Bacharel em Direito, pela Universidade de Coimbra (1894-1900), radicou-se em Lisboa, exercendo durante dezasseis anos as funções de redactor na Câmara dos Deputados (1900-1916). Passou depois a dedicar-se exclusivamente à escrita literária. Durante a juventude participou na redacção alguns jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante . Com a publicação do livro Para Quê? (1897) marca a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária — Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) — encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927). A obra poética culmina com o inovador e epigonal livro Onde a terra se acaba e o mar começa (1940). (
O carácter activo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do Salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, um dos primeiros representantes do Neogarretismo e esteve ligado à corrente conhecida como Renascença Portuguesa.
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Afonso Lopes Vieira
[Leiria, 1878 - Lisboa, 1946]
Filho de um advogado, cursou Direito em Coimbra de 1895 a 1900 e praticou a advocacia em Lisboa. Em 1902 encontra-se a exercer o cargo de redactor da Câmara dos Deputados. Em 1916 passa a dedicar-se exclusivamente à literatura, empenhando-se num admirável esforço de divulgação e valorização de obras e escritores clássicos portugueses, aqueles que, de acordo com o seu nacionalismo esclarecido, melhor traduzem o espírito e a sensibilidade lusitanos.
Não foi por certo alheio a este voluntário apostolado cultural o facto de Afonso Lopes Vieira ter pertencido a uma geração de homens animados por ideais renascentistas, homens para quem literatura e Pátria eram realidades co-naturais, a uma cabendo uma missão orientadora e sendo a outra uma entidade fundamentalmente espiritual e linguística.
Afonso Lopes Vieira contribuiu profundamente para o refortalecimento do nosso património literário e cultural ao promover o gosto pelo teatro vicentino, adaptando algumas peças (Monólogo do Vaqueiro, Auto da Barca do Inferno) e proferindo diversas conferências (A Campanha Vicentina. Conferências & Outros Escritos, 1914), ao restituir à língua portuguesa duas obras que corriam em versão castelhana, o Amadis de Gaula (O Romance de Amadis, 1922) e a Diana de Montemor (A Diana de Jorge de Montemor em Português, 1924), ao interessar-se por uma edição nacional d' Os Lusíadas, com a reprodução do texto da edição princeps de 1572, e por uma edição crítica da Lírica, ao escrever livros de comovida singeleza para crianças e adultos, ilustrados e musicados por artistas como Raul Lino e Tomás Borba (Animais Nossos Amigos, 1911; Bartolomeu Marinheiro, 1912; Poesias sobre as Cenas Infantis de Schumann, 1915).
Nomes como os de Francisco Rodrigues Lobo e João de Deus suscitam-lhe igual atenção, tendo seleccionado, anotado e prefaciado parte das suas obras (Poesias de Francisco Rodrigues Lobo, 1940; Corte na Aldeia de Francisco Rodrigues Lobo, 1946; O Livro de Amor de João de Deus, 1921).
Mas a importância de Afonso Lopes Vieira na história da nossa literatura não se resume a esta actividade intensa de investigador, divulgador e animador cultural. Também foi poeta e prosador.
Como poeta colaborou com outros neo-românticos na 1ª. série da revista A Águia (1911). Teixeira de Pascoaes dá como exemplo da «nova poesia portuguesa» um livro seu, Canções do Vento e do Sol, publicado em 1911. Mas já antes, em 1905, ele provara uma inclinação, aliás muito em voga neste período, pela literatura de tradição sebastianista, com a escolha de O Encoberto para título de um poema (um ano antes Sampaio Bruno publicara um livro com o mesmo título e em 1902 tinha vindo postumamente a público o poema sebastianista O Desejado, incluído no livro Despedidas de António Nobre).
O sebastianismo viria a tornar-se um dado essencial para a vivêncla do grupo da Renascença Portuguesa como a de outros saudosistas, a poesia de Afonso Lopes Vieira é evocativa (de pessoas, lugares, tradições e lendas), especialmente voltada para a exploração de temas nacionais e para a glosa de formas e ritmos tradicionais, de origem culta e popular. Acusa, no entanto, uma invulgar consciência estética, pouco comum na poesia que então se praticava, patente desde logo no apuro da forma e do estilo e no modo como o poeta explora a possibilidade de encontro da sua voz com a de outros poetas nacionais (as de Bernardim e Camões, por exemplo).
Como prosador, os títulos das suas obras são por si esclarecedores do interesse que sempre demonstrou pelos assuntos nacionais: tratamento de temas da tradição histórica e literária (Inês de Castro na Poesia e na Lenda, 1913; A Paixão de Pedro o Cru, 1940;A Poesia nos Painéis de S. Vicente, 1914; O Canto Coral e o Orfeão de Condeixa, 1916); problemática em torno da nossa arte ( indagação do nosso ser e espiritualidade (Em Demanda do Graal, 1922; Nova Demanda do Graal, 1942).
O nacionalismo tradicionalista de Afonso Lopes Vieira não se reconhece no Integralismo Lusitano da Nação Portuguesa, a cujo órgão o seu nome anda ligado por nele ter desempenhado breves funções directivas, mas tão-pouco se impõe como um nacionalismo conservador junto do Grupo da Biblioteca Nacional, ao qual o escritor pertence, com Jaime Cortesão, António Sérgio, Aquilino Ribeiro e Raul Proença. O seu nacionalismo assentava na ideia do «reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu», para o que contribuiu, quer como cidadão esclarecido (opôs-se ao regime de ditadura saído do golpe militar de 1926), quer como erudito inspirado (criou, traduziu, adaptou, proferiu conferências, participou em campanhas de civismo estético), quer ainda como homem viajado (visitou a Espanha, França, Bélgica, Itália, Norte de África, Angola, Brasil) que soube criar uma atmosfera de sadio cosmopolitismo no pequeno círculo intelectual da sua casa de São Pedro de Moel.
Não foi por certo alheio a este voluntário apostolado cultural o facto de Afonso Lopes Vieira ter pertencido a uma geração de homens animados por ideais renascentistas, homens para quem literatura e Pátria eram realidades co-naturais, a uma cabendo uma missão orientadora e sendo a outra uma entidade fundamentalmente espiritual e linguística.
Afonso Lopes Vieira contribuiu profundamente para o refortalecimento do nosso património literário e cultural ao promover o gosto pelo teatro vicentino, adaptando algumas peças (Monólogo do Vaqueiro, Auto da Barca do Inferno) e proferindo diversas conferências (A Campanha Vicentina. Conferências & Outros Escritos, 1914), ao restituir à língua portuguesa duas obras que corriam em versão castelhana, o Amadis de Gaula (O Romance de Amadis, 1922) e a Diana de Montemor (A Diana de Jorge de Montemor em Português, 1924), ao interessar-se por uma edição nacional d' Os Lusíadas, com a reprodução do texto da edição princeps de 1572, e por uma edição crítica da Lírica, ao escrever livros de comovida singeleza para crianças e adultos, ilustrados e musicados por artistas como Raul Lino e Tomás Borba (Animais Nossos Amigos, 1911; Bartolomeu Marinheiro, 1912; Poesias sobre as Cenas Infantis de Schumann, 1915).
Nomes como os de Francisco Rodrigues Lobo e João de Deus suscitam-lhe igual atenção, tendo seleccionado, anotado e prefaciado parte das suas obras (Poesias de Francisco Rodrigues Lobo, 1940; Corte na Aldeia de Francisco Rodrigues Lobo, 1946; O Livro de Amor de João de Deus, 1921).
Mas a importância de Afonso Lopes Vieira na história da nossa literatura não se resume a esta actividade intensa de investigador, divulgador e animador cultural. Também foi poeta e prosador.
Como poeta colaborou com outros neo-românticos na 1ª. série da revista A Águia (1911). Teixeira de Pascoaes dá como exemplo da «nova poesia portuguesa» um livro seu, Canções do Vento e do Sol, publicado em 1911. Mas já antes, em 1905, ele provara uma inclinação, aliás muito em voga neste período, pela literatura de tradição sebastianista, com a escolha de O Encoberto para título de um poema (um ano antes Sampaio Bruno publicara um livro com o mesmo título e em 1902 tinha vindo postumamente a público o poema sebastianista O Desejado, incluído no livro Despedidas de António Nobre).
O sebastianismo viria a tornar-se um dado essencial para a vivêncla do grupo da Renascença Portuguesa como a de outros saudosistas, a poesia de Afonso Lopes Vieira é evocativa (de pessoas, lugares, tradições e lendas), especialmente voltada para a exploração de temas nacionais e para a glosa de formas e ritmos tradicionais, de origem culta e popular. Acusa, no entanto, uma invulgar consciência estética, pouco comum na poesia que então se praticava, patente desde logo no apuro da forma e do estilo e no modo como o poeta explora a possibilidade de encontro da sua voz com a de outros poetas nacionais (as de Bernardim e Camões, por exemplo).
Como prosador, os títulos das suas obras são por si esclarecedores do interesse que sempre demonstrou pelos assuntos nacionais: tratamento de temas da tradição histórica e literária (Inês de Castro na Poesia e na Lenda, 1913; A Paixão de Pedro o Cru, 1940;A Poesia nos Painéis de S. Vicente, 1914; O Canto Coral e o Orfeão de Condeixa, 1916); problemática em torno da nossa arte ( indagação do nosso ser e espiritualidade (Em Demanda do Graal, 1922; Nova Demanda do Graal, 1942).
O nacionalismo tradicionalista de Afonso Lopes Vieira não se reconhece no Integralismo Lusitano da Nação Portuguesa, a cujo órgão o seu nome anda ligado por nele ter desempenhado breves funções directivas, mas tão-pouco se impõe como um nacionalismo conservador junto do Grupo da Biblioteca Nacional, ao qual o escritor pertence, com Jaime Cortesão, António Sérgio, Aquilino Ribeiro e Raul Proença. O seu nacionalismo assentava na ideia do «reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu», para o que contribuiu, quer como cidadão esclarecido (opôs-se ao regime de ditadura saído do golpe militar de 1926), quer como erudito inspirado (criou, traduziu, adaptou, proferiu conferências, participou em campanhas de civismo estético), quer ainda como homem viajado (visitou a Espanha, França, Bélgica, Itália, Norte de África, Angola, Brasil) que soube criar uma atmosfera de sadio cosmopolitismo no pequeno círculo intelectual da sua casa de São Pedro de Moel.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994
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