Maiorias não, obrigado!
As maiorias absolutas de Cavaco Silva e José Sócrates e a maioriazinha limiana de Guterres tiveram em comum o acesso a imensas verbas da Comunidade Europeia. Apesar disso, estes governos deixaram legados que se traduzem nos terríveis números da insolvência. A maior responsabilidade vem da primeira maioria do PSD com aumentos eleitoralistas de ordenados do funcionalismo público, que não foram suportados pelo crescimento da produtividade, mas por verbas da CEE que deviam ter tido outro destino. Eram dinheiros previstos no Tratado de Adesão assinado por Soares e Mota Pinto, para modernizar o sistema produtivo. Desfeito o Bloco Central, as dádivas comunitárias foram desaparecendo, desbaratadas por má administração e saque.
Foram montantes colossais os que Cavaco Silva mandou Álvaro Barreto negociar a Bruxelas, mandatando-o para abreviar os períodos de integração da economia nacional na CEE a troco de dinheiro. Sem prazos de salvaguarda para proteger áreas económicas críticas (muitos países comunitários ainda os detêm) Portugal enfrentou a competitividade brutal das economias mais desenvolvidas do Mundo.
Entre formação profissional que nunca foi dada, programas de modernização que não se implantaram, auto-estradas a mais e portos de pesca a menos, o dinheiro gastou-se. O arranque das vinhas e oliveiras a troco de ECU destruiu a base agrícola do país. A bizarra política do abate dos meios de pesca transformou uma nação de pescadores num povo que mendiga à Pescanova espanhola que venha implantar em Portugal os seus tanques de linguados transgénicos que se reproduzem entre antibióticos e essências de sabor a camarão e lagosta. É nestas delícias do mar que se encontra agora o destino a que nos condenaram as maiorias do PSD e do PS. Um destino visível nas diferenças que hoje ressaltam nos sectores pesqueiros de Peniche e Vigo.
Do lado de cá, o porto que em tempo teve mais de 100 traineiras tem hoje cerca de dez, que não fainam sequer todos os dias. De Vigo partem os grandes navios-fábrica que vão pescar aquilo que comemos. Se em Portugal a indústria da construção naval enfrenta crises de identidade que levam às bizarras arquitecturas dos ferry dos Açores, que mais parecem a barca em que Karonte transporta as almas para o Inferno, nos estaleiros de Vigo constroem-se colossos como o grande França-Morte que de português só tem o espírito de coragem dos seus armadores. Tudo o mais, do aço à tecnologia, é espanhol.
A nação que construiu o Creoula em 100 dias nos estaleiros da CUF, na doca de Alcântara, já cá não está. Tal como Cavaco, Sócrates em quatro anos nada fez que mudasse estruturalmente Portugal. Exulta com a eficácia da sua máquina de recolher impostos que lhe deram temporariamente uma ilusão de equilíbrio orçamental. Mas, sem reformas reais, chegada a fase eleitoral, tal como Cavaco o tinha feito, também Sócrates opta por comprar votos com aumentos aos funcionários.
Só que desta vez nem dinheiro tem para isso. E assim, cumprindo a tradição de indignidade de Cavaco e Guterres, também Sócrates se vai embora deixando o país de tanga. A única diferença é que desta vez podemos ver como os outros vivem através da Internet no minúsculo ecrã de um Magalhães comprado na Feira da Ladra com dinheiro emprestado. Terá sido um bom investimento, se finalmente aprendermos que só há uma maneira da nação recuperar pacificamente a dignidade da iniciativa. É evitando que estas maiorias se repitam.in "JORNAL DE NOTÍCIAS"
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