Loucura
ou ambição?
Domingos Paciência cumpriu e o Sporting busca um tempo de inspiração em redor do seu novo treinador, com quem assinou um contrato válido por duas temporadas. É uma experiência diferente de todas as que já passou na sua carreira. Sabe o que é um “grande” (FC Porto), sabe o que é ser técnico de uma equipa que foi crescendo na sua ambição (Sp. Braga), mas não sabe o que é (por dentro) o Sporting – um clube que foi construindo, ao longo dos anos, uma teia de contornos muito complexos, que seguiu as placas a indicar “imobiliário”, não atendendo às outras que apontavam a direção “futebol”. Domingos pode ter um papel decisivo nesse reencontro. Mas não chega.
OSporting precisa de se (re)futebolizar, colocando o foco em tudo o que se relacione com o êxito da sua equipa mais representativa. Para isso não basta contratar um treinador que respire futebol por todos os poros, como é o caso de Domingos Paciência. É preciso fechar as mil e uma portas que, em Alvalade ou na Academia, conduzem ao gabinete do chefe da equipa técnica ou ao balneário dos jogadores. Ao entregar a “pasta” do futebol, como candidato à presidência do Sporting, Godinho Lopes assumiu ser o rosto de um regime “semipresidencialista”. Pode dizer que a “última palavra” é sempre sua, mas, nestas coisas, ou se delega ou não se delega. Não se pode ficar a meio da ponte, e a verdade é que Godinho Lopes colocou-se a meio da ponte e só muito dificilmente dará passos à frente ou atrás sem provocar qualquer tipo de incómodos ou mesmo dissensões. Se entregou a “pasta” do futebol a Luís Duque, agora tem de lhe dar condições para exercer o “mandato”. Todos os convites realizados para ganhar votos e as eleições têm de ser agora reenquadrados. Não é fácil, mas não pode ser de outra maneira. Como é que Filipe Nobre Guedes pode dizer “sim” à reformulação do contrato (que passou a ser leonino) de José Couceiro, conduzindo-o à substituição de Paulo Sérgio e depois, perante as necessidades de investimento no plantel (dispensas + aquisições), dizer “não”?
Domingos Paciência chega de Braga com a experiência da súbita descapitalização do plantel. Ele sabe o que é fazer canja (de galinha) com ovos de codorniz. Apontar ao primeiro lugar é uma tentação e Domingos não resistiu. Outros caíram na mesma tentação. A “realidade” veio depois. O primeiro grande desafio é fazer regressar o “bom futebol” a Alvalade. Aberto(s) ao(s) Domingos.
Não vão ser fáceis os primeiros tempos. O Sporting também tem de se reencontrar consigo próprio, antes de ensaiar a fórmula de tentar disfarçar os efeitos dos seus dramas internos através da imagem mobilizadora do seu novo treinador. Por isso, Godinho Lopes, mais do que presidente, vai ser um “gestor de conflitos”.
NOTA – Alguns serventuários de certas instituições tentaram atingir-me quando fundamentei a tese segundo a qual a Taça Latina não deveria ser considerada na contabilização dos títulos futebolísticos, considerando a luta apertada entre FC Porto (69) e Benfica (68). Veio agora o esclarecimento da FIFA em abono dessa tese.
JN "RECORD"
27/05/11
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