(Des)Terapia Familiar
De uma doente recebi uma carta emocionada e
revoltada contra o inesperado fim da Consulta de Terapia Familiar (TF)
do ACES Arrábida, a que recorria.
Transcrevo
dois parágrafos: "A razão da minha exposição é mostrar a indignação e
profunda revolta pelo términos repentino da Consulta de TF da qual eu e
os meus três filhos menores beneficiávamos" ... "Estávamos a ultrapassar
os nossos problemas e de repente tudo acabou. Não sei o que passou na
cabeça de quem deu ordem para acabar com as consultas, mas penso que
terá sido algum diretor que não faz a mínima ideia do mal que causou. No
entanto, penso que há com certeza diretores, clínicos, técnicos ou seja
lá quem for que podem opor-se a esta decisão. Não pode ser uma decisão
unilateral."
A Ordem dos Médicos (OM)
já tinha sido informada do encerramento desta consulta de TF, que, quase
sem custos, seguia dezenas de famílias e recebia pedidos de apoio e
consulta para intervenção em famílias por parte de entidades como o
Tribunal de Menores, a CPCJ, o hospital, a APPACDM, médicos, psicólogos,
etc.
Na ausência de alguma
justificação técnica para esta decisão absurda e economicista, a OM
interpelou a ARSLVT, há mais de um mês, não tendo recebido qualquer
resposta ou explicação.
No momento do
encerramento eram seguidas 27 famílias, às quais, como se comprova, não
foi oferecida uma alternativa semelhante, com graves prejuízos para as
mesmas.
Este espaço de atendimento de
famílias em crise surgiu pela necessidade sentida pelos profissionais de
saúde em que fosse criada naquela região uma forma de intervenção
multidisciplinar, para além de uma simples consulta clínica, de modo a
conseguir-se numa ótica sistémica ajudar ao desenvolvimento e adequação
funcional das relações intrafamiliares, minimizando o consumismo de
consultas médicas por questões psicossomáticas e até reduzindo o consumo
de psicofármacos.
Sublinhe-se que as
indicações para TF têm vindo a crescer, tanto na Medicina Geral e
Familiar como noutras áreas da saúde, e setores social, educação e
justiça.
No mesmo período em que foi
decidido fechar a consulta, houve uma solicitação de uma profissional do
Hospital de Setúbal para efetuar um estágio profissional em TF, que a
tutela indeferiu.
Numa época em que
temos um presidente de afetos, que saúdo, e quando se assiste a um
inevitável aumento da despesa com medicamentos, a OM manifesta a sua
enorme consternação pelo processo contínuo de emagrecimento do SNS,
despindo-o progressivamente de intervenções não farmacológicas que,
muitas vezes, são a melhor forma, se não a única, de resolver os
problemas dos doentes.
Porque se
preocupa com os doentes, a OM aguarda a reposição da Consulta de TF do
ACES Arrábida e o investimento em mais consultas deste tipo onde ainda
não existam.
* Bastonário da Ordem dos Médicos
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
13/05/16
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