19/02/2012

11 - FIGURAS DO ESTADO NOVO »»» manuelgonçalves cerejeira


Manuel Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, Santa Marinha, 29 de Novembro de 1888 - Lisboa, Amadora, Buraca, 2 de Agosto de 1977), cardeal da Igreja Católica, foi o décimo-quarto Patriarca de Lisboa com o nome de D. Manuel II (nomeado em 18 de Novembro de 1929).

Eleito arcebispo de Mitilene em 1928, foi elevado ao cardinalato em 16 de Dezembro de 1929, pelo Papa Pio XI, com o título de Santos Marcelino e Pedro.

Biografia
Era filho de Avelino Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 14 de Abril de 1857 - Vila Nova de Famalicão, Lousado, 13 de Junho de 1927) e de sua primeira mulher Joaquina Gonçalves Rebelo (Fafe, Vila Cova, 30 de Maio de 1864 - Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 30 de Setembro de 1918).

Diplomado em Teologia e em Ciências Histórico-Geográficas pela Universidade de Coimbra, na respectiva Faculdade de Letras obteve em 1919 o grau de doutor em Ciências Históricas, com a tese «Clenardo e a Sociedade Portuguesa do seu tempo». Desse ano a 1928 foi professor da Escola onde se graduara.
Com Salazar
Foi o Patriarca que dirigiu a Igreja Católica Portuguesa durante o Estado Novo; íntimo de Salazar (conheceram-se no Centro Académico de Democracia Cristã e viveram juntos cerca de 11 anos), procurou salvaguardar e restaurar a condição que o Catolicismo perdera durante o regime republicano (I República). Como tal, e a fim de apaziguar as tensas relações entre o Estado e a Igreja, foi um dos principais concorrentes e apoiantes para a assinatura da Concordata com a Santa Sé em 1940 (Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940).

Era apoiante do Estado Novo, fundado pelo seu amigo de infância Oliveira Salazar. Apesar dessa ligação houve grandes tensões na defesa de cada uma das suas posições: os interesses do Estado, por parte de Salazar e os da Igreja, por Cerejeira.
Com Américo Tomás

Participou nos conclaves que elegeram os Papas Pio XII (1939), João XXIII (1958) e Paulo VI (1963), bem como no Concílio Vaticano II (1962-1965).

Outro importante dado do governo deste Patriarca foi a criação do Seminário dos Olivais e da Universidade Católica Portuguesa.

Resignou ao governo do Patriarcado em 10 de Maio de 1971, sendo substituído por D. António Ribeiro.

IN "WIKIPEDIA"

Em 1899 matriculou-se no Seminário-Liceu de Guimarães, tendo transitado, em 1904, para o Liceu Alexandre Herculano, do Porto, a fim de concluir o curso de Letras. De 1906 a 1909, frequentou o Seminário Conciliar de Braga, sendo ordenado presbítero a 1 de Abril de 1911.

Em 1916 foi nomeado assistente provisório da cadeira de História Medieval da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e em 1919 Professor Ordinário de Ciências Históricas.
Aposentos do Cardeal

Em 1928 foi nomeado Arcebispo de Mitilene do Patriarcado de Lisboa. Por morte do Cardeal Patriarca D. António Mendes Belo, foi nomeado Patriarca de Lisboa a 18 de Novembro de 1929 pelo Papa Pio XI. No dia 6 do mês seguinte foi elevado ao cardinalato. Era o mais novo dos cardeais, tendo recebido a elevação das mãos de Pio XI, ao mesmo tempo que o Cardeal Pacelli, mais tarde Papa Pio XII.

Homem de intensa actividade pastoral e doutrinal, fez inúmeras visitas pastorais através de todo o Patriarcado, para conhecer de perto os problemas sociais e religiosos dos fiéis.

Alcançaram grande êxito as suas viagens ao estrangeiro. São de realçar a viagem de 1934 à Argentina para participar no Congresso Eucarístico de Buenos Aires; a de 1935 à Bélgica para o Congresso dos 100.000 jocistas em Bruxelas; a de 1944 a Angola como legado pontifício de Pio XII para presidir à Sagração da Catedral de Lourenço Marques; a de 1950 à Índia como legado Pontifício nas comemorações do IV Centenário da Morte de S. Francisco Xavier, entre muitas outras.
Casa onde nasceu

Querendo apaziguar as relações com o Estado, devido às convulsões surgidas com a revolução republicana de 1910, tudo fez para que, em 1940, o Governo Português assinasse a Concordata com a Santa Sé.

Outro marco fundamental na acção do Cardeal Cerejeira foi a criação da Universidade Católica Portuguesa e inauguração levada a cabo em 1967.

A 1 de Agosto de 1977, morre na Casa do Bom Pastor tendo, após exéquias solenes na Sé Patriarcal, ficado sepultado no panteão privativo dos Patriarcas, no Mosteiro de São Vicente de Fora.

IN "SITE DA FUNDAÇÃO CARDEAL CEREJEIRA"

Ascendeu ao posto mais alto da Igreja, tornando-se cardeal patriarca de Lisboa entre 1929 e 1971 e uma figura fundamental, embora polémica, do século XX português. Conservador e elitista ou renovador e humilde? Amante do luxo e da riqueza ou atento à pobreza e defensor dos mais oprimidos? Homem caloroso ou autoritário? Sinuoso ou insinuante? Alinhado com o Estado Novo ou defensor da independência da Igreja em relação ao regime de Salazar, seu amigo íntimo desde os tempos de Coimbra? Defensor da vida e dos direitos humanos ou silencioso perante a violência da PIDE, a guerra colonial e a censura? 
Com Salazar e Óscar Carmona

Homem forte e decidido, ou indeciso e fraco como António de Oliveira Salazar chegou a apelidá-lo? Quando tomou posse como patriarca, o seu objectivo era recristianizar a sociedade portuguesa, mas no momento da sua exoneração a laicização da sociedade portuguesa era crescente e o mundo por que tanto lutara ameaçava ruir.

IN "ESFERA DOS LIVROS"

NOTÍCIA
Lisboa, 2 abr 2011 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa admitiu – esta sexta-feira – que possam ter desaparecido documentos do arquivo de D. Manuel Gonçalves Cerejeira, visto que este “emprestou alguma documentação” e não sabe se ela voltou.

Na sessão pública de apresentação dos resultados do projecto de organização e descrição da documentação de D. Manuel Gonçalves Cerejeira, o actual patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, sublinhou que o seu antecessor emprestou documentação ao embaixador Franco Nogueira e recorda-se – na altura - de ter visto um cartão escrito pelo cardeal Cerejeira a Oliveira Salazar onde defende a Juventude Operária Católica (JOC), no entanto “nunca mais” viu esse cartão.
Carta a Leonardo Coimbra

O fundo arquivístico de D. Manuel Gonçalves Cerejeira, 14º cardeal patriarca de Lisboa, encontra-se dividido em quatro sub-fundos, correspondente a quatro áreas funcionais do prelado: Secretaria Particular do cardeal Cerejeira (1929-1971) – abrange todo o período à frente da diocese; actividade desenvolvida enquanto estudante e professor da Universidade de Coimbra (1909-1928); arcebispo de Mitilene e vigário capitular do Patriarcado de Lisboa (1928-1929) e patriarca resignatário (1971-1977).

As 319 caixas de documentação albergam 22.965 documentos simples e compostos, 8.162 recortes de imprensa organizados em 210 temáticas, 660 dossiers e 329 capilhas de recortes de imprensa organizados cronologicamente.

Acrescem a este espólio 3841 provas fotográficas organizadas em 82 álbuns, bem como 2961 fotografias avulsas organizadas.

Em declarações à comunicação social, D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e coordenador deste projecto, sublinhou que apesar do cardeal Cerejeira ter sido arquivista na Universidade de Coimbra “foi necessário dar uma organização ao arquivo porque veio documentação de vários lugares”.

Este trabalho demorou cerca de dois anos e meio e contou com a colaboração de “muitos voluntários” – acrescentou.

O responsável pelo Serviço de Arquivo Histórico e Biblioteca do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa, Ricardo Aniceto disse na sessão de apresentação – realizada no Mosteiro de São Vicente de Fora – que este projecto nasceu da “esteira de um projecto universitário mais abrangente” - liderado pelo historiador Luis Salgado Matos - sobre «A Igreja Católica e o Estado Português no século XX. Os cardeais Mendes Belo, Gonçalves Cerejeira e António Ribeiro» e pretende estudar a “interacção entre os três cardeais de Lisboa com o Estado Português”.

Realizar a sessão pública de apresentação do acervo no dia 1 de abril – data do centenário da ordenação presbiteral do cardeal cerejeira – “reveste-se de certa ironia” porque para a equipa responsável deste projecto parece “mentira” terem concluído a organização deste espólio.

Alexandra Xisto, da equipa responsável pelo projecto, explicou aos presentes a orgânica e divisão do acervo documental e mostrou, – em formato digital –, na parte final da sua comunicação, um documento onde estão assinaladas as intenções para a missa nova do cardeal Cerejeira.

O arquivo ficará disponível para os investigadores a partir de 2 de Maio.

Fórum Abel Varzim lembra posição de católicos que se opuseram a Salazar e à submissão da Igreja ao Estado Novo

O Fórum Abel Varzim disponibiliza no seu site diversos documentos relativos à actividade empreendida por católicos na década de 1950/60. Os textos críticam algumas posições de António de Oliveira Salazar, bem como a submissão de parte do clero a determinadas políticas seguidas pelo Estado Novo.

Os arquivos incluem o número 8 do jornal clandestino «Direito à Informação», que começou a ser policopiado em 1963. O boletim pretendia difundir notícias e documentos que, previsivelmente, a Censura eliminaria dos jornais legais.

“Sofremos por ver a face da Igreja, Mãe e Mestra, desfigurada. No entanto o Evangelho não nos permite julgar os bispos que, em bênçãos, banquetes e inaugurações, aparecem ao grande público com todo o peso de uma caução moral que os encandeia ao regime. E nem mesmo podemos julgar certos padres que, ainda em muitas regiões e em jornais católicos, sustentam abertamente o Estado Novo. Tudo isto é também traição de todos nós, e temos consciência de quanto têm pesado as nossas fraquezas e omissões”, lê-se no artigo de abertura da publicação.

Entre os documentos que podem ser consultados encontra-se o texto intitulado “As relações entre a Igreja e o Estado e a liberdade dos católicos”. A tomada de posição, que foi assumida por mais de 40 personalidades do mundo eclesial e cultural, conta com as assinaturas de Alberto Vaz da Silva, Pe. Abel Varzim, António Alçada Baptista, Francisco de Sousa Tavares, Gonçalo Ribeiro Teles, João Bénard da Costa, José Escada, Nuno Teotónio Pereira e Sophia de Mello Breyner Andresen.

“Deve notar-se – assinala o texto – que muitos católicos têm lamentado e manifestado respeitosamente, pelos meios ao seu alcance, o seu desacordo com atitudes das autoridades da Igreja em Portugal, que lhes parecem demasiado favoráveis ao regime, e com o pouco vigor com que se chama a atenção para certos princípios da moral cristã que o Estado Novo tem esquecido ou infringido sistematicamente, nomeadamente no que se refere ao respeito pela liberdade e consciência da pessoa humana.”

Na declaração, os signatários recusam aceitar que “em nome do Catolicismo ou de quaisquer doutrinas políticas, os considerem menos católicos, menos portugueses ou menos honestos, pelo facto de discordarem de algumas ou muitas orientações do Governo”.
Capa de livro com Salazar e Franco

A “Carta a Salazar sobre os Serviços de Repressão”, datada de 1 de Março de 1959, reuniu igualmente mais de quatro dezenas de assinaturas.

A missiva começa por garantir que os signatários não sentem “qualquer animosidade” contra o então Presidente do Conselho. “Pelo contrario – prossegue o texto – todos [os] católicos reconhecem a validade cristã de muitos princípios defendidos por V. Ex.a e, quasi todos educados na estima e no respeito da sua alta personalidade, só pouco a pouco e dolorosamente começaram a duvidar da aplicação autêntica de alguns desses mesmos princípios, até chegarem à conclusão – porventura demasiado tarde – que a sua consciência de cristãos e a sua dignidade de homens lhes impunha o dever de se dirigirem a V. Ex.a nos termos em que agora o fazem”.

Algumas linhas depois, o texto denuncia que “indícios diversos e persistentes parecem indicar que os serviços de repressão do regime admitem e empregam métodos que uma consciência humana bem formada não pode tolerar e um espírito cristão tem necessariamente de repudiar”.


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