A Europa dos pequeninos
O ‘bom aluno’ está de volta à escola. O mesmo é dizer que Portugal está de regresso à mesa dos decisores europeus no papel do zeloso aprendiz com os trabalhos de casa prontos e uma vontade imensa de provar que é capaz de ajudar a salvar o euro.
Por isso, quando Pedro Passos Coelho se sentar hoje na roda de líderes da Cimeira Europeia, fará tudo para demonstrar que está pronto para alinhar nos planos e estratégias mais prometedoras para evitar a extinção do euro. É que, apesar das evidentes fraquezas da economia portuguesa, o Governo português não quer assumir o papel do mau aluno ou do queixinhas, como uma Grécia, que não fizeram bem e a tempo os seus trabalhos de casa e que, por isso, têm de reclamar atenções e privilégios para sobreviverem.
Numa altura em que uma Europa (quase) inteira se encontra atrelada a uma Grécia pendurada no abismo, em que se questiona a esperança de vida do jovem euro, em que as grandes decisões se jogam como bolas de ténis entre Berlim e Frankfurt, as boas intenções já não chegam. A Europa estacou numa encruzilhada e precisa rapidamente de sair do estado de negação em que mergulhou para começar a decidir e aplicar as soluções mais difíceis. Decisões que certamente vão castigar ainda mais os bolsos dos contribuintes e os cofres de bancos e empresas privadas.
Essa negação começa, por exemplo, no facto de a Europa não admitir que a dívida grega pode nunca ser amortizada - que outro cenário se pode esperar quando essa dívida pode chegar a uns (ainda mais) trágicos 172% do PIB no próximo ano? Ou quando mais de dois terços da dívida helénica esteja confortavelmente instalada nos balanços de bancos gregos? Mas ainda não surgiu em público um dirigente europeu que assuma essa possibilidade, porque o medo de assustar os detentores da dívida e de acelerar um possível incumprimento é bem maior do que a coragem de o assumir.
A cimeira europeia arrisca-se assim a ser uma espécie de reunião de líderes encolhidos, reféns das decisões das gigantes França e Alemanha. Publicamente esticam as vozes para defender soluções que ajudem a salvar a moeda única e a união europeia a todo o custo. Mas, secretamente, as suas mentes estarão a pensar de que forma essas soluções os podem afastar de novos resgates, de cenários de falência ou de serem contagiados por uma tragédia grega. Basta pensar que, caso o derrame grego se arraste à Itália e a Espanha, um terço do euro fica em xeque e obriga a medidas de sobrevivência ainda mais radicais. E, enquanto a Grécia estiver pendurada no abismo, Portugal também não está a salvo de cair com ela - há uma linha de países presa ao fardo da dívida grega e a economia portuguesa é que a que está mais próxima do precipício. Um por todos? Não. Neste caso, terão mesmo de ser todos por um. Pelo euro. Ou pelo seu fim.
Subdirectora
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
21/07/11
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