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*Economista e professor no ISEG
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
18/09/18
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As lições da grande crise
financeira de 2008 - Parte I
Dez anos volvidos, quase todos fazem hoje os seus balanços da grande crise financeira de 2008. Desses balanços podemos retirar que as análises dos ciclos económicos, dominantes nos media e nas universidades, evoluíram muito nestes 10 anos.
Apesar do conhecimento científico relevante sobre a matéria já ter mais de 100 anos1 só
os destroços da crise de 2008 abriram um número significativo de olhos
para o papel destrutivo das políticas de emissão excessiva de moeda e de
crédito.
Ainda em 2 de agosto
de 2002, Paul Krugman escreveu no New York Times: "To fight this
recession the Fed needs more than a snapback; it needs soaring household
spending to offset moribund business investment. And to do that, as
Paul McCulley of Pimco put it, Alan Greenspan needs to create a housing
bubble to replace the Nasdaq bubble." Greenspan fez-lhe a vontade e foi
só esperar até 2008 para que se consumasse o rebentamento da bolha com a
consequente catadupa de tragédias que se seguiram.
Apesar
da grande variedade dos enfoques encontrados actualmente, é difícil
encontrar patacoadas como a citação que recupero acima. Hoje são já
poucos os que não atribuem às bolhas de moeda e do crédito as causas das
crises económicas e financeiras. A compreensão do ciclo financeiro, das
crises e do papel da moeda pelos poderes monetários melhorou muito
graças aos contributos do BIS (Bank for International Settlements), que
alertou e influenciou os bancos centrais recuperando e divulgando – com
enorme atraso é certo – parte essencial da metodologia da obra que
refiro na nota de pé de página.
No entanto, a compreensão
do fenómeno pelos media, universidades e poderes públicos dominantes
está ainda longe do satisfatório, o que tem enormes consequências sobre a
capacidade de prevenir crises semelhantes. Esta insuficiência
abrange três vertentes.
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Em primeiro lugar – e esta é a questão
central – assumem que o Estado e os bancos centrais podem e devem
controlar o preço do dinheiro e a quantidade deste e do crédito a
emitir. Consideram mesmo que foi esta capacidade que terá permitido
evitar consequências mais gravosas da crise de 2008.
Em
segundo lugar, consideram que o aumento da regulação pública do sistema
financeiro permite atenuar e prevenir as crises. Também atribuem a isto
um papel importante nos resultados virtuosos da política económica
pós-2008.
Em terceiro lugar (este com especial relevo para
os países da União Europeia) a integração e a uniformização regulatória
dos sistemas financeiros à escala dos grandes espaços económicos
permitirão prevenir e atenuar as crises como a de 2008. Pensam, assim,
por exemplo, que as dificuldades no desenvolvimento da União Bancária
Europeia, nomeadamente a falta de um Sistema Europeu de Garantias de
Depósito, são uma ameaça à estabilidade do sistema financeiro europeu.
Estes três pontos merecem uma análise mais detalhada nas próximas crónicas.
1 O contributo fundacional está em: L. Mises, The Theory of Money and Credit, New Haven, Yale University Press, 1912 e 1953. A obra está disponível grátis em: https://mises.org/library/theory-money-and-credit.
Este livro, cuja primeira edição é de 1912, aborda o problema dos
ciclos económicos na sua relação fundamental com a moeda e o crédito e,
mais de 100 anos depois, é ainda hoje a melhor obra sobre a moeda e os
sistemas financeiros alguma vez publicada.
*Economista e professor no ISEG
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
18/09/18
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