Ponham-se finos
1. O deputado socialista Pedro Nuno Santos afirmou estar-se marimbando para o banco alemão que, segundo ele, emprestou dinheiro a Portugal. Também não está minimamente preocupado se chamarem irresponsáveis aos portugueses. Ele até sabe a forma de pôr os alemães com as pernas a tremer: ameaçá-los com a bomba atómica do "não pagamos".
De acordo com a moda actual, passadas uma horas, o deputado veio esclarecer as suas próprias palavras. O que tinha dito não era propriamente não pagar a dívida, era utilizar a ameaça como uma espécie de truque negocial. Isso de bombas atómicas, presume-se, era para romper com as falinhas mansas. No meio da interpretação autêntica e para que não restassem dúvidas acerca do alcance das aparentemente tão desabridas palavras, esclareceu: afinal era apenas um jantar de militantes.
"Ponham-se finos", tinha gritado para os alemães, em Castelo de Paiva, o vice-presidente da bancada socialista. O Governo e os partidos da coligação levantaram-se, indignados, com tão irresponsáveis palavras, aproveitaram para mostrar aos portugueses a suposta falta de sentido de Estado do deputado. Lembraram que se não formos pagando a dívida corremos o risco de não termos dinheiro para pagar salários e suspiraram de alívio por não terem de explicar umas conversas com a sra. Merkel sobre a privatização da EDP e o aumento das taxas moderadoras. Tudo normal, teoricamente: o PS estava a fazer oposição e, para variar, a dizer qualquer coisinha de esquerda, e o Governo estava a defender o que julga ser o melhor para o País e, pelo caminho, a lembrar que tinham sido os socialistas a assinar o acordo com a troika.
Só que Pedro Nuno Santos não estava a falar nem para os nossos credores nem sequer para o Governo: estava a falar para dentro do seu próprio partido. Estava a lembrar aos socialistas que é suposto o principal partido da oposição fazer oposição, coisa que efectivamente não tem feito.
Alemães, marimbanços, bombas atómicas, não pagamento de dívidas, foram apenas pretexto para dizer aos militantes que o Partido Socialista devia deixar-se de "falinhas mansas" e que Seguro tinha se de "pôr fino". Não foi com certeza, por acaso, que o discurso foi feito num encontro partidário. Era capaz de apostar que o tom irritado do vice-presidente da bancada socialista se devia mais ao facto de os socialistas estarem a perder tempo com mais um patético pacote sobre a corrupção (deve haver mais leis sobre corrupção do que corruptos, em Portugal), com a inenarrável discussão sobre a constitucionalização do défice e o porte muito sério e responsável do líder do partido, do que propriamente com a questão do pagamento ou não pagamento da dívida.
Não deixa de ser extraordinário que o secretário-geral do Partido Socialista não tenha conseguido sequer por uma vez marcar a agenda política desde que foi eleito, e um vice-presidente da bancada, com umas declarações discutíveis, mas de puro conteúdo político, ponha o PS na berlinda e mostre que há mais do que afectos e conversa mole para os lados do Rato.
O que este episódio nos diz vai muito para lá do que foi realmente dito. Mostra que Seguro não tem mão no seu próprio partido e que os socialistas estão fartos de não terem discurso como oposição, melhor, estão fartos de falinhas mansas.
Pedro Nuno Santos apenas anunciou o que já muita gente tinha percebido: a liderança de António José Seguro morreu antes mesmo de ter nascido. E por culpa do secretário-geral do PS bastaram poucos meses para já haver gente a afiar as facas.
2. Parece que se vai proceder a uma alteração na Constituição com o objectivo de se consagrar um limite ao défice. Já que se vai estar com a mão na massa, porque não constitucionalizar um tempo ameno em Setembro para as vindimas, o fim de chuva em Agosto para não prejudicar o turismo, a obrigação dos nossos clientes externos nos comprarem rolhas e proibir os mercados de aumentar juros? Aceitam-se mais propostas.
3. Em pouco mais de dez dias, o primeiro-ministro deu quatro entrevistas. Quando um primeiro-ministro fala, é de esperar que tenha alguma coisa de novo a dizer aos seus concidadãos. O momento em que um líder se dirige ao povo não pode transformar--se numa banalidade. Pior, não pode ser uma repetição incessante de banalidades ou uma conversa em que faz de mero comentador da actualidade. Se assim for, em pouco tempo ninguém o escutará. E quando tiver uma novidade realmente importante, o primeiro-ministro será o Pedro da fábula que também mete um Lobo.
De acordo com a moda actual, passadas uma horas, o deputado veio esclarecer as suas próprias palavras. O que tinha dito não era propriamente não pagar a dívida, era utilizar a ameaça como uma espécie de truque negocial. Isso de bombas atómicas, presume-se, era para romper com as falinhas mansas. No meio da interpretação autêntica e para que não restassem dúvidas acerca do alcance das aparentemente tão desabridas palavras, esclareceu: afinal era apenas um jantar de militantes.
"Ponham-se finos", tinha gritado para os alemães, em Castelo de Paiva, o vice-presidente da bancada socialista. O Governo e os partidos da coligação levantaram-se, indignados, com tão irresponsáveis palavras, aproveitaram para mostrar aos portugueses a suposta falta de sentido de Estado do deputado. Lembraram que se não formos pagando a dívida corremos o risco de não termos dinheiro para pagar salários e suspiraram de alívio por não terem de explicar umas conversas com a sra. Merkel sobre a privatização da EDP e o aumento das taxas moderadoras. Tudo normal, teoricamente: o PS estava a fazer oposição e, para variar, a dizer qualquer coisinha de esquerda, e o Governo estava a defender o que julga ser o melhor para o País e, pelo caminho, a lembrar que tinham sido os socialistas a assinar o acordo com a troika.
Só que Pedro Nuno Santos não estava a falar nem para os nossos credores nem sequer para o Governo: estava a falar para dentro do seu próprio partido. Estava a lembrar aos socialistas que é suposto o principal partido da oposição fazer oposição, coisa que efectivamente não tem feito.
Alemães, marimbanços, bombas atómicas, não pagamento de dívidas, foram apenas pretexto para dizer aos militantes que o Partido Socialista devia deixar-se de "falinhas mansas" e que Seguro tinha se de "pôr fino". Não foi com certeza, por acaso, que o discurso foi feito num encontro partidário. Era capaz de apostar que o tom irritado do vice-presidente da bancada socialista se devia mais ao facto de os socialistas estarem a perder tempo com mais um patético pacote sobre a corrupção (deve haver mais leis sobre corrupção do que corruptos, em Portugal), com a inenarrável discussão sobre a constitucionalização do défice e o porte muito sério e responsável do líder do partido, do que propriamente com a questão do pagamento ou não pagamento da dívida.
Não deixa de ser extraordinário que o secretário-geral do Partido Socialista não tenha conseguido sequer por uma vez marcar a agenda política desde que foi eleito, e um vice-presidente da bancada, com umas declarações discutíveis, mas de puro conteúdo político, ponha o PS na berlinda e mostre que há mais do que afectos e conversa mole para os lados do Rato.
O que este episódio nos diz vai muito para lá do que foi realmente dito. Mostra que Seguro não tem mão no seu próprio partido e que os socialistas estão fartos de não terem discurso como oposição, melhor, estão fartos de falinhas mansas.
Pedro Nuno Santos apenas anunciou o que já muita gente tinha percebido: a liderança de António José Seguro morreu antes mesmo de ter nascido. E por culpa do secretário-geral do PS bastaram poucos meses para já haver gente a afiar as facas.
2. Parece que se vai proceder a uma alteração na Constituição com o objectivo de se consagrar um limite ao défice. Já que se vai estar com a mão na massa, porque não constitucionalizar um tempo ameno em Setembro para as vindimas, o fim de chuva em Agosto para não prejudicar o turismo, a obrigação dos nossos clientes externos nos comprarem rolhas e proibir os mercados de aumentar juros? Aceitam-se mais propostas.
3. Em pouco mais de dez dias, o primeiro-ministro deu quatro entrevistas. Quando um primeiro-ministro fala, é de esperar que tenha alguma coisa de novo a dizer aos seus concidadãos. O momento em que um líder se dirige ao povo não pode transformar--se numa banalidade. Pior, não pode ser uma repetição incessante de banalidades ou uma conversa em que faz de mero comentador da actualidade. Se assim for, em pouco tempo ninguém o escutará. E quando tiver uma novidade realmente importante, o primeiro-ministro será o Pedro da fábula que também mete um Lobo.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
18/12/11
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