25/01/2011

ARMANDO ESTEVES PEREIRA


As revoltas do pão

Os portugueses já sentem no bolso a subida assustadora de algumas matérias-primas essenciais. A alta do petróleo traduziu-se numa subida superior a 20% do gasóleo em 12 meses.

O preço do trigo bate recordes, a farinha está cada vez mais cara e o custo do pão mais inflacionado. Se por cá a pressão representa só mais um aperto do cinto do magro orçamento das famílias, em várias regiões do mundo é uma questão de vida ou morte e cria revoltas.

Os recentes protestos em Moçambique são um sinal do desespero de milhões de pessoas. A actual revolução na Tunísia teve por fermento a subida do pão e o vírus de Tunes ameaça outros países árabes que não têm o conforto do petróleo. A subida de preços não parece ser pontual ou resultado de pressões de especuladores.

O dinamismo chinês e a emergência da Índia sustentam a tendência. No caso dos bens alimentares, além do crescente consumo chinês há outro factor importante: a subida do petróleo torna mais atractivo o investimento em biodiesel, o que desvia parte da produção de alimentos. Com estes preços, volta a ser compensador para a agricultura portuguesa produzir cereais. Mas já há poucos agricultores dispostos a investir. Basta uma viagem pelo mundo rural, do Norte ao Alentejo, para ver o pousio. É um paradoxo num País com tanto desemprego. Mas a política oficial e os subsídios europeus também incentivaram o abandono.

IN "CORREIO DA MANHÃ"
22/01/11

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