Ser cão já não é o que era
Depois dos restaurantes, que tal mudar o Ministério da Educação
para MEPA, Ministério da Educação de Pessoas e Animais? Facilmente se
integraria no concurso de professores a vertente treinador...
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Foi aprovada recentemente uma lei que permite a presença de
animais domésticos nos restaurantes. Mais uma vez se vai atrás de
problemas que não existiam, criando problemas neste caso, aos donos dos
restaurantes, aos seus frequentadores e aos pobres dos cães (e restantes
animais domésticos). Os donos dos restaurantes vão começar a ser
rotulados se não consentirem a entrada de animais, nós humanos vamos
sofrer com o cheiro, o barulho, a sujidade que um animalzinho provoca e
os desgraçados dos animais vão passar um mau bocado, presos no
restaurante em vez de estarem no jardim, terraço ou em casa, que sendo
mau, é melhor do que amarrado num restaurante. Também é engraçado
verificar que passamos, nós humanos, a ser descriminados. Sim, num
restaurante com a nova lei, desde que o proprietário permita, não há
limite ao número de animais, mas há limite ao número de pessoas!
Nada
me espanta. Recentemente na minha freguesia construíram um ou dois
parques para cães. Segundo o executivo “passa a haver espaços próprios
para passear os cães, onde os donos e os respectivos animais podem
conviver uns com os outros”.
Julgava eu que convívio era o
estabelecimento ou desenvolvimento de relações amigáveis entre as
pessoas, era estabelecer entre pessoas laços de amizade.
Nos
parques das crianças, pais e filhos convivem e os cães ficam presos lá
fora. Será que a junta prevê coleiras para os filhos dos donos dos cães
ficarem à espera que termine o “convívio” entre os donos e os cães?
Ou
será que para além do tempo de trabalho em que não é possível estar com
os filhos, temos agora o tempo para o cão em concorrência com o tempo
dos filhos?
Passados uns meses da construção dos ditos parques,
verifico que ainda não corremos esse risco já que me tenho dado ao
trabalho de passar pelo parque mais perto de minha casa, e apesar de me
cruzar com muitos cães e seus donos, nunca consegui ainda ver nenhum
parzinho a conviver no parque!
Portanto temos por enquanto apenas o
desperdício de dinheiro que podia ser investido a promover a utilização
civilizada do espaço público para não termos de andar com sete olhos a
evitar pisar os cocós dos cães que abundam nas ruas da minha freguesia.
Como
vejo esta tendência de total inversão de prioridades nos nossos
governantes, pus-me a pensar nos próximos passos. Não é injusto deixar
os cães o dia todo sozinhos em casa? Eu acho que sim, e sempre disse que
só teria um cão se tivesse um jardim. Mas poderemos ter talvez outros
caminhos: uma escola para cães onde poderão passar o dia. Porque não? E
depois alargar o âmbito do Ministério da Educação para MEPA – Ministério
da Educação de Pessoas e Animais. Facilmente se integraria no concurso
de professores a vertente treinador. Com a diminuição do número de
crianças até se poderia vir a ponderar a especialização de professores
em animais, podendo manter o mesmo número de professores empregados,
mudando apenas a natureza dos alunos.
Não tenho a criatividade do
George Orwell, mas o receio fez trabalhar a minha imaginação. Escrevi
para desabafar e, como boa portuguesa, para brincar com a situação, mas
acho que vale a pena estarmos atentos aos sinais dos tempos. Há muita
coisa boa a fazer. Não podemos nem devemos virar costas ao nosso mundo.
Hoje existem preocupações que não tínhamos tão presentes, nomeadamente
com a natureza. As novas escolhas e modos de vida vieram a encontrar na
companhia dos animais uma forma de colmatar a solidão ou a companhia
para o filho único. Tudo isto é real mas não nos pode levar a inverter
valores. E por isso questiono: serão estas medidas legislativas amigas
da sociedade e da família? São estes os problemas que temos para
resolver?
Que tal pensarmos melhor em vez de irmos a reboque de
tendências ou modas? É preciso trabalhar com mais seriedade e
profundidade.
IN "OBSERVADOR"
17/03/18
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