17/08/2009

PAULA TEIXEIRA DA CRUZ


LONGE DAQUI

Estranhas urdiduras internas se fizeram entre antigos inimigos que dividiram lugares entre eles. Contaram-me uma estranha história que só se pode ter passado num estranho País muito, muito longe daqui, deste Portugal perfeito. Esse País vivia tempos muito difíceis e precisava dos seus melhores: aproximavam-se actos eleitorais muito importantes e era preciso unir esforços e procurar dirigentes de referência.

De facto o País estava mesmo muito mal, ensarilhado numa crise económica internacional e interna; numa crise social e de credibilidade das instituições. Até já se viam, pelo cair da noite, muito mais pessoas a procurar nos caixotes do lixo restos que lhes pudessem minorar a miséria.
Fossem quais fossem as suas divergências, os responsáveis políticos tinham, na sua diversidade, de congregar esforços, reclamar valores e princípios e lançar mãos à obra.
Partidos havia que tinham particulares responsabilidades, pois vinham-se transformando em centros de "trabalho temporário" para alguns, à custa da militância e do esforço generoso de muitos. Aliás, também por uma questão da inteligência, esses partidos (sob pena de morte anunciada) tinham forçosamente de regenerar os respectivos códigos de conduta.
Apesar de triste, descrente, desanimado, cansado e desorientado, esse País esperava, ainda assim, um esforço dos seus dirigentes.
Quando se aproximaram os actos eleitorais começaram a ser anunciadas as candidaturas a dirigentes. Esse País assistiu estupefacto a partidos andarem a pescar à linha pessoas que com eles nem se identificavam, só para ver se ganhavam mais votos, mesmo que essas pessoas tivessem dito mal desses partidos e fossem profissionais da política. Esses partidos aproveitaram para fazer purgas internas e escolher amigos e desempregados políticos de vários quadrantes. Confundiram política com questões pessoais.
Estranhas urdiduras internas se fizeram entre antigos inimigos que dividiram lugares entre eles, para excluir outros.Com poucas excepções.
Esqueceram-se das ideologias, dos valores e das pessoas.

Vieram as eleições e esse País ficou ingovernável.
E os filhos e os netos desse País empobreceram. Muito longe daqui.

Paula Teixeira da Cruz,
Advogada

in "correio da manhã"

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