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Restɑʋɾσ ecσlσ́ɠicσ:
Mais do que esperar por “estudos”, urge arregaçar as mangas e preparar o regresso a partir das cinzas, procurando restaurar o que se perdeu sob o signo de uma maior resiliência climática.
Neste ano, os incêndios florestais queimaram um recorde de 700.000 hectares (ha) na União Europeia (UE) – a maior área desde 2006, equivalente ao triplo da área do Luxemburgo ou à dimensão total do Azerbaijão.
Em Portugal, a área afetada já ultrapassa os 100 mil hectares, mais quatro vezes do que o total de 2021, o que coloca o país entre os três mais afetados pelos incêndios na UE-27. Só a área ardida da Serra da Estrela – 25 mil ha – equivale a terem sido inteiramente consumidas pelas chamas as serras de Sintra e da Arrábida! Mais do que esperar por “estudos”, urge arregaçar as mangas e preparar o regresso a partir das cinzas, procurando restaurar o que se perdeu sob o signo de uma maior resiliência climática.
Por iniciativa legislativa europeia, Portugal e os demais Estados-membros têm de restaurar 20% do seu património natural até 2030 e todos os ecossistemas degradados até 2050. Segundo o último Relatório do Estado da Natureza na Europa (2020), em Portugal, 72% dos habitats estão em estado inadequado ou mau, e 80% tendem a degradar-se ainda mais, se nada for feito.
A Lei do Restauro da Natureza, que Portugal deve urgentemente verter para o direito nacional, é o segundo grande pacote legislativo da UE em matéria de biodiversidade em 30 anos – após a Diretiva Habitats em 1992 –, mas é a primeira inteiramente dedicada ao restauro ecológico. Isto numa Europa com mais de 80% dos seus habitats degradados e inúmeras espécies em declínio abrupto. As zonas húmidas, as turfeiras, os prados e os habitats dunares são os mais afetados.
Na Europa Ocidental, Central e Oriental, por exemplo, as zonas húmidas diminuíram 50% desde 1970; 71% das populações de peixes e 60% dos anfíbios diminuíram na última década. Entre 1997 e 2011, a perda de biodiversidade terá sido responsável por perdas anuais que oscilam entre 3,5 e 18,5 triliões de euros.
A avaliação de impacto da Lei do Restauro da Natureza vem demonstrar que os benefícios do restauro ultrapassam largamente o seu custo, em que por cada euro investido é gerado um retorno entre oito a 38 euros, graças aos benefícios resultantes dos serviços ecossistémicos, enquanto suporte em matéria de segurança alimentar, de clima e saúde humana.
Entretanto, a Comissão Europeia já anunciou um envelope financeiro de cerca de 100 mil milhões de euros, incluídos no atual Quadro Financeiro Plurianual, para investir na biodiversidade, em que se inclui o restauro.
Precisamos deste grande sumidouro de carbono que é a floresta. Quando mais de metade do PIB global depende da natureza e dos serviços que presta, e mais de 75% dos tipos de culturas alimentares globais dependem da polinização animal, não nos parece que possa haver margem para dúvidas, e menos ainda para continuarmos numa política de eterno adiamento. Porque de adiamento em adiamento, chegámos ao presente em que estamos mergulhados numa crise climática e de declínio da biodiversidade sem precedentes, pela mão humana.
É tempo de pôr mãos à obra e inverter a presente tendência de declínio, e das cinzas fazer erguer uma verdadeira floresta.
* Deputada à A.R.- partido PAN
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 25/08/22.
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