Podem dizer quando?
Chega a ser patética esta tendência muito portuguesa do "não sei". É raro aquele que diz que sabe, que tem a certeza do que se passa e daquilo que vai acontecer. A sociedade parece estar dominada por esta doença da incerteza, e isso normalmente gera confusão, desconfiança e descrédito. O "não sei" é contagiante, logo perigoso. Quem não sabe não vai a nenhum lado e quando vai com base no desconhecimento, normalmente engana-se e provoca grandes estragos.
Existe depois uma outra tendência que é a de confundir determinação com sabedoria e tomada de decisões. Errado. Nem sempre um homem ou uma mulher determi- nados sabem qual o caminho a prosseguir. Podem ser determinados em dar ordens, em falar alto e bater o pé. Mas, por detrás desta capa, esconderem enormes fragilidades. Basta lembrar Kant quando dizia que a "preguiça" e a "cobardia" são as verdadeiras fontes da autoridade.
A melhor prova de que a sociedade está adormecida pela incerteza está, por exemplo, na ausência de uma exigência de maior transparência e rigor aos órgãos de soberania. Quando o primeiro-ministro vai ao Parlamento participar num debate quinzenal, como aconteceu na sexta-feira, e faz um discurso em que avança com mais cinco propostas "concretas" para a promoção da inserção dos jovens no mercado de trabalho, ninguém o obrigou a dizer quando. Diga uma data, quando é que vai tomar essas medidas, quando entram em vigor? Nada. Nem o próprio, muito determinado no anúncio, o referiu, nem os deputados lhe perguntaram.
É por estas e por outras que seguiremos o caminho da incerteza. Não existe verdadeira fiscalização dos anúncios de quem promete muito, com grande determinação, mas que depois na prática não segue a sua concretização. Recorde- -se aqui o caso do cartão de eleitor e da confusão nas eleições presidenciais. Quando se tentou saber quais as razões que tinham levado ao descalabro daquele dia, foram muito poucas as certezas, mas o principal responsável continuou determinado na sua cadeira ministerial.
Deixo aqui um outro caso. No dia 30 de Dezembro, o Conselho de Ministros aprovou um decreto-lei que foi anunciado com pompa e circunstância. A medida, no âmbito do programa Simplex, destina- -se a promover o empreendedorismo, sobretudo entre os jovens que querem fazer as suas empresas, e avança com a eliminação dos cinco mil euros necessários para a constituição de uma sociedade. É uma boa iniciativa, serve a que muitos jovens desempregados, que querem fazer empresas online e não têm capital, possam ter uma oportunidade para concretizar uma ideia, um projecto. É urgente que entre em vigor. Mas quando? Não se sabe e já passaram 60 dias. Alguém pergunta porquê?
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
27/02/11
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