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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Taxa de ocupação nos cuidados intensivos é de 54%.
Secretário de Estado fala em "reforçar
a confiança dos portugueses
nas suas capacidades"
Lacerda Sales pede "reforço da confiança" dos portugueses e confirma ensaios com plasma de doentes curados. Graça Freitas diz que caso de hostel mostra que "concentração de pessoas" acelera contágio.
A conferência de imprensa desta segunda-feira a propósito dos dados do
boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) relativamente à evolução
do novo coronavírus arrancou com números. Não apenas os que dizem
respeito à quantidade de casos suspeitos ou confirmados, ou o número de
mortes, mas outros que o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda
Sales, decidiu apresentar, talvez por seguirem uma tendência algo
positiva: “Portugal regista uma taxa de ocupação em unidade de cuidados
intensivos de 54%”, afirmou, sendo que neste momento o número de internados por Covid-19 em cuidados intensivos corresponde a apenas 1% de todos os infetados.
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Mas, é claro, nem todos os números são positivos. A taxa de
letalidade global da doença em Portugal está nos 3,5%, mas dispara para
os 12,8% quando se tratam de doentes com mais de 70 anos — uma
tendência que voltou a ser confirmada no boletim desta segunda-feira, já
que as 21 mortes que se registaram nas últimas 24 horas foram todas de
doentes acima dos 70 anos.
Apesar disso, o secretário de Estado da Saúde quis deixar uma nota de
incentivo aos portugueses. Não sobre a tendência da curva
epidemiológica, mas utilizando a sua experiência pessoal: “Como médico
ortopedista, operei muitas ancas, joelhos, articulações… Acompanhei
muitas recuperações dos meus doentes e lembro-me muito bem dos receios
destes doentes após a cirurgia, sendo por isso muitas vezes necessário
reforçar a confiança nas suas capacidades.”
Neste momento, é exatamente isso que precisamos. Os portugueses também
têm receios e é preciso, mais do que nunca, reforçar a confiança dos
portugueses e reforçar a capacidade do Serviço Nacional de Saúde”,
afirmou Lacerda Sales.
Ainda noutra nota, e perante a pergunta de um jornalista sobre se estão ou não a ser preparados testes com utilização de plasma de doentes curados,
o secretário de Estado confirmou a informação e deu mais pormenores: “É
verdade, existe uma vontade grande por parte de algumas instituições,
em termos de ensaios clínicos”, disse.
“Vai ser definida uma task force
para validar estes ensaios clínicos — que começarão por doentes
moderados/graves e não muito graves, como muitas vezes tem sido dito”,
acrescentou o responsável do Ministério da Saúde, que acrescentou que
estas balizas deverão estar definidas até ao final de abril.
Novo tipo de testes para situações de “maior urgência” e reforço da testagem nos lares de idosos
Outro dos temas abordados na conferência de imprensa diária foi o dos
testes ao novo coronavírus: “Os 5.000 testes que anunciámos na semana
passada são testes que estão validados pelo Infarmed, são fiáveis, mas
não têm nada a ver com os testes rápidos, são testes que usam a mesma
tecnologia e o mesmo método de colheita, com resultados em 45 minutos a
uma hora”, explicou o secretário de Estado.
A sua distribuição será feita de acordo com critérios “que a farmacêutica que tem os testes definir” e não o Estado. No entanto, Lacerda Sales explicou que são testes que devem ser usados primordialmente em situações de “maior urgência”, como pré-operatório, em grávidas ou noutras situações semelhantes.
A propósito da questão da testagem, mas mais especificamente
nos lares de idosos — que, segundo a ministra do Trabalho e da
Segurança Social, Ana Mendes Godinho, irão receber 750 mil novos
Equipamentos de Proteção Individual —, a diretora-geral da Saúde
esclareceu que há duas políticas neste “plano muito intenso” de testagem
em lares.
A primeira é a de testar “num lar onde apareça algum
com sintomas, seja profissional ou utente”, onde a diretiva é a “testar
rapidamente o lar” por inteiro. A outra política é a dos “testes de rastreio”, que estão a ser feitos num programa em colaboração com autarquias e a academia. “Esse plano vai cobrir progressivamente todos os lares, inicialmente pela zona norte” e depois chegando a todo o país, progressivamente.
Perante
a questão de a testagem no Norte poder estar a ser feita de forma
desiquilibrada face ao resto do país, Lacerda Sales responde que as ARS
“fazem essa distribuição com a maior equidade possível”, mas admitiu que
podem ser necessários “ajustes”. “Todos os dias estamos a aprender, a
melhorar e a afinar. Mas a verdade é que somos dos países que mais
testam a nível europeu”, declarou o secretário de Estado, que já tinha
anunciado que 40 dos 66 ventiladores que chegaram este domingo a
Portugal, vindos da China, irão para a zona Norte e Centro.
Graça Freitas sobre o caso do hostel: “A concentração de pessoas num espaço é o que define o contágio”
O hostel onde foram descobertos já mais de 100 casos positivos
do novo coronavírus entre cerca de 200 refugiados que ali estavam
instalados foi outro dos assuntos abordados por Graça Freitas.
Foram feitos testes a toda esta população e muitos deram positivos. Da primeira bateria de 116 testes, 100 deram positivo, o que é um enorme número de pessoas e reflete o que temos dito: a concentração de pessoas num espaço é o que define o contágio”, sublinhou a diretora-geral da Saúde.
Graça
Freitas agradeceu ainda à mesquita de Lisboa por ter acolhido estas
pessoas e relembrou que terá de ser “muito bem ponderado” como será
feito o realojamento dos não-infetados.
Outro dos temas que a responsável da DGS foi instada a comentar foi o da utilização de máscaras cirúrgicas
por deputados e membros do Governo nos últimos dias, quando a
recomendação da DGS é para que este tipo de máscaras sejam dadas
prioritariamente aos profissionais de saúde. Graça Freitas explicou que,
se há outras pessoas que não estes profissionais a usá-las, é “porque o
mercado tem capacidade de abastecer”. “Porque nós estamos a conseguir
abastecer o mercado do SNS”, garantiu.
Contudo, a diretora-geral
da Saúde fez questão de deixar claro que o uso deste tipo de máscaras
pelos cidadãos comuns não pode “comprometer a necessidade maior, que é o
seu uso por profissionais de saúde”. “Que fique claro: não pode haver falta nestes setores”, sentenciou.
* Nenhum número é bom quando se trata de doentes ou falecimentos, mas havendo uma folga consistente nos cuidados intensivos significa neste momento alguma estabilidade no surto vírico.
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