As garantias de Domingos
Há um parentesco de ideias entre o Domingos-jogador e o Domingos-treinador, o que é seguramente muito mais do que uma simples coincidência: Domingos é daquelas pessoas que se empenha a fundo em tudo o que faz, seja qual for a atividade. Se preferirem: é um profissional dedicado ao trabalho, homem simples e ambicioso, que olha para o futebol pelo seu lado mais belo, o do jogo ofensivo, indiferente a polémicas, e com uma vontade ganhadora que é, aliás, própria de pessoas que têm talento. Se o Domingos-jogador ganhou o que ganhou – sete títulos nacionais, duas Taças de Portugal e seis Supertaças pelo FC Porto –, já o currículo de Domingos-treinador não contabiliza um título que seja, porque só teve oportunidade de dirigir clubes de pequena/média dimensão. Mas também é um facto que está valorizado por um trabalho de ótima qualidade e que desde sempre desafiou as médias. Um trabalho que lhe reforçou a confiança e o orgulho, ao ponto de o Sporting o ter contratado, naquele que é o maior e simultaneamente o melhor desafio da sua vida profissional, para um projeto em que há algumas razões para dar certo.
Pergunta-se, qual é a qualidade mais importante para ser treinador de futebol? É evidente que a resposta só pode ser esta: talento. Pouco adianta que o entusiasmo seja muito, que a entrega seja total, que a dedicação seja no limite; quem não tem talento nunca será treinador, por muito que tente; isto é uma condição prévia, e estou seguro de que Domingos preenche esse requisito e sem qualquer reparo. É suficiente? Muito longe disso. Junte-se um bom naipe de jogadores e, aí sim, estará encontrada a fórmula segura para o sucesso. Um trabalho que terá de ser urgentemente melhorado por Godinho Lopes/Luís Duque/Carlos Freitas, pois o que há disponível é bom, é bem verdade, mas insuficiente para chegar aos títulos reclamados.
Torna-se, pois, indispensável a construção de um plantel à medida das ambições do clube – o que não foi de todo possível nos últimos anos –, e das ideias do novo treinador, que, como se sabe, privilegia o 4x3x3, quer dizer, uma cultura ofensiva, e a posse como um dos seus pontos mais fortes. Se a “troika” diretiva souber estabelecer uma identidade própria com o seu treinador e lhe garantir as condições que Domingos pede, restam poucas dúvidas de que o Sporting poderá reerguer-se ao nível das exigências da sua massa adepta.
Subscrevo, pois, a ideia central de Godinho Lopes quando afirmou que a contratação de “Domingos nos dá a garantia de lutarmos por títulos”, mas não posso deixar de acrescentar que essa sua opinião só terá a devida correspondência no caso de o Sporting subir dois níveis, pelo menos, na qualidade do seu plantel. Se se tratasse de um jogo de PlayStation, o Sporting teria de passar do atual nível 3 para o nível 5, e, mesmo assim, a concorrência seria feroz. O trabalho de casa até aqui feito não aponta nesse sentido, mas todos sabemos muito bem como os homens têm a capacidade de surpreender, apesar de o tempo começar a apertar, de o dinheiro não esticar, e de as soluções não aparecerem.
IN "RECORD"
16/06/11
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