19/08/2012

MANUEL TAVARES





  
O Porta moedas 
     da troika é curto

O professor Marcelo Rebelo de Sousa colocou uma data para a remodelação governamental: à volta do Orçamento do Estado. E justificou--a pelas suas próprias posições críticas: a excessiva dimensão e variedade dos assuntos que concentraria o ministério de Assunção Cristas e a curta dimensão da política económica do ministro Álvaro Santos Pereira.
Vale a pena esclarecer que, não sendo vidente, o professor apenas jogou uma tripla no totobola do calendário para a primeira remodelação de Passos Coelho: na verdade, a própria programação e elaboração de equipas estratégicas e de candidatos às autárquicas implicariam sempre alterações na composição da atual equipa governamental.
Só para dar um exemplo, mas outros haverá, a candidatura à presidência da Câmara Municipal de Gaia do secretário de Estado Marco António Costa acarretaria alterações e de fundo tanto no Ministério da Solidariedade como na equipa de articulação política entre o Governo e o PSD.
Mas tirando o "timing" da primeira remodelação, inexoravelmente ditado pelo calendário autárquico, o professor não deixa de ter bastante razão. Contudo, se a substância da crítica enunciada sob a forma de megaministério não coloca em causa a dimensão política da ministra da Agricultura e do Ambiente, no que respeita aos resultados da ação do ministro da Economia os números falam por si. E são os oficiais.
É verdade que Passos Coelho e Vítor Gaspar podem estar satisfeitos com o controlo da dívida externa através de uma boa gestão do porta--moedas que a troika nos emprestou. Mas essa satisfação tem de ficar por aí mesmo. Sim, as exportações ainda crescem, mas sabemos que graças sobretudo à venda de produtos refinados de minerais combustíveis, ouro e outro metais preciosos cujo valor acrescentado para a produção nacional é muito pequeno. As importações decrescem, mas não em resultado de substituições por produtos nacionais e sim da retração do consumo de famílias e empresas e ainda do investimento.
Os números do INE são os piores (- 3,3% em PIB) da economia portuguesa desde 2009. E mais delicado para a desejada retoma: estamos com o pior desempenho entre os países intervencionados da Zona Euro no que toca à produção industrial, que caiu 4,4 por cento, enquanto a da Grécia estagnou e a da Irlanda cresceu 9,5 por cento. Acresce que o ambiente vai a caminho da panela de pressão com um desemprego recorde de 15 por cento, demasiado dele entre os jovens.
Temos vivido a contar [e bem, graças ao ministro das Finanças] os euros do porta-moedas da troika. A partir de agora, Passos Coelho tem de encontrar uma política económica que refaça minimamente o mercado interno e o consumo. A remodelação, essa, já era certa.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
15/08/12

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