Aumento do poder
O sucesso económico trouxe consigo uma considerável afluência populacional, o que obrigava a um permanente alargamento das instalações do Mosteiro. Por este motivo, surgiu a construção, hoje considerada de estilo medieval, nas imediações a norte da igreja. De acordo com recentes achados arqueológicos antes da viragem do século, possivelmente teriam sido iniciadas construções de outros edifícios já no século XIV, no lado sul da igreja provavelmente mesmo um novo claustro e suas instalações circundantes, do qual o actual lado sul do Mosteiro fazia parte.[7] Até àquele momento pensava-se que esta ala só tivesse sido acrescentada no século XVIII, altura em que toda a frente ocidental do Mosteiro foi revestida por uma fachada barroca. Até ao início do século XV, os monges desenvolveram uma grande actividade, cultivando as terras e desenvolvendo a agricultura, dedicando-se à pesca, extraindo sal e ferro, desenvolvendo a arte de forjar, promovendo o artesanato e educando os colonos. Em 1269, criaram uma das primeiras escolas públicas do ocidente,[8] cuja transferência, em 1290, para Coimbra, deu origem à Universidade de Coimbra. As comunidades pertencentes ao Mosteiro floresciam de tal maneira que na própria abadia de Alcobaça o relaxamento começava a substituir as regras rígidas cistercienses, à semelhança do que sucedia noutros mosteiros. Por este motivo, o Papa Bento XII determinou, em 1335, uma reforma da ordem cisterciense que o rei D. Afonso IV (1291-1357) aproveitou para reduzir o poder da abadia e subordinar ao seu poder a maior parte das terras pertencentes a Alcobaça com o argumento de o certificado de doação de D. Afonso Henriques não englobar as vilas mas apenas o campo. No entanto, a abadia readquiriu o seu poder através de D. Pedro I, seu filho, cujo túmulo foi depositado juntamente com o da sua amada Inês de Castro no transepto da Igreja de Alcobaça (ver abaixo). D. Pedro I foi um grande defensor da abadia, restabelecendo o direito da abadia sobre as vilas confiscadas. Contudo, não lhe concedeu a jurisdição real mais elevada, reservando-a para si próprio.
Posição da abadia dentro do estado
O abade de Alcobaça era membro, por nascença, das cortes, era o padre principal do rei, não se encontrando, hierarquicamente, muito abaixo dos bispos, sendo-lhe reservada, pelo contrário, uma grande importância, devido ao seu domínio territorial. Desta forma, ele tornou-se numa das pessoas mais importantes do reino e tinha o título de Dom Abade do Real Mosteiro de Alcobaça, do Conselho de Sua Majestade, seu Esmoler-Mor, Donatário da Coroa, Senhor dos Coutos e Fronteiro-Mor. Ele praticava a jurisdição, embora esta fosse limitada pelos poderes do rei como, por exemplo, no que respeitava à decisão das penas de morte. A sua jurisdição estendia-se desde Alcobaça, passando por Porto de Mós até bastante a sul (Ota) e a leste (Beringel, perto de Beja). No seu território a abadia não era obrigada a recrutar tropas para o rei. D. João I(1385-1433), Mestre de Avis, grão-mestre da Ordem de São Bento de Avis e membro da Ordem de Cister, foi extremamente benevolente para com o Mosteiro, restituindo-lhe todo o poder que antepassados seus lhe tinham tentado tirar. Mesmo assim, no ano de 1427, D. João I declarou, perante as Cortes, que considerava a Abadia de Alcobaça como pertença do rei.
Dependência do poder real
Devido à sua enorme riqueza e poder, os monges distanciavam-se novamente dos ensinamentos rígidos dos seus fundadores. J. Vieira Natividade escreveu: "A Abdadia enriquece, transforma-se em poderoso feudo, e a crescente opulência pouco e pouco faz esquecer o rigor da Ordem e toda a simplicidade e austeridade da primitiva vida monacal."[9] Em 1475, o abade Nicolau Vieira abdicou, secretamente, dos seus direitos a favor do arcebispo de Lisboa, - mais tarde o cardeal da cúria Jorge da Costa -, em troca de uma concessão anual de 150.000 reis. Os monges só tomaram conhecimento desta situação quando uma delegação do arcebispo tomou posse dos seus novos direitos. Devido à sua influência em Roma, as queixas dos monges ao Papa eram inúteis, principalmente quando o arcebispo obrigou o Mosteiro a pagar tributos a Roma. [10] O Mosteiro, que sempre elegeu autonomamente os seus abades, encontrou-se, assim, sob a influência de abades colocados pelo rei ( os abades comendatários). Por volta do século XV, a fragilidade do Mosteiro levou a que muitas povoações subordinadas à abadia exigissem uma maior autonomia administrativa, que lhes acabou por ser concedida em 1514 pelo rei D. Manuel I (1469-1521) através de uma reforma da cidade. Assim, o número de irmãos leigos reduziu drasticamente. O domínio imediato das terras e a própria agricultura limitavam-se a poucos territórios perto do Mosteiro. Em 1531 Afonso de Portugal (1509-1540), o quarto filho do rei D. Manuel I e irmão do futuro rei D. João III (1502-1557), tornou-se abade de Alcobaça, sendo simultaneamente bispo de Lisboa e cardeal. Após a sua morte, D. João III proclamou o seu irmão Henrique (1512-1580) abade, que era, igualmente, arcebispo de Lisboa bem como inquisidor-mor de Portugal , tornando-se, mais tarde, cardeal. Dois anos antes da sua morte, o cardeal D. Henrique foi proclamado rei de Portugal. Esta ligação íntima do cardeal com a Casa Real- que escolhia o abade há mais de 50 anos -, levou, no ano de 1567, a que após as primeiras divergências sobre um afastamento de Claraval, o Papa Pio V decretasse numa bula a independência da Ordem dos Cistercienses portuguesa.
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