HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Turismo:
"Hoje há quem pague
para apanhar azeitonas"
Os turistas estão cada vez mais dispostos a conhecer como são feitos os produtos típicos e a prová-los. Portugal quer a mesa sempre posta numa altura em que o turismo cresce. Só falta uma estratégia a longo prazo.
A Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia (APTECE)
acredita que a maioria das empresas em Portugal não está preparada para
adoptar o turismo gastronómico nas suas práticas.
.
Para o presidente José
Borralho, falta uma estratégia orientadora, com as mudanças de Governo a
impedirem a sua cristalização. A distinção de restaurantes com estrelas
Michelin – Portugal já tem 26 – tem ajudado mas ainda há o mercado da
tradição por explorar.
Portugal está a saber aproveitar o turismo gastronómico?
O
país começa a estar mais sensível para essa questão. Também os
diferentes agentes, como a AHRESP, com um projecto de promoção da
gastronomia portuguesa a nível internacional. Mas ainda temos muito que
fazer.
Como?
As nossas embaixadas deviam dar o exemplo e servir produtos portugueses. Pode parecer complicado mas não é. Temos excelentes escolas de hotelaria a formar profissionais, a quem deveria ser dada a oportunidade de estagiar nessas representações diplomáticas.
Para se criar marca.
Os circuitos de procura gastronómica têm que ver com a lembrança que levo desse território e depois o que encontro no meu país. No caso português, estamos quase sempre a falar do vinho e do azeite. Este movimento deveria ter subjacente uma estratégia nacional que tem de incluir a indústria produtora, quem promove, quem trabalha o turismo.
A APTECE está a fazer esse trabalho com a secretaria de Estado do Turismo?
Desde sempre. O que a APTECE não tem são os recursos que têm o país ou determinadas entidades. [Os nossos] são recursos limitados que não nos permitem uma estratégia a longo prazo.
E tem havido esse foco pelo Governo?
Com o Governo anterior e o antigo presidente do Turismo de Portugal já havia um envolvimento de alguns anos. Quando muda um governo, temos de reiniciar tudo. Não estou a dizer que este Governo não tem sensibilidade para as questões da gastronomia. Estamos a ‘namorar’.
Têm de ser os privados a assegurar essa promoção?
Sempre achei isso. Não podemos achar que tem de ser o Estado a fazer tudo. Os privados têm de zelar pelos seus interesses. Mas há uma lacuna: o orgulho em nós próprios. Somos um país que tipicamente tem a tendência de desvalorizar o que é seu.
E o que cabe ao Governo?
O Governo pode patrocinar ou apadrinhar uma estratégia e deixar que esta fique desenhada, para que os que venham a seguir a respeitem.
As estrelas Michelin que o país conquistou têm ajudado?
Valoriza Portugal a nível internacional. Contudo, o guia Michelin continua concentrado numa determinada facção da gastronomia e não se preocupa com a gastronomia local dos países. Se o guia tivesse de ir aos restaurantes tradicionais não teríamos vinte, mas centenas de estrelas. Mas já há "chefs" distinguidos que começam a ter algum cuidado e a fazer recurso dos produtos locais.
Este é um nicho de mercado.
É um público com determinada capacidade financeira e interesse gastronómico, representando cerca de 3% do potencial do turismo gastronómico. Temos 97% de mercado para explorar, que tem a ver com os restaurantes de bairro e produtores.
E as empresas estão preparadas para promover esse turismo gastronómico?
A maior parte não está. O tema é tão recente em Portugal que as empresas não conseguem perceber a vantagem enquanto não experimentarem. Há já empresas que perceberam que, além da meia dúzia de queijos ou enchidos que produzem, podem ter um potencial interessante a nível turístico. Exemplo disso é a apanha da azeitona: hoje há quem pague para apanhar azeitonas.
Gastronomia pesa 30% do turismo
O presidente da APTECE, José Borralho, explica ao Negócios que não existem dados concretos para medir o peso da gastronomia no turismo nacional. A estimativa é de que rondará os 30%. Em Janeiro, a associação apresentará um estudo sobre a relação entre estas duas componentes.
"Há muitas formas de usufruir deste turismo gastronómico, não só através de restaurantes mas também com experiências", justifica. Entre estas experiências contam-se a participação nas vindimas, na recolha de azeitona ou a visita a fábricas de produtos tradicionais como o Queijo de Castelo Branco.
As nossas embaixadas deviam dar o exemplo e servir produtos portugueses. Pode parecer complicado mas não é. Temos excelentes escolas de hotelaria a formar profissionais, a quem deveria ser dada a oportunidade de estagiar nessas representações diplomáticas.
Para se criar marca.
Os circuitos de procura gastronómica têm que ver com a lembrança que levo desse território e depois o que encontro no meu país. No caso português, estamos quase sempre a falar do vinho e do azeite. Este movimento deveria ter subjacente uma estratégia nacional que tem de incluir a indústria produtora, quem promove, quem trabalha o turismo.
A APTECE está a fazer esse trabalho com a secretaria de Estado do Turismo?
Desde sempre. O que a APTECE não tem são os recursos que têm o país ou determinadas entidades. [Os nossos] são recursos limitados que não nos permitem uma estratégia a longo prazo.
E tem havido esse foco pelo Governo?
Com o Governo anterior e o antigo presidente do Turismo de Portugal já havia um envolvimento de alguns anos. Quando muda um governo, temos de reiniciar tudo. Não estou a dizer que este Governo não tem sensibilidade para as questões da gastronomia. Estamos a ‘namorar’.
Têm de ser os privados a assegurar essa promoção?
Sempre achei isso. Não podemos achar que tem de ser o Estado a fazer tudo. Os privados têm de zelar pelos seus interesses. Mas há uma lacuna: o orgulho em nós próprios. Somos um país que tipicamente tem a tendência de desvalorizar o que é seu.
E o que cabe ao Governo?
O Governo pode patrocinar ou apadrinhar uma estratégia e deixar que esta fique desenhada, para que os que venham a seguir a respeitem.
As estrelas Michelin que o país conquistou têm ajudado?
Valoriza Portugal a nível internacional. Contudo, o guia Michelin continua concentrado numa determinada facção da gastronomia e não se preocupa com a gastronomia local dos países. Se o guia tivesse de ir aos restaurantes tradicionais não teríamos vinte, mas centenas de estrelas. Mas já há "chefs" distinguidos que começam a ter algum cuidado e a fazer recurso dos produtos locais.
Este é um nicho de mercado.
É um público com determinada capacidade financeira e interesse gastronómico, representando cerca de 3% do potencial do turismo gastronómico. Temos 97% de mercado para explorar, que tem a ver com os restaurantes de bairro e produtores.
E as empresas estão preparadas para promover esse turismo gastronómico?
A maior parte não está. O tema é tão recente em Portugal que as empresas não conseguem perceber a vantagem enquanto não experimentarem. Há já empresas que perceberam que, além da meia dúzia de queijos ou enchidos que produzem, podem ter um potencial interessante a nível turístico. Exemplo disso é a apanha da azeitona: hoje há quem pague para apanhar azeitonas.
Gastronomia pesa 30% do turismo
O presidente da APTECE, José Borralho, explica ao Negócios que não existem dados concretos para medir o peso da gastronomia no turismo nacional. A estimativa é de que rondará os 30%. Em Janeiro, a associação apresentará um estudo sobre a relação entre estas duas componentes.
"Há muitas formas de usufruir deste turismo gastronómico, não só através de restaurantes mas também com experiências", justifica. Entre estas experiências contam-se a participação nas vindimas, na recolha de azeitona ou a visita a fábricas de produtos tradicionais como o Queijo de Castelo Branco.
* À atenção dos agricultores portugueses.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário