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Portugal isolado como “patinho feio”
da recessão pressiona UE para
flexibilizar metas
Ontem foi a OCDE a mostrar economia nacional como recordista da recessão em 2012. Sem sinal da Europa, a pressão dos mercados sobre a dívida do país aumentará
A previsão de um agravamento da recessão em Portugal ontem publicada pela OCDE não é surpreendente – mas teria de o ser para ajudar a contrariar o pessimismo cada vez maior dos mercados financeiros sobre a solvabilidade da República. O indicador avançado da OCDE para Portugal, que mede a tendência da economia nos seis meses seguintes, revela um novo mergulho sem qualquer sinal de suavização, pelo menos até ao Verão.
O comportamento sugerido para Portugal – que atravessa em 2012 o ano mais duro do programa de ajustamento da troika – contrasta com sinais de recuperação mais ou menos tímidos nos outros dois países fora dos mercados, a Grécia (terceiro mês de recuperação do indicador) e a Irlanda (quarto). A curva descendente de Portugal – que dura há um ano – contrasta também com a inflexão indicada quer para o conjunto da zona euro quer para as cinco maiores economias da moeda única (primeiro mês em que todas dão sinal de recuperação).
A posição de Portugal como país do euro isolado numa pronunciada recessão sem sinal de retoma repete-se cada vez que uma instituição internacional divulga previsões. O papel de “patinho feio” surge exactamente na altura em que muitos participantes nos mercados dão a Grécia como um caso temporariamente arrumado e se focam em Portugal como próximo alvo de reestruturação de dívida.
A dívida portuguesa a dez anos está a negociar no mercado secundário com mais de 45% de desconto, resultando numa rendibilidade total acima de 13,7% – valores piores do que na altura em que Portugal pediu a assistência financeira.
A recessão maior do que o previsto alimenta os paralelismos com a Grécia e a narrativa de que o país não conseguirá crescer o suficiente para travar o aumento do peso da dívida. A troika previa inicialmente uma retoma ligeira de 1,2% em 2013 (o Banco de Portugal já indica uma recessão suave) e o programa pressupõe um crescimento sempre acima de 2% a partir de 2014.
Nas agências de informação financeira – como a Bloomberg e a Reuters – surgem com mais insistência opiniões de analistas e “traders” anónimos que sugerem que Portugal não regressará aos mercados de dívida em 2013 e que terá, mais tarde ou mais cedo, de reestruturar dívida.
“O mercado não acredita que a Grécia é um caso único, Portugal é muito semelhante”, afirmou ontem à Bloomberg Matteo Regesta, analista de dívida do banco francês BNP Paribas. À Reuters, um trader de obrigações anónimo notou que o mercado “está agora a olhar para Portugal, e depois Espanha”(ver pgs. 20-21).
Os líderes políticos mais influentes da zona euro têm repetido, contudo, que a reestruturação grega é uma excepção – “um caso completamente único”, afirmou na passada sexta-feira o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaüble.
Para manter a narrativa da excepção a Europa terá, no entanto, de mudar de agulhas no caso português – por outras palavras, flexibilizar as metas e prolongar a assistência financeira.
“A execução orçamental está complicada com estas previsões de crescimento porque a receita fiscal vai diminuindo – a Europa tentará evitar que Portugal não se transforme num mau exemplo”, explica Filipe Garcia, economista da consultora IMF. “Já se notam sinais de inversão no discurso europeu.”
* Quando os melhores economistas de manifesta independência partidocrata, são de opinião que deve negociar o reescalonamento da dívida, porque não temos dinheiro para cumprir prazos, o que leva o ministro Vítor Gaspar a ter este comportamento messiânico/salazarento???
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