Vrum, vrum, a China vai ultrapassar o Japão
Se a história da economia mundial fosse uma corrida de Fórmula 1, então o início de 2010 seria uma curva apertada, com a China a colar-se ao Japão e a preparar-se para ultrapassar. É só esperar a recta, o que acontecerá em breve. Afinal, as estatísticas dão o PIB chinês a atingir os 4,9 biliões de dólares (os trillions anglo-saxónicos), graças a um crescimento em 2009 de 8,7%. E, se os números não são ainda conhecidos, é previsível a quebra de 6% no PIB japonês, que em 2008 se situou pouco acima dos 4,9 biliões. Vrum, vrum, a passagem é certa, com o bólide chinês, pintado com as cores de marcas como Haier e Lenovo, a preparar-se para ter à frente apenas os Estados Unidos, mas estes tão distantes como Michael Schumacher dos rivais.
Há uma década, o carro chinês seguia no sétimo lugar. Depois, graças a taxas de crescimento na ordem dos 10%, foi ultrapassando os concorrentes. Primeiro a Itália, depois a França, de seguida o Reino Unido e após muita pressão a Alemanha, que só em 2007 deu espaço para a China passar para terceira potência económica. Continuando a acelerar, mesmo em tempos de crise, seguiu-se a aproximação ao Japão, que pouco fez em defesa do segundo lugar. Discretamente, lá atrás, a França trocou de posições com o Reino Unido.
É resultado da liberalização da economia este milagre chinês. Quando em 1979 Deng Xiaoping declarou que enriquecer era glorioso, o sistema comunista começou a adaptar-se a uma economia capitalista que trazia a prosperidade que a ideologia de Mao Tsé-Tung fora capaz de obter. Mas manteve-se o orgulho no legado nacionalista do fundador da República Popular e o PC chinês fez do sucesso económico e da honestidade as suas fontes de legitimidade, por isso o combate implacável à corrupção. Empresários gananciosos, como os que adulteraram leite em pó , foram executados. Dirigentes locais desonestos, como um ex-presidente da câmara de Pequim, estão presos. E há dias um antigo vice-presidente do supremo tribunal foi condenado a prisão perpétua por aceitar subornos.
O carro chinês vai continuar a acelerar no circuito da economia mundial, mesmo que uma ultrapassagem aos Estados Unidos possa tardar décadas. Afinal o PIB americano ronda os 14,4 biliões. Mas o tempo não é problema. Durante o reinado de Qianlong, há 250 anos, o carro chinês liderava confortável a corrida, seguido pelo da Índia. Valia então um terço da riqueza mundial, contra menos de 10% hoje, o que mostra como está longe de esgotado o potencial dos 1330 milhões de habitantes.
A China pode já ser a segunda economia do planeta, mas na escala da riqueza individual ainda anda perto do centésimo lugar, como as autoridades chinesas gostam de recordar, com humildade, mas sobretudo consciência da realidade. O motor da América ainda tem mais cavalagem.
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