Steve Jobs
está a dar voltas
na campa
Quando li o pedido de desculpas de Tim Cook por causa da trapalhada dos mapas no iOS 6, a primeira coisa que pensei foi: Steve Jobs nunca permitiria isto. A segunda coisa foi: Steve Jobs devia interromper o seu descanso e vir puxar as meias do Tim Cook durante a noite. Para ver se ele acorda.
A Apple está no topo do mundo,
e no entanto existe a sensação de que a qualquer momento pode
despenhar-se e desfazer-se. Os números contrariam esta ideia – desde que
Steve Jobs deixou o cargo de CEO e foi substituído por Tim Cook, a
Apple só conseguiu ficar mais rica, bater recordes de vendas e tornar-se
na empresa mais valiosa do mundo.
Ainda assim, algo não bate
certo. Este episódio dos mapas resume-se em poucas linhas: a Apple
chateou-se com a Google por causa do Android e comprou uma start-up com
tecnologia de mapas. Esteve a trabalhar numa aplicação própria nos
últimos anos e este ano achou que estava boa o suficiente para dar o
pontapé ao Google Maps no iOS 6. Resultado: a aplicação é péssima. Tem
erros e uma base de dados incompleta. Fica muito atrás do Google Maps
que foi retirado do sistema operativo.
Concorde-se ou não com a
guerra, há uma coisa que a Apple é obrigada a ter sempre em mente: os
clientes pagam um prémio pelos seus produtos para terem algo que não
falha. Para terem o melhor da indústria. É isto que compram quando
compram um iPhone ou um iPad. Substituir uma boa aplicação por uma
aplicação sofrível não é admissível, nem que o Tim Cook tivesse andado à
chapada com o Larry Page.
Claro que a admissão de culpa foi um
gesto obrigatório, algo que Steve Jobs não necessariamente faria – mas
lá está, Jobs não deixaria que uma aplicação tão má fosse incluída no
iOS 6 e promovida como "a melhor aplicação de mapas de sempre". A
histeria perfeccionista de Jobs servia para isso mesmo.
O segundo
ponto capaz de fazer Steve Jobs dar voltas na campa é o iPad Mini. Sim,
os analistas estão muito excitados com as perspectivas de vendas que um
iPad a 250 euros supõe. Os investidores devem estar maravilhados a
pensar nisso. Mas um iPad de 7 polegadas não é precisamente tudo o que
Steve Jobs desprezou nos últimos anos de vida?
Durante o
julgamento entre a Apple e a Samsung, veio à baila um testemunho que
dava conta da abertura de Steve Jobs ao iPad Mini nos últimos meses de
vida. Talvez tivesse o raciocínio toldado pela medicação, ou talvez
alguém o tivesse conseguido convencer disso; mas é um contra-senso. A
Apple nem sequer precisa de bater a concorrência nos tablets: tem 70% do
mercado e dá baile aos mais de 100 tablets que vagueiam pelas lojas.
Qual é o objectivo? Não é a vantagem do iPad exactamente o tamanho do
ecrã?
O iPad Mini, ao que parece, vai ser apresentado a 17 de
outubro, numa fase muito boa para as contas da Apple – está a colher os
frutos do lançamento mais bem sucedido de sempre de qualquer iPhone.
Milhões e milhões vendidos nas primeiras duas semanas, muitos milhões
mais para vender até ao fim do ano.
Na verdade, a Apple vai
conseguir voltar ao número um do mercado, reconquistando o lugar À
Samsung. O iPhone 5 é um belíssimo telemóvel, sem dúvida. Mas pela
primeira vez desde 2007, eu prefiro uma versão anterior à novidade. Há
algo que não bate certo. Resta descobrir o quê.
Jornalista
IN "DINHEIRO VIVO
"02/10/12
.
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