15/12/2013

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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"

Este é o cemitério do seu
 frigorífico e do telemóvel

 Fica em Agbogbloshie, no Gana. Um realizador australiano fez um documentário sobre isso 

O que é que acontece aos seus aparelhos electrónicos depois de os deitar fora? A pergunta é simples. Mas talvez nunca tenha pensado nela. 

Essa dúvida também nunca ocorrera à maior parte das pessoas com quem David Fedele falou. O realizador australiano queria fazer um documentário sobre desperdício. Mas não sabia bem sobre o que filmar. Começou a investigar e encontrou imagens na Internet sobre Agbogbloshie, em Acra, a capital do Gana, e a segunda maior lixeira de aparelhos electrónicos em África. 

Se todos os anos se geram cerca de 50 milhões de toneladas de lixo electrónico, uma boa parte deles vai para ali. Fedele percebeu que tinha encontrado o tema do seu próximo trabalho e comprou um bilhete só de ida para o Gana. “Eu trabalho sozinho. Sou totalmente independente e auto-financio e produzo os meus filmes. O meu estilo é ir mal encontro uma boa ideia”, conta à SÁBADO.
Durante três meses caminhou entre as máquinas, que ardem 24 horas por dia, sete dias por semana, para retirar os plásticos. Vagueou e filmou os computadores, telemóveis, micro-ondas, televisões trazidos na sua maioria da Europa e largados ali. O cheiro era terrível. E no ar havia um constante fumo tóxico.

Em Novembro de 2013, Agbogbloshie foi eleito um dos locais mais poluídos do mundo pelo Blacksmith Institute. E poderá piorar, já que se prevê que aquele local nas redondezas de Acra se torne a maior lixeira africana por volta de 2020. Será nesta data que o valor das importações de lixo electrónico para aquela lixeira deverá dobrar.  

David Fedele viu como, apesar da visão infernal, Agbogbloshie é afinal um sistema muito organizado: quando o lixo chega, grupos de quatro ou cinco crianças queimam-no. Depois, por volta das quatro da manhã, o chefe deles vende o metal que retiraram a compradores libaneses e que voltam a exportar o material. Depois de retirado também todo o cobre, os bens são atirados para pilhas. E como estas crescem e crescem sem parar, o local está a tornar-se cada vez mais tóxico.
Mas a vida faz-se ali. O realizador australiano fotografou, por exemplo, um homem a dormir dentro de um frigorífico. E percebeu que apesar de, em Agbogbloshie, todos serem concorrentes, ajudam-se. 

Depois dos três meses de trabalho, Fedele montou um documentário que se foca mais no lixo electrónico do que nos que ali trabalham. “Eu quero que contemplem onde as ‘coisas’ acabam. É um documentário diferente para a maioria, porque é tanto um filme sobre ‘coisas’ como sobre ‘pessoas’.”

* Sem palavras...

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