O Porta moedas
da troika é curto
O professor Marcelo Rebelo de Sousa colocou uma data para a remodelação
governamental: à volta do Orçamento do Estado. E justificou--a pelas
suas próprias posições críticas: a excessiva dimensão e variedade dos
assuntos que concentraria o ministério de Assunção Cristas e a curta
dimensão da política económica do ministro Álvaro Santos Pereira.
Vale a pena esclarecer que, não sendo vidente, o professor apenas
jogou uma tripla no totobola do calendário para a primeira remodelação
de Passos Coelho: na verdade, a própria programação e elaboração de
equipas estratégicas e de candidatos às autárquicas implicariam sempre
alterações na composição da atual equipa governamental.
Só para
dar um exemplo, mas outros haverá, a candidatura à presidência da Câmara
Municipal de Gaia do secretário de Estado Marco António Costa
acarretaria alterações e de fundo tanto no Ministério da Solidariedade
como na equipa de articulação política entre o Governo e o PSD.
Mas
tirando o "timing" da primeira remodelação, inexoravelmente ditado pelo
calendário autárquico, o professor não deixa de ter bastante razão.
Contudo, se a substância da crítica enunciada sob a forma de
megaministério não coloca em causa a dimensão política da ministra da
Agricultura e do Ambiente, no que respeita aos resultados da ação do
ministro da Economia os números falam por si. E são os oficiais.
É
verdade que Passos Coelho e Vítor Gaspar podem estar satisfeitos com o
controlo da dívida externa através de uma boa gestão do porta--moedas
que a troika nos emprestou. Mas essa satisfação tem de ficar por aí
mesmo. Sim, as exportações ainda crescem, mas sabemos que graças
sobretudo à venda de produtos refinados de minerais combustíveis, ouro e
outro metais preciosos cujo valor acrescentado para a produção nacional
é muito pequeno. As importações decrescem, mas não em resultado de
substituições por produtos nacionais e sim da retração do consumo de
famílias e empresas e ainda do investimento.
Os números do INE são
os piores (- 3,3% em PIB) da economia portuguesa desde 2009. E mais
delicado para a desejada retoma: estamos com o pior desempenho entre os
países intervencionados da Zona Euro no que toca à produção industrial,
que caiu 4,4 por cento, enquanto a da Grécia estagnou e a da Irlanda
cresceu 9,5 por cento. Acresce que o ambiente vai a caminho da panela
de pressão com um desemprego recorde de 15 por cento, demasiado dele
entre os jovens.
Temos vivido a contar [e bem, graças ao ministro
das Finanças] os euros do porta-moedas da troika. A partir de agora,
Passos Coelho tem de encontrar uma política económica que refaça
minimamente o mercado interno e o consumo. A remodelação, essa, já era
certa.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
15/08/12
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