Cogumelos Airways
Desde a semana passada que me apercebi que era a única pessoa em
Portugal que não percebia patavina de aviões. Confesso que, nesta
matéria, não posso opinar, até porque os anos que dediquei ao jornalismo
e muitos deles à área da aviação, não me deram certezas de nada e
deixaram-me com a mesma ignorância no dia que escrevi a primeira peça
sobre aviões e no dia que assinei o último artigo.
O caso da avioneta da
Costa da Caparica fez saltar por todo o lado os especialistas que
percebiam de aviões, de aterragens, de amaragens e até de aragens. Na
televisão e nas redes sociais cresciam comentadores como cogumelos,
tantos que dava para encher os aviões que nos últimos dias fizeram tanta
falta.
Enfim... Agora nós: apesar de não ter aprendido nada sobre
aviação, guardei a agenda e falei com três ou quatro daqueles velhos
nomes da altura em que os telemóveis ainda começaram por 09. Percebi,
com os mais antigos, que os limites do Aeroporto da Madeira foram feitos
pela Boeing para a TAP começar a operar com o modelo 727. E que foram
ligeiramente ajustados quando a pista cresceu em 2000 e pouco depois foi
feito reajuste ao ajuste, quando apareceu a famosa bolha que não nos
largou da mão durante anos.
Mas também me sopraram, não os ventos, mas
as vozes da experiência de muitos anos acumulados, que talvez seja
melhor deixarmos de ter comentadores de televisão e assumirmos de uma
vez que no caso da “safety”, que não é o mesmo que “security”, se deve
fazer, de uma vez por todas, um estudo aprofundado sobre os tais ventos e
o fenómeno de “windshear”, que é um pesadelo para os pilotos.
Uma
corrente descendente que normalmente acontece na cabeceira da pista do
lado de Santa Cruz que pode fazer com que o avião seja empurrado para
baixo. Também me foi dito, pelos tais que andaram e andam aqui sem roupa
de cogumelos, mas galões das companhias para as quais operam, que já
abortaram aterragens dentro dos limites por achar que não tinham
condições para colocar o avião no chão.
Curiosa foi a comparação feita
por um deles: os ventos não mudaram de forma significativa, o que mudou
foi a frequência com que operam aviões na Madeira. Antigamente, quando
os movimentos eram de cinco ou seis voos por dia, a tal corrente
descendente estava lá, não estavam era as companhias. Até podia
acontecer em horas em que não havia operações e não se dava por ela.
Registei.
Da mesma forma que registei as palavras do secretário regional
do Turismo, que ontem disse que a ANA-Aeroportos fez, na semana
passada, um pedido de informação sobre a orografia da zona do aeroporto,
a pedido da ANAC, que para quem não sabe é a Autoridade Nacional de
Aviação Civil. Perguntei aos pilotos se não era suposto a dita
autoridade saber os limites... fiquei sem resposta, porque ninguém
parece saber bem o papel da dita. Mas se calhar os cogumelos sabem...
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
08/08/17
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