somos um país médio, pobre,
periférico, em crise. Uma enorme desvantagem. Invertê-la requer desenhar
uma estratégia que contraponha ou faça emergir as vantagens face às
desvantagens.
Por exemplo. Àqueles que advogam a vocação atlântica e a nova
centralidade geográfica de Portugal face à globalização - que é certa -
como a nossa primeira prioridade da política externa, eu digo: A União
Europeia, se soubermos ser determinada e estrategicamente inteligentes,
oferece-nos a plataforma idónea para cultivar, aprofundar e até
rentabilizar essa nossa centralidade e relacionamento especial com os
novos países emergentes de língua portuguesa. Alguém tem dúvidas de que o
êxito da nossa estratégia com Timor se deveu ao nosso empenho como país
da União Europeia? Ou posto de outra forma: Alguém acredita que o êxito
teria sido o mesmo caso não fossemos um Estado-membro da União? Eu não.
E a lista de exemplos não tem fim.
Qual é a conclusão? Que ser membro da União Europeia não se confina
ao uso limitado dos poderes que advêm do nosso estatuto formal. Que o
uso do chamado ‘soft power' e mais do que ele, do ‘smart power' nos
confere, face aos enormes ativos de que dispomos como país e que alguns
vêm como sub-aproveitados e desperdiçados, um estatuto que extravasa
largamente a quota de poder que se nos atribui pelos Tratados da União.
Dúvidas acerca disto, parece-me, não há. Somos um Smart com enormes
ativos incorporados que não só nos diferenciam mas que podem fazer de
nós um vencedor. Exercer como esse ‘smart' que somos, no quadro da
União, porém, requer uma visão e um aproveitamento estratégico desses
ativos que incorporámos no nosso estatuto: A de que a União Europeia,
que também somos nós, Portugal, é a melhor plataforma que poderíamos ter
para realizar todos esses desígnios que bailam nas nossas entrelinhas
como país. Portanto, ‘let's be smart'! Ou, como diria Fernando Pessoa,
mais poética e filosoficamente: "És melhor que tu. Não digas nada, sê!"
Especialista em temas europeus
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
12/10/12
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