Uma desvalorização rápida
do euro pode salvar Espanha
A possível desintegração da zona euro é hoje debatida abertamente pelas autoridades europeias e pelos executivos financeiros.
A taxa de juro da dívida espanhola ultrapassou
os 7%, reflectindo a ausência de progressos na redução do défice
orçamental e dos défices de comunidades autónomas como Valencia, entre
outras. É provável que a Grécia não passe na nova avaliação da ‘troika',
o que, a acontecer, poderá ditar a sua saída da zona euro no Outono.
Além disso, a Alemanha também se encontra sob pressão financeira devido à
exposição potencial e explícita do Bundesbank aos países periféricos
europeus.
A última cimeira europeia terminou com um comunicado optimista, mas
sem substância. Entretanto, é provável que os mercados financeiros já
estejam a pressionar Bruxelas para encontrar uma solução. A depreciação
do euro poderá ser estratégica para a sobrevivência da zona euro. A
moeda única depreciou no último ano cerca de 15% face ao dólar (de 1,44
para menos de 1,21 dólares). Uma nova desvalorização de 15% colocaria o
euro numa situação de quase paridade com a moeda norte-americana,
mantendo-se, embora, cerca de 20% acima do mínimo histórico de 84
cêntimos.
Um euro mais fraco permitiria baixar os preços das exportações da
zona euro e aumentar os custos das importações, reduzindo ou eliminando
os défices actuais da balança corrente dos países periféricos europeus,
uma vez que metade das transacções é feita com países exteriores à zona
euro. Um euro mais fraco também permitiria estimular as exportações e
aumentar os salários alemães, bem como subir os preços na Alemanha e
reduzir os desequilíbrios na balança comercial entre os países da zona
euro.
O aumento das exportações líquidas nos países periféricos
contribuiria igualmente para a subida do PIB nos mesmos, invertendo a
recessão provocada pela subida de impostos e pelos cortes na despesa
pública. Politicamente seria mais fácil alcançar a necessária
consolidação orçamental.
Acresce que a passagem de um contexto de recessão para um contexto de
crescimento faria crescer o emprego e as receitas das empresas,
reduzindo o volume de crédito malparado e o incumprimento no crédito à
habitação, que hoje afectam gravemente a banca.
A descida continuada do euro é um reflexo da percepção do mercado: o
euro tem de desvalorizar, caso contrário a zona euro implode. Os
investidores lembram a rapidez com que uma moeda pode depreciar. Dois
exemplos: o euro desvalorizou perto de 30% face ao dólar no espaço de um
ano, enquanto a libra esterlina depreciou 25% durante seis meses em
2008. Em suma, o euro poderá desvalorizar mesmo que o Banco Central
Europeu (BCE) não adopte medidas específicas. No entanto, se o BCE
enveredar por uma política monetária mais flexível, provavelmente vai
acelerar
a desvalorização do euro.
Hoje, como há 20 anos, estou convencido de que é um erro impor uma
moeda única a um grupo heterogéneo de países. A Europa carece de dois
aspectos fundamentais: mobilidade geográfica e transferências
automáticas dos estados ricos para os pobres - aquilo que permite que os
EUA operem com uma moeda única. Apesar da criação da zona euro ter sido
um erro económico, a sua dissolução é uma opção extremamente onerosa
para governos, investidores e cidadãos.
Uma zona euro resgatada teria, contudo, de enfrentar o problema
inerente à moeda única: uma política monetária desadequada em diferentes
países em momentos distintos. Mas é possível que os restantes problemas
do euro não perdurem. Primeiro, os mercados de obrigações não vão
deixar que governos e particulares se endividem em excesso, como
aconteceu na última década. Segundo, os países periféricos começam agora
a introduzir as reformas necessárias para reduzir as diferenças na
produtividade e nos custos unitários do trabalho, que muito contribuíram
para o agravamento dos défices comerciais. Seria importante dar uma
nova oportunidade ao euro, começar de novo.
* Professor de Economia em Harvard
Colunista do Financial Times
Tradução de Ana Pina
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
26/07/12
.
Sem comentários:
Enviar um comentário