Famílias a um passo
de enfrentar a "tempestade perfeita"
por Sónia Peres Pinto
Salários e pensões em queda, preços a subir mais que a inflação, o IVA chega aos 23%... Só falta o BCE subir os juros para a tempestade ser perfeita
"Pior é impossível." Esta é uma expressão que alguns evitam, porque nunca nada é tão mau que não possa piorar. E a mesma receita aplica-se ao cenário económico do ano que aí vem, em que a regra para a maioria dos portugueses vai ser esticar ao máximo o orçamento familiar.
Como se não bastassem as reduções salariais na função pública, o congelamento das pensões e dos ordenados no privado, os cortes nos apoios sociais e as subidas dos impostos, quase tudo vai aumentar de preço. É o caso da alimentação, da água, da luz, do vestuário, dos transportes, da educação e da saúde. Estes gastos pesam quase 80% nas despesas totais das famílias. Alguns produtos devem respeitar a inflação prevista para 2011, mas há bens que vão subir bem acima dos 2,2%. Conclusão, o rendimento das consumidores vai diminuir, o que vai obrigar a uma maior ginástica financeira. Pior é impossível? Olhe que não. O BCE ainda pode decidir subir os juros.
Com o próximo ano virá quase uma tempestade perfeita. É verdade que geralmente ano novo implica preços novos, mas além disso, e das reduções salariais, etc., 2011 também vai ficar marcado pela subida taxa do IVA (de 21% para 23%) já a 1 de Janeiro. E a vida dos consumidores poderá tornar-se ainda mais difícil caso os juros e os spreads dos créditos à habitação subam, o que poderá acontecer já nos próximos meses.
Para já, o BCE garantiu que vai manter a taxa de juro de referência em 1%. No entanto, se a entidade liderada por Jean-Claude Trichet alterar este valor, a tempestade sobre os consumidores portugueses será realmente perfeita.
Aumentos
Transportes
Os passes sociais nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto vão aumentar 3,5%; já as restantes tarifas de transporte vão subir em média 4,5%. Por exemplo, o passe L1 fica 1,4 euros mais caro. Também os táxis vão aumentar 5% nas grandes cidades. O preço da bandeira não sofre qualquer alteração, apenas o tempo de espera sobe
de 13,35 para 14,80 euros.
Energia
A electricidade vai aumentar 3,8%. Esta subida vai afectar 4,7 milhões de consumidores. Por exemplo, uma família que pague todos os meses cerca de 40 euros, com este aumento terá de pagar mais 1,50 euros na sua factura mensal. Optar pela tarifa bi-horária poderá representar alguma poupança. Segundo a ERSE, é possível poupar 218 euros anuais.
Saúde
As taxas moderadoras vão aumentar. Por exemplo, as consultas dos hospitais sobem 10 cêntimos; já nos centros de saúde a subida é de 5 e as urgências aumentam 20 cêntimos. Também os preços dos medicamentos vão ser sofrer alterações. Em Janeiro arranca o novo regime de comparticipações, o que vai afectar inevitavelmente o bolso dos portugueses.
Pão
Os industriais da panificação estão a prever uma subida de 12% nos preços em 2011. Os empresários dizem que este aumento está relacionado com a subida do preço da farinha – cujo preço disparou cerca de 40%. Se o valor se confirmar, representará o maior aumento de todos aqueles que estão previstos nos mais diversos sectores e actividades.
Comunicações
As operadoras móveis já admitiram que irão reflectir o aumento do IVA – de 21% para 23% – no preço das chamadas em 2011. Além disso, as ligações deverão ainda registar uma subida de 2,2% em linha com a inflação esperada. Esta posição já foi assumida pelas três operadoras móveis: TMN, Vodafone e Optimus. Os restantes serviços também devem subir.
Automóvel
O sector automóvel vai reflectir o aumento do IVA no preço final. O governo prevê ainda alterar as tabelas de imposto sobre veículos (ISV) e o imposto único de circulação. Em matéria de ISV, o executivo vai aumentar 2,2% as taxas referentes à componente ambiental e introduz um novo coeficiente. Termina também o incentivo ao abate de veículos em fim de vida.
Portagens
As portagens nas auto-estradas da Brisa vão aumentar 2,3%. Por exemplo, o percurso Lisboa/Porto na A1 sobe 25 cêntimos, para 19,95 euros, e a viagem Lisboa/Algarve na A2 aumenta 30 cêntimos, para 18,95 euros. Este caso não deverá ser isolado; a tendência poderá ser seguida pelas restantes concessionárias a operar no mercado português.
Combustíveis
Ainda não há valores concretos para aumentos em 2011, já que os valores são revistos periodicamente. Porém, além do impacto da subida do preço das matérias-primas, o sector vai ainda reflectir o aumento do IVA. É de esperar que o preço do gasóleo suba 4 cêntimos por litro já em Janeiro. Recorrer aos combustíveis de marca branca pode ser uma solução.
Compras
Uma simples ida ao supermercado pode ser muito perigosa para a sua carteira. Prevê-se um aumento generalizado na maioria dos produtos em consequência da subida do preço das matérias-primas. Também a tarefa de comprar roupa ou calçado novo pode não ser fácil em termos monetários. O sector prepara-se para aumentar os valores na casa dos 10%.
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27/12/10
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