Cancro.
doses baixas de aspirina
podem reduzir mortes entre 20% a 30%
Ricardo da Luz, da Sociedade Portuguesa de Oncologia, alerta para os riscos da automedicação
A toma diária de doses baixas de aspirina pode reduzir entre 20% a 30% as mortes provocadas por alguns tipos de cancro. Novos resultados da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), publicados hoje na revista médica "Lancet", alargam os benefícios do ácido acetilsalicílico quando utilizado na prevenção do cancro: a tese já tinha revelado potencial no cancro colorrectal e agora a equipa liderada pelo epidemiologista britânico Tom Meade adianta que o analgésico também parece ser eficaz noutros cancros comuns como o do esófago, pulmão, estômago ou pâncreas. Poderá também trazer benefícios para doentes com tumores cerebrais.
A investigação compilou resultados de diferentes ensaios clínicos para a aspirina, que envolveram mais de 14 mil participantes. O objectivo inicial dos investigadores era consolidar o conhecimento sobre o impacto do medicamento na prevenção de ataques cardíacos, mas os registos clínicos permitiram outras conclusões. De acordo com o novo artigo, os benefícios são visíveis cinco anos após a toma diária de aspirina a partir dos 75 miligramas, independentemente do sexo ou de factores de risco como ser ou não fumador. Tendem também a aumentar com a idade, esclarecem os investigadores num comunicado da instituição.
A aspirina só era recomendada como medicamento quimioprofiláctico em doentes em risco de ataque de coração, depois de um primeiro episódio. Mas com bastantes reservas. No final de 2009, especialistas britânicos alertaram mesmo para o facto de o medicamento poder causar hemorragias letais e não contribuir para a prevenção das mortes provocadas por doenças cardiovasculares. No final de Outubro, a conclusões dos mesmos autores - e também publicadas na "Lancet" -, de que a aspirina reduzia em um quarto a incidência de cancro colorrectal, geraram algumas dúvidas sobre a sua aplicação clínica.
Ricardo da Luz, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, sublinha que os resultados são relevantes mas importa conhecer melhor a metodologia utilizada pelos investigadores. "A metodologia da meta-análise é muito utilizada na área do cancro, por permitir amostras maiores de doentes." Contudo, é preciso ter em conta que os participantes em ensaios clínicos têm à partida a saúde mais vigiada do que a restante população. Há também a velha questão dos números: salvar 20% dos doentes não significa salvar todos.
"O efeito da aspirina e outros medicamentos semelhantes na multiplicação das células tumorais era conhecido na biologia mas só agora o impacto clínico parece começar a ser evidente." Tal como os investigadores britânicos, o especialista sublinha que os resultados, embora possam parecer positivos, não devem levar à automedicação. "Embora sejam doses pequenas, a aspirina só deve ser tomada por prescrição médica", alerta.
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07/12/10
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