Está oficialmente aberta a campanha eleitoral para as legislativas de 5 de Junho. Alguns políticos, dirigentes partidários e autarcas começaram imediatamente a mostrar o lado mais negro da política que é, geralmente, classificado como “politiquice”, ou seja a discussão de assuntos sem interesse para o País e que não levam a lado nenhum a não ser à decepção do eleitorado.
Os portugueses sabem que vêm aí tempos muito difíceis. Já foi dito por muitos economistas, pelo Presidente da República e, mais recentemente, pelo Banco de Portugal que, no relatório anual, avisa que o poder de compra das famílias vai sofrer "uma contracção sem precedentes".
Os políticos têm, por isso, de demonstrar respeito pelo sofrimento dos seus concidadãos e para o qual não existe fuga possível. E esse respeito manifesta-se através de uma campanha de verdade, onde se digam exactamente as dificuldades por que todos vamos passar, e não através de malabarismos políticos onde se procura denegrir a imagem do adversário mais directo. Os cidadãos têm mostrado nos últimos actos eleitorais o desencanto que nutrem pela classe política com taxas de abstenção muito elevadas. Ora, é, precisamente, essa abstenção, essa desilusão, que é preciso combater num momento tão difícil da sociedade e da economia nacionais.
As sondagens têm mostrado um eleitorado muito equilibrado em redor dos dois principais partidos - PS e PSD -, a par de um crescimento substancial de intenções de voto no CDS, mas também têm mostrado um número muito elevado de indecisos. Indecisos que podem fazer pender a vitória para qualquer dos lados ou, em alternativa, não se deslocarem sequer às mesas de voto. É para esses que os representantes dos partidos devem falar em primeiro lugar. É a esses que os políticos têm de explicar o que devem fazer para se defender o melhor possível das dificuldades que aí vêm, em vez de passarem o tempo a lançar farpas aos adversários.
O momento é dos mais difíceis a que o País esteve exposto, pelo menos, nas últimas décadas e só uma acção concertada de todos permitirá ultrapassar a situação sem mais custos do que aqueles que já sabemos que vamos ter de pagar pelos empréstimos da União Europeia e do FMI e todos os outros que já tinham sido contraídos no mercado. Portugal não pode falhar no cumprimento das condições a que se obrigou. Poderá renegociar no futuro a taxa de juro com a ‘troika', mas não poderá deixar de pagar as dívidas (a reestruturação de que alguns falam), sob pena de não voltar a ter credibilidade nos mercados nos próximos anos ou mesmo décadas.
Por isso, esta campanha eleitoral terá de ser verdadeira como nunca outra foi. Os portugueses são capazes de fazer sacrifícios para salvar o seu país desde que lhes expliquem, exactamente, como e porque têm de os fazer - como é o caso dos feriados. O eleitorado português, quando o respeitam, tem mostrado ser sábio e realista na hora de escolher o futuro. Só uma política de verdade poderá mobilizar todos, incluindo os indecisos, e preparar Portugal para, nas eleições de 5 de Junho, encontrar uma solução governativa estável e largamente representativa da sociedade portuguesa.
____Francisco Ferreira da Silva, Subdirector
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
23/05/11
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