10/10/2010

1 - PENÍNSULA IBÉRICA - PRÉ HISTÓRIA

A pré-História da Península Ibérica iniciou-se com a chegada dos primeiros hominídeos à Península Ibérica há cerca de 1.2 milhões de anos atrás e durou até ao início das guerras Púnicas, quando o território entrou no domínio da história escrita. Neste longo período alguns dos marcos notáveis são:

* Ter sido o último reduto do homem Neandertal antes da sua extinção;
* Registar alguns dos mais impressionantes exemplos de arte paleolítica a par da França;
* Acolher as mais antigas civilizações da Europa ocidental, sendo um apetecível território a que afluiram vários povos, pela posição estratégica e as muitas riquezas minerais.

No estudo da pré-história existe o problema fundamental que dificulta sua investigação: estabelecer a cronologia exata, principalmente das datas referentes aos primeiros habitantes, sua procedência, relacão étnica com os diferentes tipos pré-históricos e sua localização.

 Representação rupestre de gado (cavalo e cabras) 

Condicionantes: geografia e clima

O carácter penínsular, limitado pelo Atlântico a oeste e pela barreira natural dos Pirinéus criou um isolamento em relação à restante Europa Continental, que em algumas ocasiões contribuiu para originar uma relativa separação entre a evolução da Península Ibérica e da restante Europa. A localização geográfica constituiu porém a ponte que une a Europa ao norte da África, formando uma conexão entre os continentes africano e europeu. Outro condicionador foi a influência dupla do mar, com a ligação tanto ao oceano Atlântico como ao mar Mediterrâneo.

No interior a acção dos rios, mais caudalosos que actualmente, produziu planícies fluviais que propiciaram um ambiente favorável para o homem. Também está provado que existiu uma actividade vulcânica, sobretudo nas zonas da atual província de Ciudad Real e de Gerunda.

O clima deixou de mudar à medida que se desenrolaram alternadamente as quatro eras glaciais e as eras interglaciais. Apesar das glaciações terem sido diferentes entre si, em geral pode dizer-se que na Meseta havia um clima mais extremo e chuvoso que agora, comparável ao existente na Polônia ou Rússia atuais. A costa cantábrica era muito mais fria e húmida, similar ao atual norte da Escócia, e a população da Andaluzia gozaria de um clima mais frio que o do sul da França. Durante os períodos interglaciais, este último seria o clima da costa cantábrica, enquanto Andaluzia seria muito ensolarada e a região levantina teria um clima semi-árido.

Tendo em conta que a maior atividade dos habitantes da Ibéria consistia em caça, cabe mencionar as mudanças que a fauna ibérica teve com as mudanças climáticas. Nos períodos glaciais os animais característicos foram o mamute, o rinoceronte peludo e a Rena, espécies vindas do centro e norte da Europa que buscavam o clima relativamente ameno da península. Durante os períodos interglaciais, o elefante meridional, o elefante antigo e o rinoceronte de Merk foram os animais mais comuns. Indiferentes a todas as mudanças climáticas, também haviam outros animais como ursos, lobos, cavalos, bisontes, javalis e cabras,

Todos estes fenômenos geraram uma variedade cultural, de vida e mentalidades que explicam a diversidade permanente do território peninsular.

 Presença do homem do Neandertal (Homo Neanderthalensis) na Europa. Há cerca de 200.000 anos, no paleolítico inferior, os neandertais chegaram à península, presença que perdurou até 28.000 a.C., quando o homem do neandertal se extinguiu, sendo o seu último refúgio o actual território de Portugal.

Paleolítico

~ 1,2 milhões de anos AC- 7.000 AC

Presença do homem do Neandertal (Homo Neanderthalensis) na Europa. Há cerca de 200.000 anos, no paleolítico inferior, os neandertais chegaram à península, presença que perdurou até 28.000 a.C., quando o homem do neandertal se extinguiu, sendo o seu último refúgio o actual território de Portugal.

A ocupação por hominídeos data do paleolítico, registando-se diversos vestígios em Portugal e Espanha. A península Ibérica é rica em vestígios pré-históricos. Muitos dos mais bem preservados estão na região de Atapuerca, em Espanha, rica em grutas calcárias que preservaram os registos de um milhão de anos de evolução humana. Entre estes locais está a cave de Gran Dolina onde se encontraram seis ossadas de hominídeos datados de 780.000 a 1,2 milhões de anos, estando entre os mais antigos da Europa. Os peritos debatem se estes pertencerão às espécies Homo erectus, Homo heidelbergensis, ou uma nova espécie, o Homo antecessor. Na Gran Dolina encontrou-se também prova do uso de ferramentas e de fogo.
 Biface de quartzite, 350.000 a.C., Atapuerca, Espanha.

Também em Atapuerca, está a estação de Sima de los Huesos, onde se encontraram os vestígios de 30 hominídeos datados de há cerca de 400.000 anos, possivelmente de Homo heidelbergensis e possivelmente antecessores de neandertais. Sem vestígios de habitação, excepto um machado, o que sugere que este poderá ter sido um monumento funerário, o que seria o primeiro exemplo encontrado entre hominídeos.

Há provas de uma vasta ocupação pelo Homo Neanderthalensis desde 200.000 a.C. O homo sapiens terá entrado na península posteriormente, no fim do paleolítico. Durante algum tempo neandertais e o homem moderno (homo sapiens) coexistiram, até à extinção do primeiro, sendo o seu último refúgio do homem do neandertal o território do actual Portugal.

Há cerca de 200.000 anos, durante o paleolítico inferior, os neandertais chegaram à península. Cerca de 70.000 a.C, no Paleolítico Médio, iniciou-se a última glaciação e a cultura mousteriana neandertal estabeleceu-se. Cerca de 35.000 a.C., durante o Paleolítico Superior, a cultura neandertal Châtelperroniana vinda do sul de França estendeu-se ao norte da península Ibérica. Esta cultura perdurou até 28.000 a.C., quando o homem do neandertal se extinguiu, sendo o seu último refúgio o território do actual Portugal. O homo sapiens continuaria a ocupar a península ao longo dos períodos Mesolítico e Neolítico.
Foi sobretudo no Paleolítico Superior que se desenvolveram as primeiras expressões artísticas em solo português devido a um rigoroso período de glaciação que se verificou nesta época.
Em 1994 foi achado em Portugal do maior complexo de arte rupestre paleolítico ao ar livre conhecido até hoje: Há 20 000 anos, o homem gravou milhares de desenhos representando cavalos e bovídeos nas rochas xistosas do vale do Côa, afluente do rio Douro, no nordeste de Portugal. os Sítios de arte rupestre do Vale do Côa situam-se ao longo das margens do rio Côa, sobretudo no município de Vila Nova de Foz Côa. Formam uma rara concentração de arte rupestre composta por gravuras em pedra datadas do Paleolítico Superior (22000 - 10000 a.C.), constituindo o mais antigo registo de actividade humana de gravação existente no mundo.
Entre os achados mais importantes está a gruta de Altamira, na Cantábria (Espanha), na qual se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes de toda a Pré-História. Pertence aos chamados períodos Magdaleniano (entre 16.500 e 14.000 anos atrás) e Solutreano (18.500 anos atrás), dentro do Paleolítico Superior, e o seu estilo artístico constitui a denominada "escola franco-cantábrica" (de que faz parte a notável gruta de Lascaux), caracterizada pelo realismo das figuras representadas.

À parte destes existem outros locais onde a arte das cavernas e ao ar livre se destacam, concentrando-se, na sua maioria, na Estremadura, mais precisamente na Península de Lisboa, tais como a gruta do Escoural, Montemor-o-Novo, Mazouco. A temática da pintura foca sobretudo episódios do dia-a-dia, como por exemplo uma caçada ou uma batalha com uma tribo inimiga. As gravuras são muito simples, zoomórficas e monocromáticas. Durante este período não existem quaisquer vestígios arquitectónicos devido à natureza nómada das tribos.

Mesolítico

O Mesolítico (pedra intermediária) é um período intermediário entre o Paleolítico e o Neolítico presente (ou pelo menos, com duração razoável) apenas em algumas regiões do mundo.

 Réplica do tecto com pinturas policromas da  

As regiões que sofreram maiores efeitos das glaciações tiveram Mesolíticos mais evidentes. Na península Ibérica, menos afectada pelas glaciações, não se fez sentir com intensidade.

O final do Paleolítico dá lugar ao aparecimento da cultura azilense na zona pirenaica, com extensão pela zona cantábrica da Península Ibérica, cultura de transição sem grandes novidades e que continua as antigas técnicas paleolíticas. Maior importância adquirem os concheiros portugueses das margens do Tejo, como os Concheiros de Muge onde está assente uma população que vai evoluindo lentamente e na qual aparecem já muitos elementos raciais mistos. Os principais jazigos são Cabeço da Amoreira, Cova da Onça e Fonte do Padre Pedro. A este ciclo cultural pertencem também as oficinas de trabalho manual de sílex, ao ar livre, que existem na região tarraconense.

Neolítico

~ 7000 AC - 3000 AC

A chamada Revolução Neolítica, com a passagem do Homem de simples recolector para a agricultura, levou as populações a fixar-se definitivamente, tendo por base uma economia produtora e proporcionando um maior controle das fontes de alimentação.


Embora a península tenha desenvolvido tardiamente a agricultura, o Neolítico trouxe mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há 7 mil anos, com o desenvolvimento da agricultura e o início da cultura megalítica da Europa, que viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte do Norte de África. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal.

Persistem numerosos registos, como dolmens, antas e cromeleques e menires, como o Cromeleque dos Almendres, um monumento megalítico situado na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, concelho de Évora, Distrito de Évora. Trata-se do monumento megalítico mais importante de toda a Península Ibérica, não só devido à sua dimensão, mas também, devido ao seu estado de conservação. É também considerado um dos mais importantes da Europa.



  Anta de S. Geraldo, Portugal.

 Cerâmica cardial da caverna de La Sarsa, Valência.

Na primeira fase do Neolítico, 7000 a.C., desenvolveu-se na península a cultura da cerâmica cardial, caracterizada pela decoração impressa com conchas de berbigão (cardium edule). Desta cultura encontram-se jazidas na Catalunha, Levante e Andaluzia. Nelas há mostras de práticas agrícolas.

Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, da cultura da cerâmica cardial, associada igualmente a processos migratórios.

Note-se que, com algumas excepções localizadas, os dados arqueológicos demonstram que este processo foi essencialmente de aculturação das populações europeias, mais do que de migração em massa. Mesmo assim, a Cultura da Cerâmica Cardial terá tido um papel de relevo no lento desenvolvimento das primeiras culturas Neolíticas das regiões Atlânticas, embora com maior impacto directo nas zonas do leste ibérico (apresenta uma distribuição basicamente mediterrânica, particularmente na Catalunha, Valência, Vale do Ebro e Baleares). De facto, os monumentos megalíticos europeus estão frequentemente acompanhados de restos arqueológicos de cerâmica e outros artefactos provenientes desta cultura.

Também a pintura levantina e a arte esquemática na península Ibérica, que evoluiria nos tempos seguintes são características do neolítico peninsular. Estava localizada em abrigos rochosos das serras interiores e representa cenas de grupos, com muito dinamismo e figura humanas estilizadas, reflexo de um maior grau de abstracção e esquematização.

WIKIPÉDIA

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