A farsa eleitoral
As eleições nos clubes de futebol – mais uns do que noutros, dependendo do que está consignado nos estatutos – são genericamente uma farsa.
Os clubes ainda não perceberam que estão a pôr em causa a sua própria credibilidade e a hipotecar cada vez mais o futuro, não apenas com as fórmulas instantâneas que visam maquilhar os gravíssimos erros de gestão dos últimos mandatos, mas sobretudo com esta proteção descarada a um sistema eleitoral que “consagra” a eleição (falsamente) esmagadora de quem ganha nas urnas, sem correspondência no universo de sócios a quem não se facilita a participação nos respetivos atos eleitorais.
No caso do Sporting, por insuficiência estatutária, o caso é gritante. E, mais uma vez, o novo presidente vai ser achado entre aqueles que fazem parte da “ala conservadora” do clube de Alvalade.
Mais uma vez o próximo presidente do Sporting vai ser eleito basicamente pelos sócios que vivem em Lisboa ou na sua periferia. Este centralismo antidemocrático, em pleno séc. 21 e num tempo em que as novas tecnologias devem ser utilizadas exatamente como um instrumento da democracia e das sociedades modernas, como se pode verificar através dos múltiplos exemplos que nos chegam do Mundo, denunciando designadamente os falsos unanimismos de países totalitários, não faz nenhum sentido e não é combatido de forma determinada e com eficácia. Os últimos órgãos sociais eleitos no Sporting nunca mostraram essa preocupação e por isso o clube, que se diz de Portugal, fechou-se numa redoma elitista e viciou-se neste mecanismo de fabricar presidentes ou por um método muito discutível de eleição ou mesmo, numa primeira fase, por cooptação.
Éprofundamente lamentável que, em 2011, os clubes de futebol, quase todos, combatam fórmulas mais abertas e participadas de “associativismo militante”, e há até o caso recente da reeleição de Pinto da Costa em que o número de votantes não foi dado a conhecer à opinião pública...
Enquanto as regras do sistema eleitoral não mudarem, não há forma de conceder qualquer tipo de crédito às eleições nos clubes desportivos -- àqueles que não dão oportunidades iguais a todos os sócios. Mas que raio de democracia é esta?
Independentemente disso, vejo com preocupação o que se está a passar no Sporting, com cinco candidatos envolvidos numa imunda lavagem de roupa suja.
Bruno de Carvalho emergiu apenas pelo vazio de conteúdo da mensagem traduzida pelos concorrentes considerados “mais fortes” e, fundamentalmente, porque os sócios estão cansados desta relação promíscua entre a banca, os seus infiltrados no clube e os altos juros a pagar pelo Sporting em consequência desse tipo de relação que tem contribuído para o enfraquecimento do clube de Alvalade, cada vez mais magro e desossado.
Dias Ferreira acusa os efeitos de uma “falsa partida”, Abrantes Mendes vai ficar-se pelas (boas) intenções e Pedro Baltazar talvez seja o mais rico em conteúdos, contudo com uma grave limitação do ponto de vista de fazer passar a mensagem.
Entre fusões e indisposições, segue-se agora o ciclo de “assegurar a cadeirinha”. Pobre Sporting!
IN "RECORD"
18/03/11
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