11/05/2013

SUSANA TOSCANO

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Como sempre, afinal

Geração após geração, entre pobreza e guerras, os mais jovens tinham de partir em busca de melhores condições de vida ou ao serviço dos desígnios de expansão ou defesa do território. 

Por um breve lapso de tempo, convencemo-nos de que agora seria diferente, os nossos jovens estudavam, o futuro apresentava-se firme e previsível, com oportunidades dentro de portas e expectativas de progresso em harmonia de povos sem fronteiras. Eles viajavam, sim, mas para alargar horizontes, era aqui que fundariam a sua vida. Mas não, parece que o nosso destino é esse de dizer adeus, de ficar à espera, a saudade ainda e sempre, essência ou anátema. 

De novo, habituamo-nos aos que partem, aos que chegam por uns dias que mal dão para matar saudades, não queremos deixar de ser parte da vida deles, tentamos contar-lhes como ficámos, trazê-los de novo ao nosso quotidiano, mas foge-lhes o olhar, distrai-se a atenção, mundos que se apartam, há que tecer novos fios, encontrar amarras, eles que fiquem partindo, eles que nos levem deixando-nos. 

Todos os dias, o tempo atrás do tempo e nós atrás dele, quando vens, quando partes, quando voltas, numa cadência sôfrega de afectos desencontrados, tecidos de paciência e de adiamentos, até aprendermos a escondê-los, a apaziguá--los, ausências e presenças a encher-nos os dias. Como sempre, afinal.

Autora do blogue Quarta República (http://quartarepublica.blogspot.pt)

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10/05/13

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