Aqueles que hoje criticam o Governo por ter aumentado em 1,3 pontos o défice orçamental de 2010, elevando-o para 8,6% do PIB, são no mínimo deselegantes
As regras foram alteradas a meio do jogo, e o Governo limitou-se a seguir as orientações de Bruxelas na análise de dois temas que se encontravam pendentes: os impactos do BPN e do BPP e a inclusão de três empresas de transportes. Sem isso o défice teria caído 0,5 pontos para os 6,8%.
Mas nada disto justifica o comportamento suicida que o primeiro-ministro veio a assumir. Ele conhecerá as motivações. Mas, vista do lado de cá, a leitura é hoje consensual: Sócrates sabia que a vinda do FMI era inevitável, mas também malquista; e ensaiou transferir para outros o ónus da sua intervenção. Um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento. Caiu sem glória, às mãos dos banqueiros, depois de levar o sistema bancário à asfixia.
O volte-face deixou todos boquiabertos. Mas depois percebeu-se: foi o BCE que, farto das birras de Sócrates, deu instruções aos bancos para não comprarem mais dívida. E o edifício ruiu como um baralho de cartas. Perdida entre os escombros ficou a imagem de uma tragédia: mais de €160 mil milhões de dívida, que ninguém sabe como pagar. Perdoem-me o desabafo: esta foi uma das opções mais estúpidas que alguma vez se tomaram em Portugal.
Como esta dívida é ingerível, vamos ter de reestruturá-la. E as hipóteses disponíveis são três: aumento dos prazos, diminuição dos juros ou, no limite, a adopção do famoso ‘hair-cut', que se traduz na renúncia à amortização de uma parte. Mas atenção! Muitos destes milhões estão sediados na banca portuguesa, e uma decisão deste tipo pode levá-la ela própria ao colapso. Seria bom que estivéssemos atentos ao que se está a passar na Irlanda.
Esta é a hora da verdade. Ao que parece, vão emprestar-nos cerca de metade da nossa dívida actual, a troco de um plano de austeridade que ultrapassa em muito o PEC IV que foi chumbado no Parlamento. É uma espécie de xarope que vamos ter de engolir. A obsessão pelo défice público já não chega; vamos juntar-lhe a obsessão pelo défice externo. Alvos no horizonte: alienação de património, flexibilização dos despedimentos, aumento de impostos, cortes nos salários e nas pensões.
Chegou a hora do FMI.
As regras foram alteradas a meio do jogo, e o Governo limitou-se a seguir as orientações de Bruxelas na análise de dois temas que se encontravam pendentes: os impactos do BPN e do BPP e a inclusão de três empresas de transportes. Sem isso o défice teria caído 0,5 pontos para os 6,8%.
Mas nada disto justifica o comportamento suicida que o primeiro-ministro veio a assumir. Ele conhecerá as motivações. Mas, vista do lado de cá, a leitura é hoje consensual: Sócrates sabia que a vinda do FMI era inevitável, mas também malquista; e ensaiou transferir para outros o ónus da sua intervenção. Um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento. Caiu sem glória, às mãos dos banqueiros, depois de levar o sistema bancário à asfixia.
O volte-face deixou todos boquiabertos. Mas depois percebeu-se: foi o BCE que, farto das birras de Sócrates, deu instruções aos bancos para não comprarem mais dívida. E o edifício ruiu como um baralho de cartas. Perdida entre os escombros ficou a imagem de uma tragédia: mais de €160 mil milhões de dívida, que ninguém sabe como pagar. Perdoem-me o desabafo: esta foi uma das opções mais estúpidas que alguma vez se tomaram em Portugal.
Como esta dívida é ingerível, vamos ter de reestruturá-la. E as hipóteses disponíveis são três: aumento dos prazos, diminuição dos juros ou, no limite, a adopção do famoso ‘hair-cut', que se traduz na renúncia à amortização de uma parte. Mas atenção! Muitos destes milhões estão sediados na banca portuguesa, e uma decisão deste tipo pode levá-la ela própria ao colapso. Seria bom que estivéssemos atentos ao que se está a passar na Irlanda.
Esta é a hora da verdade. Ao que parece, vão emprestar-nos cerca de metade da nossa dívida actual, a troco de um plano de austeridade que ultrapassa em muito o PEC IV que foi chumbado no Parlamento. É uma espécie de xarope que vamos ter de engolir. A obsessão pelo défice público já não chega; vamos juntar-lhe a obsessão pelo défice externo. Alvos no horizonte: alienação de património, flexibilização dos despedimentos, aumento de impostos, cortes nos salários e nas pensões.
Chegou a hora do FMI.
IN "DIÁRIO ECONÒMICO"
15/04/11
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