20/03/2021

CRISTINA SIZA VIEIRA

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Turismo de negócios: e se 

Bill Gates tem razão?

O fundador da Microsoft, que previu esta pandemia no longínquo ano de 2015, profetizou no final de 2020 que "mais de 50% das viagens de negócios e de 30 % do tempo passado no escritório desaparecerão". Não é uma profecia feita por qualquer um. Por isso, e pelo brutal impacto que poderia vir a ter no turismo e nas viagens, vale a pena explorar o tema. Porque o espaço não dá para tudo, dedico-me às considerações sobre as viagens de negócios.

O turismo de negócios pode ser desagregado em duas componentes principais: a simples deslocação e alojamento de profissionais no âmbito da atividade normal das empresas e a realização e participação em congressos, conferências, feiras, etc.*

O turismo de lazer representa mais de três quartos das receitas mundiais do setor, mas o peso do turismo de negócios mais do que dobrou, em 2019, o peso que tinha em 2010 (9%). Em 2019, os EUA foram o país onde o peso relativo do turismo de negócios foi maior, mas a União Europeia no seu conjunto figurou em segundo lugar, à frente da China e do Japão. E Portugal, pasme-se, não só foi o 10.º país no ranking mundial de eventos e reuniões, como Lisboa foi a segunda cidade nesse ranking.

A covid-19 bateu forte em ambas as componentes das viagens de negócios. As empresas de todo o mundo cancelaram praticamente todas as viagens e renderam-se às plataformas de videoconferência. Mas será que se renderam por força das circunstâncias e logo que possam estarão back in business? Lendo os sinais dos tempos, muitas consultoras, bancos e companhias aéreas afirmam que vai retomar, mas, mesmo não indo tão longe como Bill Gates, estimam que 20% a 25% do turismo de negócios tenha desaparecido para sempre.

Diga-se que em outras crises, como a de 2008, previa-se o declínio permanente do turismo de negócios, mas afinal, e apesar de a sua retoma ser mais lenta do que a do turismo de lazer, aquele voltou com mais força ainda.

Todavia, desta vez há três notas distintas a registar. Primeira: todas as empresas, mesmo que em diferente escala, estão comprometidas com o movimento imparável da redução de emissões de carbono e da transição climática. Segunda: as plataformas Zoom, Google Hangouts, Skype, Teams (pois, Bill Gates) e similares estão agora no mercado, afirmando-se como o melhor veículo para que mesmo escritórios remotos se possam encontrar, poupando-se horas perdidas em trânsito e levando muitas reuniões a transferir-se, com vantagem, para o mundo virtual. Terceira: ainda que muitas viagens de negócios estejam associadas também ao lazer (bleisure é a expressão que o designa: dois terços dos turistas de negócios estendem as suas viagens quando podem), a verdade é que muitos executivos registam, com regozijo, a possibilidade de não andar em permanência a atravessar o mundo e gerir quais as reuniões que exigem de facto a presença física.

E porque esta presença física é imprescindível para o negócio, na próxima crónica explorarei as razões que levam a que o turismo de negócios continue a florescer, ainda que parte se tenha perdido.

E para concluir que Bill Gates não tem razão. Pelo menos não em 50%.

* VP executiva da Associação de Hotelaria de Portugal

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 17/03/21

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