20/02/2010

CAMILO LOURENÇO




Camilo Lourenço
A impunidade, os intocáveis e a democracia
camilolourenco@gmail.com


Dentre as questões levantadas pelas escutas do processo Face oculta (a confirmarem-se os factos), há uma que se destaca: como que se foi tão longe? A resposta só pode estar ligada ao sentimento de impunidade reinante em Portugal. Em vários sectores. Desde o...
Dentre as questões levantadas pelas escutas do processo Face oculta (a confirmarem-se os factos), há uma que se destaca: como que se foi tão longe? A resposta só pode estar ligada ao sentimento de impunidade reinante em Portugal. Em vários sectores. Desde o político ao empresarial (que, vezes de mais, andam de mãos dadas). Mas como que com tantos "checks and balances" (tribunais, parlamento, presidência, Imprensa livre) essa impunidade chega tão longe? Porque algum não está a desempenhar correctamente a sua função. Quem? Todos: o Parlamento, muitas vezes afundado em discussões estéreis (v.g. Lei das Finanças Regionais); a Presidência, que se deixa intimidar perante acusações de interferência no poder executivo; os tribunais (quantas pessoas foram condenadas por incorrecta utilização de poderes públicos e outros crimes?).

De todos a ausência do poder judicial, seja por que razão for (pressão política, falta de meios), é a pior. Porque amplia o sentimento do cidadão de rua, de que a culpa morre solteira. esta convicção de impunidade que precisa de ser atalhada. O caso Face Oculta, pela sua gravidade, é uma boa oportunidade para dar um sinal de mudança, mostrando que não há intocáveis. Caso contrário estaremos a encorajar quem se move nas margens da lei a ser cada vez mais ousado. Com a inevitável minagem dos alicerces da Democracia.


P.S. Que o poder político queira controlar a comunicação social não espanta. Mas que haja gente do sector a alinhar nisso é uma vergonha

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