10/05/2016

VITOR RAÍNHO

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A guerra dos taxistas 
que não saem do aeroporto

A guerra dos taxistas com a Uber e afins veio demonstrar que neste país nenhum governo conseguiu pôr na ordem a classe taxista. Ou melhor: parte da classe, aquela que não sai dos aeroportos e que vive de enganar turistas e maltratar os portugueses. Como é possível, tantos anos depois, tudo continuar na mesma?

Durante anos, sempre que chegava à Portela procurava um táxi nas partidas, pois já sabia que se o fizesse nas chegadas teria de pedir para me deixar numa esquadra, tais eram os impropérios e ameaças lançados pelo motorista, por a corrida ser curta. Nos últimos tempos, porém, a situação nas partidas também se alterou e já apanhei alguns motoristas que só não se recusaram a fazer a viagem por mero acaso. O mais irritante nisto tudo é que, por causa de alguns, acabam por pagar todos os outros. Tenho excelentes exemplos de taxistas que são brilhantes profissionais e gostam do que fazem. Também há muitos anos que sou cliente de uma central de táxis e não tenho a mínima razão de queixa, apesar de alguns dos carros não serem muito confortáveis, e os odores os mais simpáticos.

Mas, afinal, o que está em questão? Se as licenças de táxis vendidas pelas câmaras não ultrapassam os 500 euros, qual a razão de tantos protestos?

É simples. Há várias empresas que detêm dezenas ou centenas de táxis, dando a morada dos contabilistas para contornarem a lei – salvo erro, ninguém pode ter mais de 10 licenças –, e aproveitam esse monopólio para venderem as licenças por 50 mil a 100 mil euros, nalguns casos com os carros incluídos. É óbvio que quem paga tal valor dificilmente sobreviverá se não trabalhar mais de 12 horas por dia para tentar recuperar o investimento. As restantes horas terão de ser feitas por alguém contratado. Como é um salve-se quem puder, muitos daqueles que vão para taxistas não têm as mínimas condições para o fazer.

E é isto que impossibilita que os táxis normais concorram com os Uber. Só andei em Ubers com amigos e tudo foi diferente. O serviço e o preço. Mas vou continuar a andar nos dois.

IN "i"
09/05/16

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