O episódio trágico do rapaz
que gosta de moamba
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"Sou um lutador", diz Angélico Vieira, nascido Sandro Milton Vieira Angélico num inquérito que o blog dos fãs apresenta. Depois do acidente da madrugada de ontem, a luta deste jovem de 28 anos tomou um rumo tragicamente diferente, no dia em que passavam dois anos sobre a morte daquele que sempre nomeou como ídolo: Michael Jackson.
A rodear a aflição da família e dos amigos instalou-se uma gigantesca máquina mediática, com aberturas de telejornais e directos da porta do hospital de Santo António. Já é assim há anos a vida deste jovem artista "nascido" nos "Morangos com Açúcar", a série com milhares de episódios que se mantém firme há oito anos nos finais de tarde da TVI.
Cada passo da vida de Angélico, cada namorada, cada viagem, cada frase, tudo aparece perante o público, numa exposição permanente que dá que pensar. Como dá que pensar a transição súbita da normalidade de uma vida familiar e de um universo escolar para a carreira glamorosa de modelo, actor e músico. Angélico, aluno sem chumbos que estava no 3º ano do ensino superior quando a fama chegou, passou a ser um ídolo dos jovens e encheu, com a boysband D'Zrt, as grandes salas de espectáculos, dos coliseus ao Pavilhão Atlântico. Diante dele, em delírio, estava uma legião de fãs muitíssimo jovensque se reviam nas aventuras daquele pequeno universo escolar onde a ficção se cruza com a realidade e deixa entrever questões como a sexualidade, o crescimento, as relações com pais e professores.
Produzida em Portugal, com actores jovens e nascidos para a vida artística nesse preciso palco, a série "Morangos" poderá não ter criado, como já foi dito, uma geração, mas certamente faz parte do imaginário dos que hoje estão a entrar na vida adulta.
O fenómeno dos ídolos não é novo na sociedade, e de tragédias pelo meio há exemplos abundantes, com Michael Jackson, Marylin, James Dean a chamar-nos a atenção. Mas no caso de Angélico tudo é amplificado por uma máquina que funciona em ciclo vicioso: o rapaz que gosta de moamba e cachupa feitos pela mãe atingiu no dia do acidente uma notoriedade que ultrapassa tudo o que ele alguma vez terá imaginado.
Mas afinal o que aconteceu na madrugada de ontem? Um automóvel cheio de jovens sem cinto de segurança, uma viagem de que apenas conhecemos um carro de alta cilindrada, um jovem morto, outro a lutar para sobreviver.
Se este fosse um episódio dos "Morangos", talvez nos sentíssemos confortáveis com o alerta nele contido.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
26/06/11
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