DUBAILAND? O xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o soberano do Dubai, vendeu-a ao mundo como a cidade das Mil e Uma Luzes, um Sangri-lá do Oriente Médio protegida das tempestades de areia que assolam a região. É Abril de 2009 e alguma coisa está a mudar no sorriso do xeque Mohammed. Nessa terra do Nunca edificada num extremo do mundo, as Entre os guindastes espalhados por toda parte, muitos estão A canadiana Karen Andrews chegou ao Dubai há quatro anos atrás. "A vida era fantástica". Não tardou muito e Daniel, o marido de Karen, comprou dois imóveis. Mas, pela primeira vez na vida, ele baralhou-se com as finanças. Karen começou a estranhar as confusões financeiras do marido. Passado um ano, descobriu que Daniel tinha um tumor maligno No Dubai, quando um funcionário deixa o emprego, o empregador tem o dever de comunicar o facto ao seu banco. Caso tenha dívidas em aberto, todas as suas contas são bloqueadas e ele fica proibido de sair do país. "De repente, os nossos cartões de crédito deixaram de funcionar. Fomos despejados do nosso apartamento e não tínhamos mais nada". Daniel foi preso no dia do despejo, condenado a seis meses de prisão diante de um tribunal que só falava árabe, sem tradução. "Agora estou aqui, sem nada, aguardando que ele saia da prisão", explica a mulher. Karen dorme dentro dum Range Rover há meses, no estacionamento de um dos hóteis mais chiques de Dubai, graças à caridade dos funcionários bengalis, que não tiveram coragem de a expulsar. O caso de Karen não é único. Por toda a cidade existem emigrantes dormindo clandestinamente nas dunas de areia, no aeroporto ou no próprio carro. "É preciso entender que no Dubai nada é o que aparenta ser", resume a canadiana. "Você é atraído pela idéia de um lugar moderno, mas por trás dessa fachada o que temos é uma ditadura medieval." Trinta anos atrás, quase toda a área onde se ergue hoje o emirado do Al Maktoum decidiu fazer o deserto enriquecer. Planeou construir uma Em apenas três décadas uma cidade inteira surgiu do nada. Um salto do Todas as noites os milhares de peões estrangeiros que constroem o Dubai são levados dos estaleiros das obras para uma imensidão de cimento, em pleno deserto, distante uma hora da cidade. Ali permanecem isolados. São levados em camionetas fechadas, que funcionam como estufas no calor do deserto. São cerca de 300 mil homens que moram amontoados. Depois de muito ouvir, indago se o grupo se arrepende de ter vindo. Todos olham para baixo. Depois de um tempo, alguém rompe o silêncio: "Sinto saudade de meu país, da minha família, da minha terra. Aqui, não dá para plantar nada. Só há petróleo e obras." Um estudo da ONG Human Rights Watch revelou que existe um ocultamento da real extensão das mortes causadas pela exposição ao calor, excesso de trabalho e os suicídios. Na distância, a cintilante silhueta do Dubai ergue-se indiferente. Como se sente o cidadão local diante da ocupação de seu país por Concluo que não é prudente andar a perguntar essas coisas aos dubaienses. O Dubai não é apenas uma cidade vivendo além de seus recursos financeiros. O emirado vive além de seus recursos ecológicos. O Dubai bebe o mar. A água dos emirados, dessalinizada em fábricas espalhadas por todo o Golfo, é a mais cara do planeta. Segundo Dr. Raouf, caso a recessão se transforme em depressão, o Dubai pode ficar desabastecida. O aquecimento global piora ainda mais a situação. "Estamos construindo todas essas ilhas artificais, mas se o nível do mar subir afunda tudo..." Na minha última noite no emirado, já a caminho do aeroporto, parei numa pizzaria perdida no meio das autoestradas. Pergunto à empregada filipina do balcão se ela gosta do lugar. "Gosto", diz ela, inicialmente. "Pois eu detesto", rebato. Ela concorda e desabafa: "Demorei alguns meses para perceber que tudo aqui é falso. Tudo. As palmeiras são falsas, os contratos de trabalho são falsos, as ilhas são falsas, os sorrisos são falsos... O Dubai é como uma miragem. Você acha que avistou água, mas quando chega perto vê que é só areia." O estacionamento do aeroporto está repleto de carros de luxo, não entregues, abandonados por pessoas que voltaram aos seus países de origem. (Segundo a reportagem alguns nomes nesse artigo foram modificados) Lucelena Maia/ Revista Piauí 06/2009. |
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
15/01/2010
Não há fumo sem fogo, o falso paraiso chamado DUBAI
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