18/01/2011

ALMORRÓIDA INTERNAUTA


Não tente apagar 
         o seu passado 
                  na Internet

por João Pedro Pereira

Há uma boa razão para não tentar apagar os vestígios que tenha deixado espalhados pela Internet. Muito provavelmente, não vai conseguir e dará o tempo como perdido. O sucesso desta tarefa, porém, depende da actividade online de cada pessoa.

Se nunca esteve no Twitter ou no Facebook, nunca publicou um blogue ou um site pessoal, não participou em fóruns de discussão (e, claro, se não for uma figura pública), a sua pegada online deve ser pequena. Mas existe. Não se esqueça de tudo o que os outros podem publicar e sobre o qual não tem qualquer controlo - desde documentos oficiais que são frequentemente colocados online, como é o caso das listas de notas das universidades ou resultados de concursos públicos de emprego, até textos em blogues que por alguma razão falam de si.

No meu caso, o exercício de tentar apagar os vestígios da actividade online pareceu-me desde logo tarefa impossível: o rasto é grande. Há as contas em redes sociais, dois blogues antigos, um site pessoal e ainda contas de utilizador em dezenas de sites diferentes (companhias aéreas, lojas online, serviços vários que experimentei uma vez e aos quais não voltei). E há também vários artigos escritos para este jornal e que estão espalhados pela Internet (tanto no site do PÚBLICO, como em alguns casos replicados noutras páginas). Uma parte desta informação é pública e surge com uma pesquisa simples no Google. Outra está (presumivelmente) bem guardada atrás dos muros informáticos das empresas a quem a confiei.

Sejamos claros: não tenho qualquer vontade de apagar nada do que tenha publicado na Internet (e também não há nada que outros tenham publicado e que eu, mesmo que pudesse, queira ver apagado). O exercício não consistia em eliminar o meu passado, mas em saber quão difícil seria fazê-lo e parar ainda antes do clique final. Tropecei logo na primeira tentativa.

Um site inapagável

Algures no final da década de 1990, criei o meu primeiro site. Era um espaço dedicado a um passatempo algo obscuro: um jogo de cartas coleccionáveis chamado Magic: the Gathering, em que cada jogador usa feitiços para "matar" o oponente. Com excepção de uma fotografia tipo passe da minha adolescência e de textos de qualidade duvidosa sobre as estratégias de jogo (e de ser óbvio para qualquer visitante que dediquei muitas horas a cartas com ilustrações de figurinhas mágicas), não há lá nada de verdadeiramente embaraçoso. Mas, se houvesse, ficaria na Internet, por muito que me esforçasse para o remover.

O site foi alojado num serviço chamado Tripod, um dos muitos que existiam durante a fase de crescimento da bolha dot-com e que ofereciam espaço para os utilizadores criarem os seus sites. Eram uma espécie de precursores de serviços de blogues, como o Blogger. Ora, não apenas não tenho a mais pequena ideia de qual o meu nome de utilizador e respectiva palavra-passe no Tripod (ainda fiz umas tentativas de adivinhação), como o email que então usei para criar a conta foi há muito abandonado. Não tenho qualquer forma de recuperar os dados de acesso ou sequer de contactar a empresa e provar que sou o criador do site. Desisti.

Pelo contrário, apagar os sites e blogues mais recentes é uma tarefa simples. Mas, se o fizesse, eles não desapareceriam completamente. Exemplo: há uns meses, eliminei por engano um blogue que escrevi durante três anos (bastaram dois ou três cliques desastrados). Quem for ao endereço depara-se agora com uma página de erro. Mas vestígios deste blogue ainda surgem no Google. E referências aos textos que escrevi estão espalhadas por outros blogues. Faz parte do funcionamento da Internet: pode-se apagar o conteúdo original, mas este está inevitavelmente replicado e espalhado pela rede.

O Big Brother Google

Um dos gigantes online que agregam uma impressionante quantidade de informação é o Google. Uma porção muito grande da minha vida online está nos servidores desta empresa. Frequentemente (sobretudo antes da explosão do Facebook, que se tornou o novo alvo), a multinacional americana era por isto comparada ao Big Brother e repetia-se até à exaustão que estava a abandonar o seu conhecido mote de não ser má.

IN "PÚBLICO"
17/01/11

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