HOJE NO
"EXPRESSO"
O carrasco confessa-se
Duterte garante que ele próprio já matou traficantes. Uma tirada que pode inflamar a “guerra à droga” filipina
Costumava andar em Davao, montado na minha grande moto, a patrulhar
as ruas à procura de problemas. Estava à procura de uma luta para poder
matar.” A frase, dita por um Presidente-eleito, poderia chocar por si
só, mas Rodrigo Duterte não se ficou por aqui. Esta semana, o Presidente
filipino fazia mais um balanço sobre a sua famosa “guerra às drogas”
quando deu o exemplo da sua ação na cidade de Davao, onde foi presidente
de câmara. Além de garantir que patrulhava as ruas, o homem que tem a
alcunha de “Punidor” assumiu que matou: “Costumava fazê-lo pessoalmente.
Só para mostrar [aos polícias] que se eu conseguia fazê-lo, eles também
conseguiam.”
.
O episódio já levou dois senadores filipinos a
pedir a destituição do Presidente, argumentando que crimes como
homicídio podem servir de base a um afastamento. Em troca, o Governo
desvalorizou, classificando as declarações de Duterte como “uma
hipérbole”. “Ele exagera sempre para fazer passar a sua mensagem”, disse
o ministro da Justiça, Vitaliano Aguirre.
Verdade ou exagero,
certo é que a “guerra à droga” de Duterte tem provocado milhares de
mortes, mesmo que não resultem da ação direta do Presidente. Desde o
início de julho, mais de seis mil pessoas foram assassinadas — duas mil
em operações policiais, as restantes por milícias populares ou
justiceiros voluntários, por suspeitas de serem traficantes ou
consumidores de droga. As identificações dos corpos revelam que as
vítimas são na maioria “homens pobres e desempregados, que vivem de
tostões contados e de biscates nas obras ou como condutores de
triciclos”, revela o sítio filipino de notícias “The Rappler”. Segundo
uma análise feita pela Reuters a mais de 50 operações policiais, 97% das
vezes a polícia disparou e matou — algo que, para a agência, “sugere
que os agentes estão a fazer execuções sumárias de suspeitos”.
Cerco internacional
está a apertar
Com
o próprio Presidente a incentivar as execuções por populares, a “guerra
à droga” nas Filipinas está a alimentar um clima de violência que
preocupa várias ONG e até as Nações Unidas. Esta quarta-feira, o Governo
anunciou o cancelamento de uma visita do relator da ONU para as
execuções extrajudiciais por este não ter concordado com as condições
impostas por Duterte. No entanto, não foram reveladas quais seriam essas
condições.
O cerco internacional aperta-se, tendo os EUA
cancelado esta semana um pacote de ajuda humanitária por “preocupações
significativas” com “o Estado de direito e as liberdades civis nas
Filipinas”. Duterte garante não se preocupar e reafirma o seu lema de
“não querer saber dos direitos humanos”.
Para a Amnistia
Internacional, a “confissão” de Duterte irá “inflamar polícia e
vigilantes para violarem a lei às claras e levarem a cabo mais mortes”.
Para já, a “guerra à droga” filipina continua, sem um fim à vista.
* Um assassino pode ser um Chefe de Estado? Claro que pode, ainda há dias morreu um.
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