28/04/2011

ALMORRÓIDA OBSERVADORA


DECO alerta que portugueses não têm consciência 
da gravidade da situação


Os processos de sobreendividamento e os pedidos de ajuda para fazer face às dívidas acumuladas continuam a aumentar na DECO, alerta a responsável por este apoio, afirmando que as pessoas ainda não se aperceberam da real gravidade da situação.

"Os pedidos de ajuda estão a aumentar significativamente. Há mais processos abertos mas também mais pessoas que nos contactam a pedir ajuda. Ainda não temos o número global de processos entrados em Abril, mas do que conhecemos é garantido que já ultrapassaram grandemente os do ano passado", disse à Lusa Natália Nunes, coordenadora do gabinete de apoio ao sobreendividamento (GAS).

Na opinião desta especialista, as pessoas ainda não se terão apercebido da gravidade da situação e da necessidade de serem cada vez mais responsáveis com dinheiro. "Vemos que continuam sem fazer o orçamento familiar, sem saber onde estão e como estão a gastar o seu dinheiro", relata.

Natália Nunes alerta que com as taxas Euribor a subir, os preços a aumentar, o desemprego alto e os cortes salariais, o mais provável é que o sobreendividamento aumente face ao ano anterior.

"As pessoas têm que ser mais responsáveis e a melhor forma é fazer um orçamento familiar. Existe uma grande falta de literacia financeira, o que leva as famílias a tomar decisões erradas e a não gerir bem o seu dinheiro", considera.

O principal problema é que estas pessoas recorrem a créditos sem terem em conta a sua taxa de esforço, ou seja sem saberem a implicação que vai ter no orçamento.

"Têm uma noção dos seus gastos, mas da noção até à prática vai uma grande distância. Já têm prestações de créditos para casa e para carro e estas são a somar a outras, sendo que para a habitação é uma taxa variável", acrescenta.

Esta é, aliás, uma realidade que se começa a sentir, uma vez que já há pessoas a pedir ajuda por estar a subir a Euribor e, consequentemente, o crédito à habitação.

Esta opinião é partilhada pela secretária geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), Susana Albuquerque, que considera que falta aos portugueses educação financeira.

Contudo, afirma que se começa já a notar um "comportamento prudente" da parte dos consumidores, a acompanhar a conjuntura, em particular o aumento de desemprego. "Há maior consciência financeira, é muito notório que as pessoas ganharam uma consciência que não tinham, de como é importante poupar e ter uma almofada financeira", afirma.

Para a especialista, a crise constituiu uma abertura dessa consciência financeira e fez ver às pessoas que têm outras opções que não consumir.

"Nunca tivemos tanto interesse e pedidos para aconselhamento personalizado e para ações de formação. Isto aprende-se e pode-se começar a qualquer altura".

Nos primeiros três meses deste ano, a DECO abriu 1.015 processos de ajuda ao pagamento de dívidas, mais 183 do que no ano anterior. Desde 2008, este número quase quadruplicou.

Só em Março foram 403 os processos abertos, mais 42 do que no mês anterior. Segundo dados da DECO, cerca de 46 por cento das famílias têm entre um e três créditos, 35 por cento entre quatro e sete créditos, 13 por cento entre oito e dez créditos e ainda há 5,5 por cento de famílias com mais de dez créditos.

A principal causa das dificuldades destas famílias é o desemprego (29,8 por cento), seguida de doença (16,5 por cento). 


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
28/04/11

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