FreeSócrates
Confiamos na nossa Justiça? Repito: confiamos na nossa Justiça? Se sim, é preciso pedir desculpa a José Sócrates.
É melhor fazê-lo por escrito, por expiação colectiva, com milhões de assinaturas.
A nossa Justiça não encontrou provas para acusar o primeiro-ministro das infamantes suspeitas de que foi alvo nos últimos anos. E como não há prova em contrário, Sócrates é inocente. Por mais erros que o primeiro-ministro tenha cometido na gestão desse processo, por mais obtusas que tenham sido as suas reacções, por mais censuráveis que tenham sido as suas expressões contra as Mouras e os Guedes, nada supera uma conclusão: Sócrates é inocente.
O sistema de Justiça que executou ou deixou executar as fugas de informação selectivas para torrar a sua credibilidade, cirurgicamente antes de duas eleições com quatro anos de intervalo, deve-lhe um pedido de desculpas. E as redacções que o prenderam ao pelourinho no meio de uma pedreira devem-lhe um pedido de desculpas. E os partidos políticos que se colaram ao lastro de suspeitas devem-lhe um pedido de desculpas. A justiça deve vestir o burel de Egas Moniz e humilhar-se aos pés de cada inocente que tritura por perfídia.
Essa simulação de justiça, que é a sua própria negação, que nunca condena nem absolve, vai acabar por cair de podre. É a própria justiça que está a desbaratar a sagrada separação de poderes que a protege. Sem responsabilidade, a liberdade perde-se. É isso que a Justiça está a fazer, a entregar-se às mãos daqueles que a vão violentar: os políticos, quando empossados de legisladores. Fá-lo-ão pelas melhores e pelas piores razões, mas só o farão porque a justiça, que devia ser o Estado, se tornou um Estado dentro do Estado.
Feche num quarto escuro um polícia, um procurador e um juiz e veja o que de lá sai: sai sangue, sangue que ensopa nos jornais aos pés dos advogados que ficaram à porta.
Estranha justiça, esta, que tem credibilidade de boato desmentido. O País, incrédulo, fia-se na acusação e não confia na absolvição. Assiste, no Jornal da Tarde, a "Casos Joana" em que se prova o crime sem criminoso, para no Jornal da Noite especar com "casos Freeport" de criminosos sem crime provado.
No Freeport não houve prova sequer de irregularidade no licenciamento ambiental. Terá havido, sim, trafulhas que se penduraram em nomes sonantes para praticar extorsão e suborno. Financiamentos partidários? Enriquecimento ilícito? As suspeitas difundidas deram em nada. A justiça falhou, lentamente, antes ou depois. Ou antes e depois.
José Sócrates deixou de estar inocente para ser inocente. Quem é o culpado?
PS1. No mesmo dia em que Sócrates venceu a arquitectura engendrada da Justiça, quatro antigos banqueiros foram pronunciados para responder em tribunal no "caso BCP". A esse outro caso de justiça voltaremos.
PS2. O prazo suplementar que a PT pedira à Telefónica, que lho negou, está a terminar. A empresa está a caminho de garantir uma entrada na Oi, com cruzamento de participações, pagando um preço caro em face da sua avidez para resolver o problema. Tudo acabará bem? Ainda não: tanto dinheiro em cima da mesa é como um pote mel entre ursos que já lambem os beiços.
A nossa Justiça não encontrou provas para acusar o primeiro-ministro das infamantes suspeitas de que foi alvo nos últimos anos. E como não há prova em contrário, Sócrates é inocente. Por mais erros que o primeiro-ministro tenha cometido na gestão desse processo, por mais obtusas que tenham sido as suas reacções, por mais censuráveis que tenham sido as suas expressões contra as Mouras e os Guedes, nada supera uma conclusão: Sócrates é inocente.
O sistema de Justiça que executou ou deixou executar as fugas de informação selectivas para torrar a sua credibilidade, cirurgicamente antes de duas eleições com quatro anos de intervalo, deve-lhe um pedido de desculpas. E as redacções que o prenderam ao pelourinho no meio de uma pedreira devem-lhe um pedido de desculpas. E os partidos políticos que se colaram ao lastro de suspeitas devem-lhe um pedido de desculpas. A justiça deve vestir o burel de Egas Moniz e humilhar-se aos pés de cada inocente que tritura por perfídia.
Essa simulação de justiça, que é a sua própria negação, que nunca condena nem absolve, vai acabar por cair de podre. É a própria justiça que está a desbaratar a sagrada separação de poderes que a protege. Sem responsabilidade, a liberdade perde-se. É isso que a Justiça está a fazer, a entregar-se às mãos daqueles que a vão violentar: os políticos, quando empossados de legisladores. Fá-lo-ão pelas melhores e pelas piores razões, mas só o farão porque a justiça, que devia ser o Estado, se tornou um Estado dentro do Estado.
Feche num quarto escuro um polícia, um procurador e um juiz e veja o que de lá sai: sai sangue, sangue que ensopa nos jornais aos pés dos advogados que ficaram à porta.
Estranha justiça, esta, que tem credibilidade de boato desmentido. O País, incrédulo, fia-se na acusação e não confia na absolvição. Assiste, no Jornal da Tarde, a "Casos Joana" em que se prova o crime sem criminoso, para no Jornal da Noite especar com "casos Freeport" de criminosos sem crime provado.
No Freeport não houve prova sequer de irregularidade no licenciamento ambiental. Terá havido, sim, trafulhas que se penduraram em nomes sonantes para praticar extorsão e suborno. Financiamentos partidários? Enriquecimento ilícito? As suspeitas difundidas deram em nada. A justiça falhou, lentamente, antes ou depois. Ou antes e depois.
José Sócrates deixou de estar inocente para ser inocente. Quem é o culpado?
PS1. No mesmo dia em que Sócrates venceu a arquitectura engendrada da Justiça, quatro antigos banqueiros foram pronunciados para responder em tribunal no "caso BCP". A esse outro caso de justiça voltaremos.
PS2. O prazo suplementar que a PT pedira à Telefónica, que lho negou, está a terminar. A empresa está a caminho de garantir uma entrada na Oi, com cruzamento de participações, pagando um preço caro em face da sua avidez para resolver o problema. Tudo acabará bem? Ainda não: tanto dinheiro em cima da mesa é como um pote mel entre ursos que já lambem os beiços.
N.A.: este editorial foi escrito às 20 horas de terça-feira, duas horas antes do negócio da PT com a Oi estar fechado. Entretanto, publiquei outro editorial sobre esse negócio: Vivó Sócrates
*Director do Jornal de Negócios. MBA pela Universidade Nova de Lisboa e licenciado em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão
27/07/10
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