Lisboa.
Como rebentar
com o turismo de vez
Um dos movimentos mais reacionários que anda por
aí é protagonizado por uma mão-cheia de lisboetas revoltados com o boom
de turismo na capital. Ainda não consegui perceber bem os argumentos,
confesso, e não foi por falta de tentativa. Há habitantes do centro da
cidade que se queixam que abrem a porta de casa e têm turistas. Mas um
dos riscos de se viver no centro da cidade é levar com pessoas à porta –
estrangeiros ou não. Antes de aparecerem os turistas, já Lisboa estava
cheia de lisboetas aos encontrões.
A Baixa, até há pouco tempo, era um subúrbio fantasma
de noite, com prédios em degradação acelerada. O facto de lá se
instalarem hotéis para acolherem o boom do turismo que dá emprego aos
cidadãos (e não há muitas indústrias em Portugal com esse potencial) foi
uma mudança na qualidade da cidade. Há depois a ideia, que se anda a
propagar vinda de não sei onde, de que o excesso de turistas acaba com o
turismo porque os turistas não gostam de ver turistas: não consta que o
excesso de turistas em Londres tenha acabado com os ingleses em
Trafalgar Square, a praça onde se concentram todos os estrangeiros que
vão a Londres.
Esta polémica é tão reacionária como o movimento que se gerou contra
as casas dos emigrantes do Minho: a maioria dos críticos preferiam que
os minhotos continuassem a viver em choças, em nome do very typical, em
vez de construírem as casas que entenderam construir com o dinheiro que a
custo conseguiram juntar. (Hoje, as casas dos emigrantes mais recentes
são tão património minhoto como o são as casas dos emigrantes
“brasileiros” do princípio do século xx.)
Felizmente que o turismo aumentou em Lisboa que, há 25 anos, era uma
cidade pobre, a cair aos bocados e de costas para o rio. Que seja a
Câmara Municipal a tentar rebentar com uma das melhores coisas que
aconteceram à cidade nos últimos tempos, com regulamentos absurdos que
põem esplanadas a fechar à meia-noite, é de um fundamentalismo obnóxio.
IN "i"
29/04/16
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