03/06/2012

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ESTA SEMANA NO
"VIDA ECONÓMICA"

"Ministério da Saúde devia ter coragem 
de combater o poder dos sindicatos"

 Hugo Meireles, que dirigiu o hospital Conde Ferreira e foi 10 anos presidente do hospital de S. Sebastião, na Feira, defende a contratação de médicos A 'troika' impõe controlos apertados às contas nacionais e o ministro da Saúde já alertou, por mais do que uma vez, que "os hospitais têm que olhar para os doentes, mas, também, para a sustentabilidade do serviço". 

E, por isso mesmo, devem ter "contas equilibradas", sabendo-se que o objetivo estipulado pelo Governo para 2012 aponta para um corte nos custos operacionais dos hospitais na ordem dos 5%. Não obstante, e apesar de os consumos de medicamentos em ambiente hospitalar, segundo a Associação Nacional de Farmácias (ANF), ter baixado 2,4% entre janeiro e março de 2012 -, os 35 hospitais e centros hospitalares do Serviço Nacional de Saúde que entregaram as suas contas à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) apresentaram, em março, resultados operacionais negativos de 95 milhões de euros. 

Valores que representam um aumento dos prejuízos de mais de 90% face ao mês anterior, pois passaram de um resultado global negativo de 49 milhões de euros em fevereiro para 95 milhões no mês seguinte, sendo que apenas cinco desses hospitais que reportaram resultados à ACSS melhoraram as suas contas face a fevereiro. Resultados que surpreendem Hugo Meireles, que dirigiu o hospital Conde Ferreira, foi 10 anos presidente da administração do hospital de S. Sebastião, na Feira, e que assumiu a presidência da comissão executiva do novo hospital de Braga até à sua entrega, há pouco mais de um ano, à gestão ao grupo José de Mello Saúde em regime de parceria público-privada. 

Em entrevista à "Vida Económica" à margem de uma sessão na Universidade Católica do Porto, a publicar na edição da próxima semana, o médico psiquiatra começou por dizer que "o futuro da Saúde em Portugal não é risonho", pois "temos ótimos profissionais de saúde e uma ótima rede hospitalar", mas a "sustentabilidade do sistema é que é o nosso principal problema". Ou não fosse verdade que a percentagem do PIB gasta em saúde cresceu "de forma insustentável" nos últimos anos - passou de 0,3% em 1976 para 5,5% em 2010 - e que a dívida dos hospitais já "ultrapassa os três mil milhões de euros". 

Questionado pela "Vida Económica" sobre o sucesso da gestão do hospital da Feira, onde esteve de 1998 a 2008 e onde deixou um saldo positivo de 16 milhões de euros e prazos médios de pagamento a fornecedores de 21 dias quando a média nacional vai nos 270 dias, Hugo Meireles não hesita na resposta: apesar das diferenças entre hospitais públicos e privados, "um hospital é uma empresa e tem de seguir todas as regras seguidas numa empresa". E o segredo, diz, é "a escolha das equipas" e a "fixação de objetivos" para os profissionais de saúde, nomeadamente os médicos e os enfermeiros. Aí, frisa o médico, é que está "a grande diferença". Questionado ainda sobre o porquê de um modelo de gestão de um hospital público com resultados positivos não ser replicado nas restantes unidades hospitalares do SNS, Hugo Meireles aponta uma resposta: "se o Ministério da Saúde tiver a coragem de mudar algumas regras" é possível replicar. O problema, acrescenta, é "combater o poder dos sindicatos". 


* Um anti-sindicalista primário

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