Resposta à segunda
e última carta aberta
do Presidente do PS
Só posso lamentar que a actual direcção do PS
não esteja à altura do passado de liberdade e de convivência cívica que são a matriz do
Partido Socialista
Entendeu por bem responder à minha carta aberta de 12 de Fevereiro em resposta à que me dirigiu, exercitando o velho aforismo de tapar o sol com uma peneira. E neste contexto em boa hora o Dr. Alfredo Barroso publicou um texto, que melhor do que eu poderia fazer, retrata a situação que se vive no PS. Por isso lhe aconselho a sua leitura atenta para ficar a conhecer melhor o partido a que preside, bem como as razões que me assistem como militante.
Aliás, militante a prazo segundo parece, porque a frase da sua carta, "partido que por coincidência ainda é o seu" parece apelar a uma das fórmulas mais usadas para ameaçar que o cargo, o emprego, o partido, "ainda é o seu", forma velada de condicionar aqueles que não se adaptem bem à linha justa, sabendo-se que na óptica do poder a linha justa é sempre a sua.
Pela mesma razão, o poder, principalmente o poder decadente, pensa sempre que a sua verdade não está em causa, ou que repetindo a mesma mentira muitas vezes esta se transforma em realidade. Pura ilusão, porque se me permite o segundo conselho, seria bom para Portugal que o PS não insistisse tanto em verdades que a realidade vai sucessivamente destruindo. É uma questão de bom senso.
Na sua nova carta, o Presidente do PS achou por bem não explicar porque se recusa a publicar o texto de um dirigente eleito, ou porque achou que não poderia o texto ser conhecido do plenário da Comissão Nacional, ou qual a causa que levou o militante Cândido Ferreira a afirmar o que aqui evoquei. Ou porque não aceita discutir, olhos nos olhos, com os militantes do partido, a democracia interna e a ausência de debate e de ideias que nos está a conduzir para a irrelevância.
Da mesma forma, como explica o Dr. Almeida Santos que todas as moções apresentadas no último congresso tenham ido para o caixote do lixo, sem qualquer apresentação ou debate? O que justifica esse desrespeito pelas normas estatutárias e, principalmente, pelo trabalho e pelo conhecimento dos militantes socialistas?
Porque de duas uma, ou o Presidente do PS tem andado tão distraído que não vê o que passa à sua volta, ou a realidade lhe é estranha por formação, isto é, prefere não a ver de olhos abertos e por isso os fecha. Em qualquer dos casos, não se dá conta daquilo que cada vez mais portugueses constatam e os meios de comunicação reproduzem diariamente.
O Presidente do PS parece nada saber da promiscuidade entre a política e os negócios; como nunca ouviu falar da partidarização dos cargos públicos; ou desconhece as questões ligadas ao financiamento dos partidos; ou não se deu conta do desgraçado papel que o PS representou na Assembleia da República no tema da corrupção e das chamadas leis Cravinho. O Presidente do PS parece não se aperceber destas minudências, que serão porventura parte das mentiras que me atribuirá.
Só que, infelizmente para o PS, o tempo se encarregará de mostrar que não basta afirmar a detenção da verdade para que ela floresça. Vivemos em democracia e a tentação de negar a realidade desagradável e o amor aos poderes do momento, raramente ficam escondidos para sempre. E a propósito, aquela justificação da crise internacional para explicar que apenas 9% dos portugueses acredita nos partidos políticos é obra e revela bem onde se situa o Presidente Almeida Santos.
Contrariamente ao que diz, é a cegueira interessada das direcções dos principais partidos, como acontece no PS, que cria a desconfiança e dita o afastamento dos cidadãos da vida política. É isso que compromete o futuro do PS e da democracia e não as vozes discordantes daqueles que se batem por um espaço de pensamento e de debate que limite o vazio existente no partido. Por isso só posso lamentar que a actual direcção do PS não esteja à altura do passado de liberdade e de convivência cívica que são a matriz do Partido Socialista.
Uma palavra ainda para dizer que não aceito que julgue a minha sinceridade com a mesma desenvoltura com que julga a oportunidade das intervenções dos militantes socialistas.
Cordiais saudações democráticas e socialistas
IN "i"
21/02/11
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