Negligência
Nenhuma organização, regra geral, pode ser responsabilizada pela imprudência e o desleixo profissional de um dos seus – a não ser que ela própria seja compassiva com a negligência. As forças de segurança, e a Polícia de Segurança Pública no caso particular do agente Moreira, não fazem tudo o que é recomendável para evitar a incompetência e actos irreflectidos por parte dos seus agentes – principalmente quanto ao uso das armas de fogo. Não bastam os regulamentos, as recomendações operacionais, as directivas superiores. É escusado ser um académico entendido em assuntos de segurança para perceber que os polícias devem ter apurada instrução de tiro e intenso treino – que não têm.
O agente Moreira recebeu a nova pistola – uma Walther P99 de calibre 9 mm – e fez meia dúzia de disparos em Fevereiro de 2009: aprendeu a municiar a arma, a destravá-la e a premir o gatilho. Só voltou a sacá-la do coldre pouco mais de um ano depois – para, sem querer, matar um louco que não respeitou uma ordem para parar o carro. O lamentável episódio demonstra que o agente Moreira não conhecia a arma de serviço que carregava à cintura – e a culpa não é só dele: também é de quem não o instruiu devidamente. Dirão que estava proibido de utilizar a arma naquelas circunstâncias. É verdade. Mas o facto é que fez fogo – gesto revelador de uma perigosa impreparação. Sabe-se que o grupo de polícias perseguidores não era comandado por um graduado: o chefe da equipa ficou apeado quando a carrinha da PSP se lançou atrás do inconsciente em fuga. O agente Moreira teve um duplo azar. Além de não ter aprendido tudo sobre a arma, faltou-lhe o comando de alguém com juízo.
Com o gesto de Pilatos – lavando as mãos da insensatez de um agente – a Direcção Nacional da PSP em nada ajuda os seus 22 mil polícias e em nada contribui para a segurança nas ruas.
Jornalista
in"Correio da Manhã"
31/03/10
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