28/12/2009

MOITA FLORES

Finalmente

2009 foi mau em todos os aspectos. No domínio de política, justiça, desemprego, crise económica e social.
Finalmente! Parecia que este ano de 2009, sem rumo e sem norte, não queria chegar ao fim. Não quer dizer que este fim seja o fim de qualquer coisa que não seja apenas a celebração da chegada de 2010. Aliás, existem sérias razões para pensarmos que o fim deste ciclo de nulidade absoluta da nossa história recente ainda vem longe. Seja como for, 2009 não deixa saudades. Foi mau em todos os aspectos. No domínio da política, no domínio da justiça, no domínio do desemprego, no que respeita à crise financeira, económica e social e até na esfera dos princípios essenciais que determinam, ou deveriam determinar, a nossa vida colectiva. Não existe um único indicador, seja qual for a abordagem, que nos permita uma leve lufada de esperança que não seja aquela que vive na nossa mais íntima vontade.

No domínio da segurança, há décadas que não sentíamos tão grande instabilidade. Insegurança no emprego, insegurança na saúde (até a gripe H1N1 haveria de chegar neste ano de má memória), insegurança quanto às agressões ambientais, insegurança na projecção de expectativas futuras. Talvez seja no território da criminalidade que os indicadores de insegurança não são tão fortes. Não existem grandes alterações na flutuação global da actividade criminosa, com excepção para a visibilidade da violência que atingiu as relações familiares. Ainda não sabemos quantas mulheres morreram às mãos dos companheiros e maridos.

Mas a denúncia desta criminalidade ganhou direito a primeira página, um sinal importante de que preocupa cada vez mais gente e de que o velho aforismo de que entre marido e mulher ninguém mete a colher começa a ser relíquia do passado. Também a atenção à corrupção e aos crimes económicos ganhou uma nova dimensão pública. Porém, nenhuma declaração de mudança de atitude, até agora ditada pelos poderes que sobre a matéria decidem, deixou de estar associada à propaganda, o que é mau sinal. Aliás, foi aqui que a política caiu no patamar mais baixo da degradação moral, com esforços sucessivos, de todos os lados da vida partidária (talvez com excepção do CDS-PP) para partidarizar a acção e o sistema judiciário. Um dos piores momentos da democracia portuguesa. Mas vai chegar 2010. Estamos a renovar votos e desejos de um ano melhor, de um tempo de maior seriedade, clareza e esperança. Que seja mais do que desejos. Que seja um acto elevado e nobre da nossa vontade colectiva. Um bom 2010 para todos!

Francisco Moita Flores, Professor Universitário

in "CORREIO DA MANHÃ" em 27/12/09

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